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Aramis

Mathis canta Ellington em momentos iluminados

Já não foi sem tempo! Os milhares de fãs de Johnny Mathis, 66 anos, que há mais de 30 admiram a sua voz aveludada, criadora de tantos sucessos marcantes, muitos dos quais embalados por imagens cinematográficas ("Tender is the Night", "Wild is Wind", entre outros), viam, com tristeza, o outrora glorioso cantor nascido em San Francisco entrar em rota de decadência, gravando standards desgastados e sucessos descartáveis nos habituais álbuns semestrais da CBS, gravadora da qual é contratado desde os anos 50. Felizmente, no ano passado, Johnny encontrou em Mike Berniker e Jay Lenderders produtores capazes de entendê-lo como grande cantor merecedor de um álbum a sua altura. O resultado foi "In a Sentimental Mood: Mathis Sings Ellington", que lançado no Brasil no finalzinho do ano, só neste primeiro trimestre teve divulgação e chegou às lojas, podendo, assim, já ser anotado como um dos fortes candidatos a entrar na lista dos melhores álbuns internacionais do ano. Tudo contribuiu para fazer deste "song book" um elepê de primeiro nível. De princípio, a feliz idéia dos produtores em revelar o lado lírico do maior nome do jazz, Edward Kennedy Ellington (1899-1974), o "Duke", habitualmente identificado apenas ao piano e a sua esplêndida big band - com uma discografia que ultrapassa os 500 itens, entre produções oficiais e, especialmente, as piratas que ellingtonianos de todo o mundo vivem a caçar. Em sua longuíssima e produtiva carreira, Ellington, compositor de mais de 50 clássicos da música americana, enriquecidos com letras de parceiros como os dois Irving - Mills e Gordon - o cantor Frankie Laine (que atuou algum tempo em sua banda), Mack David, etc., Johnny Mathis, com sua voz esplêndida, amparado em arranjos de Brad Dechter e Byron Olson, e atuando com um excelente grupo de instrumentistas - entre os quais o pistonista Bill Berry e o sax-barítono de Ronny Ross - dá um encanto todo especial a temas que mesmo sendo de outros compositores, ficaram eternamente identificados ao nome de Ellington, como o caso de "Lush Life", de Billy Strayhorn, o grande músico-arranjador que Ellington teve ao seu lado por mais de 25 anos, que lhe criou inclusive a música prefixo ("Take "The" a Train") e, postumamente, mereceu uma homenagem notável, no álbum "His Mother Called Him Billy", já editado no Brasil pela RCA/Ariola - um dos melhores álbuns de jazz disponíveis no mercado. Do filho de Duke, Mercer (que tenta manter a tradição paterna) é "Things Ain't what They Used to Be", numa passagem instrumental, recurso que se repete em "Perdido", "I Get it Bad and that ain't Good" (Duke / Paul Webster) e "Stating Doll". A sonoridade de Mathis utiliza ao máximo as modulações que dois standards dos mais conhecidos de Duke - "A Sentimental Mood" e "Solitude", enquanto que o romântico "Prelude to a Kiss", com a letra de Irving(s) Mill / Gordon - ressurge com um notável charme. Envolvente da primeira à última faixa, sonoramente brilhante, não poderia ser feita uma melhor homenagem ao romantismo jazzístico de Duke Ellington, num álbum-recuperação de Mathis, prova de que com um produtor e repertório acertados, pode sempre mostrar a sua melhor forma.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
07/04/1991

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