Login do usuário

Aramis

A maravilhosa gaita de Toots

Enquanto o Barclay (ex-Ariola) está reeditando o melhor do jazz dos anos 50, através das excelentes etiquetas Fantasy, Milestone e Prestige, os tesouros jazzisticos da Decca americana ressurgem na básica Jazz Odissey, aqui produzida pela WEA – e que acrescentou, já no final do ano, dois fundamentais álbuns: o concerto da orquestra de Los Brown no Hollywood Palladium, em setembro de 1953 e "Bluesette", com Toots Thielemans. Jean (Toots) Thielemans (Bruxelas, Bélgica 29 de abril de 1922) é, reconhecidamente o melhor executante de Harmônica-de-bica da história do jazz. Além de um esplêndido guitarrista e compositor, que só por uma música ( "Bluesette") já ficará entre os mais significativos autores. No Brasil, seus admiradores mais velhos o conhecem desde a década de 50, quando aqui apareceram suas primeiras gravações. Mas, sem dúvida, o grande divulgador de sua obra foi o carioca Maurício Einhor (Moisés David Einhorn, RJ, 29/05/1932), que apaixonado pela harmônica-de-boca transformou-se no melhor executante deste difícil instrumento e, após anos de correspondência com Toots, e conheceu em Nova Iorque, há 10 anos. Tornaram-se em bons amigos e já por duas vezes Toots veio ao Brasil ( Em 1980, no São Paulo/Monterrei Jazz Festival, tocaram juntos). Hoje, aos 63 anos, com problemas de saúde, Toots está relativamente afastado do meio musical. Entretanto, sua obra gravada é grande e, felizmente, vem sendo editada no Brasil. Há alguns meses a Poligran lançou um de seus melhores elepês – após ter também colocado no mercado a histórica gravação que fez com a cantora Elis Regina (1945-1982), quando ela passou pela Holanda. Agora, na série Jazz Odissey, temos uma seleção de 12 excelentes temas gravados por Toots em duas sessões distintas. A primeira com a participação dos arranjadores Jack Andrews e Don Sebesky ("Sweet Georgia Brown", "Seet and Lovely", "Spanish Flea", "Makin Whoopee", "Bluesette", "Blue Lady" e "Cherokee"). A Segunda, ainda com arranjos de Jack Andre, traz um grupo básico de acompanhamento, integrado por Dick Hyman ao órgão, Herbie Hancock ao piano, Ron Carter no baixo e Ronnie Zito à bateria, enquanto Al Casamenti, Bucky Pizzarelli e Gene bertoncini se alternam na guitarra ritmica ("Oh Susannha", "I can't get strarzed", "By the time I get to Phoenix", "I'm beginning", "The good life"). Baseado em textos de Leonard Feather, em sua básica "The Encyclopaedia of Jazz", Luiz Carlos Antunes, produtor de um programa na Fluminense FM, oferece na contracapa algumas informações sobre Toots. Aos 17 anos, quando estudava matemática, começou a se interessar pela harmônica-de-boca. Durante a II Guerra Mundial sua família fugiu para a França, mas foi só quando retornou a Bélgica, em 1941, que teve oportunidade de ouvir o legendário Django Reihardt (1910-1953), outro gênio de um instrumento raro no jazz – o violino. Em 1942 comprou uma guitarra e aprendeu sozinho a tocá-la e, já em 1944, se apresentava nas cantinas dos soldados americanos aguartelados na Europa. Em 1947 visitou os Estados Unidos, em 1949 participou do Festival de Jazz de Paris e em 1950 integrou-se ao sexteto de Benny Goodmann, que percorria a Europa. Em novembro de 1951 emigrou para os Estados unidos onde, entre 1953/59 foi membro efetivo do suave quinteto de Goerge Shearing – com quem gravou muitos discos. Em fins de 1959 formou seu próprio grupo, gravando e fazendo muitas apresentações – especialmente na Europa. Foi na Escandinávia que gravou "Bluesette", pois Toots pensava numa for do campo muito comum na França. Com as harmonias blues acrescentou um "S". Ficou clássica a interpretação harmônica, guitarra e assovio – apoiada por cordas – neste registro com arranjos de Jack Andrews. O belo som de Toots tem sido ouvido também nas trilhas sonoras de alguns filmes marcantes como "Perdidos na Noite" (Midnight Cowboy, 69, de John Schlessinger), "Licença Para Amar Até A Meia Noite", (Cinderela Liberty", 73, de Mark Rydell) e "Os Implacáveis" (The Getaway, 73, de Sam Peckinpah) entre outros. Embora a harmônica tenha outros grandes virtuoses – larry Adler, Borrah Minervitch ("Antológica seu registro de "Always in my herart"), Leo Diamond e Les Thompson, Thieleman é, sem dúvida, o melhor de todos. E neste belíssimo elepê, a oportunidade de ouvi-lo no creme-do-creme em termos musicais. Um álbum indispensável!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
20/01/1985

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br