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Aramis

Mamãe Lapa

No primero parágrafo de seu depoimento na revista programa, o autor Oraci Gemba já coloca claramente sua posição: "Essa peça não têm o menor interesse em ser histórica. Sou um artista e não um historiador. Como Shakespeare, como Sófocles ou como Brecht - estou interessado nos aspectos de uma determinada realidade histórica e fazer deles o meu ponto de criatividade. Sem isso, a arte insistência nesse aspecto seria indecoroso. Compromete o que se chama liberdade de criação". Em nome da liberdade de criação, Oraci Gemba, pela segunda vez, mistura ficção e realidade. Partindo de um dos mais gratos episódios da história paranaense, a resistência da cidade da Lapa as tropas de Gumercindo Saraiva, na Revolução Federalista de 1894, Gemba procurou construir uma peça de sentido político mais amplo - a conscientização, pela dor, de uma senhora aristocrata, que preferia o colaboracionismo à resistência, movida por interesses particulares. Antes da peça estrear, quando ainda estava em fase de ensaios, o próprio Gemba, admitiu, em conversa informal, alguma influência de "Os fuzis da Senhora Carrar", de Betoil Brecht, na construção desta personagem: a mãe que se recusa a ver os seus filhos na guerra. Justamente este é o enfoque capaz de dar a "O Cerco da Lapa" um interesse mais amplo - e não apenas uma épica montagem para entusiasmo das tradicionais famílias lapianas, já que a pretensão é levar a atual montagem em Brasília e outras Capitais, sob auspícios do MEC - o que não será difícil, por evidentes razões. Em "Maria Bueno", também partindo de um fato real - uma doméstica de vida irregular, assassinada por seu amante, adquire aureóla de santidade - Gemba também tentou criar um espetáculo de intenções políticas mais amplas do que os simples aspectos de formação de um mito popular. Apesar da beleza daquela montagem, que revelou Tonica, como uma das intérpretes de maior vigor do teatro paranaense ficou limitada num aparente hermetismo. Em "o Cerco da Lapa", trabalhando com um material muito maior em termos de interesse, Gemba não obtev, infelizmente, o mesmo resultado artístico no palco, talvez devidoa inexperiência de parte do elenco - do qual foi exigida difícil interpretação. Alguns personagens, a começar pela própria Clemência (Yara Sarmento), exigiam uma criação ao nível de uma Fernanda Montenegro, ou em termos locais, Lala Schneider. A vocação de Gemba para o musical mais uma vez faz com que a trilha sonora - criada pelo jovem compositor Luis Roberto Bastos Oliva, 22 anos, chegue a interferir em certas passagens, prejudicando, inclusive, o entendimento dos diálogos. Com a utilização de violino, viola, baixo, fagote, celo, percussão e até a participação especial de uma soprano (Maria Teresa de Castro), a música de Oliva é válida, ilustra bem certos momentos, mas é desperdiçada em outros. Criando um general Antonio Ernesto Gomes Carneiro (1846-1894) com grande força, discreto e firme, Emílio Pitta, é de longe, a melhor figura em cena. Ator que só nos últimos trabalhos teve o merecido destaque (na montagem de "El Grande de Coca Cola",no auditório Bugatti, já se destacava). Pitta conseguiu dar muito equilíbrio a uma interpretação difícil - fugindo aos exageros, que prejudicam muitos de seus colegas de elenco. Por exemplo, a entrada em cena da mulher de Tijucas (Vera Lucia Eifter) é simplesmente ridícula, chegando a toques de "comeddia dell'art". Outra figura admirável do elenco é Maria Cecília Monteiro, que como Mariana, a mulher do povo, estabelece uma fácil comunicação. E os elogios para Maria Cecília são duplos: os afinados solos de violino, em seus próprios arranjos, também são dela, já que é virtuose deste instrumento. Os veteranos Aristeu Berger, Sansores França e Aluízio Cherobim, compõe bons tipos - em diferentes personagens, destacando-se os dois últimos, na cena em que propõe, em nome do comércio curitibano, "A honrosa rendição a Carneiro. Esta é uma das boas passagens da peça. Entre as atrizes femininas, Gemba convocou várias jovens, muitas sem a experiência necessária, embora destaque: Marilyn Miranda, compõe uma "Maria Luiza", num tipo sofisticado, apesar de com uma elegância não convicente, considerando o clima da ação. Luis Afonso Burigo acumulou desta vez os cenários e guarda-roupa, saindo-se bem de ambas as funções.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
08/05/1976

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