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Aramis

A melhor Verve do jazz com as teclas de Oscar e Gulda

Uma primavera jazzistica com a melhor notícia: a Polygram decidiu reeditar o catálogo da Verve Records, etiqueta criada por Norman Granz que, sem favor, reuniu, em certa fase, o que havia de melhor no jazz. Granz, 65 anos, é o grande produtor de jazz. Idealizador do Jazz At Philharmonic, responsável pelos melhores álbuns de artistas da dimensão de Ella Fitzgerald, Charlie Parker e Duke Ellington - para só citar três exemplos maiores, deixou um acervo notável quanto, ao vender o seu label para o grupo MGM, partiu para uma nova produtora - a igualmente fascinante Pablo, que recebeu este nome em homenagem ao seu amigo Pablo Picasso - responsável, inclusive, pelo logotipo. Se a Pablo está, infelizmente, há dois anos, sem representação no Brasil (o contrato que tinha com a Polygram venceu), a Verve Records vem sendo aqui editada de forma regular, mas agora, pelo visto, Cor Van Dyck, presidente da Polygram, decidiu ampliar os seus lançamentos. Tanto é que de uma só vez temos três álbuns da Verve: o histórico encontro de João gilberto, Stan Getz e Antonio Carlos Jobim nos dias l8 e l9 de março de l963; o clássico "Night Train" que Oscar Peterson gravou entre l5 e l6 de dezembro de l982 e "The Cat... ", para muitos, o melhor disco do organista Lalo Schifrin, Como se não bastassem estes três discos de jazz, há ainda no mesmo suplemento mais três excelentes produções: "Tristeza On Piano", também com Oscar Peterson Trio - gravado na Alemanha, há mais de l5 anos, para a Basf, o profundo "Down on the Deuce" com o saxofonista Hank Crawford e, especialmente, "Gulda Plays Gulda". Os dois álbuns de Peterson o trazem em sua melhor forma. Em fins de l962, seu trio era formado por Ray Brown, no baixo e Ed Thigpen, na bateria - e atingia o estilo mais intimista que o consagraria. No clima de uma jam session com toda a informalidade, o exato tipo do Jazz After Hours, Granz conseguiu perpetuar em estúdio sessões únicas que traduziram-se neste magnífico "Night Train", abrindo com o célebre tema de Forrest/ Washington/Simpkins e que prosseguiu com outros clássicos como "C Jam Blues", "Georgia on my mind", "Beg's groove", "Easy doest it", "Honey Dipper ", "Band Call", e encerrando com sua própria composição "Hymn to Freedom". Já 'Tristeza on piano" pertence a fase em que Oscar Peterson gravou uma série de álbuns para a Basf, quando aquela multinacional mantinha uma atuante etiqueta fonográfica. Durante suas temporadas na Alemanha Ocidental, na mansão de seu amigo Bruner-Schwer, Peterson , Sam Jones (baixo) e bob Durnham ( bateria) perpetuaram longas e informais sessões jazzísticas, com repertórios dos mais agradáveis. Das dezenas de horas que Brunner-Schwer teve o cuidado de registrar resultaram álbuns extraordinários que já tiveram três diferentes edições no Brasil. A princípio pela própria Basf, quando a multinacional testou o mercado fonográfico nacional. Desiludida com as perspectivas empresariais do setor - considerando o volume de faturamento dos outros negócios do grupo - a Basf transferiu os direitos para a Copacabana que, infelizmente sem a mesma qualidade técnica de prensagem, colocou no mercado inúmeros títulos do catálogo jazzístico da Basf, inclusive a série de Peterson. Agora é a Polygram quem edita "Tristeza on Piano", um dos melhores momentos da descontração de Peterson. Este disco foi gravado após a primeira excursão que o pianista canadense havia feito a América do Sul - com apresentação do Municipal de São Paulo- e traduz a admiração que sentiu pela música brasileira. Começa por Ter escolhido a bela composição de Netinho/Haroldo Lobo, "Tristeza" - sucesso do carnaval de l965 - para a faixa título e abertura do lado um, que encerra com outro tema da mesma temática (e título), o "Triste" de Antonio Carlos Jobim. Intercalando estes dois momentos brasileiros, "Nightingale"do próprio Peterson e um dos temas de "Porgy e Bess", de Gershwin. No lado 2, igualmente uma seleção primorosa: "You Stepped Out of a Dream" (Brown/Khan), "Watch What Happens" (Le Grand/ Garcia), "Down Here ont the Ground"(Schiffrin/- Gernett) e "Fly me to the Moon" (Bart/ Howard/Cypres). Friedrich Gulda ( l930) é identificado essencialmente com a música erudita. Concertista admirado mundialmente, com centenas de gravações de clássicos, este pianista alemão tem entretanto um grande entusiasmo pelo jazz. Há alguns anos, quando esteve no Brasil fazendo concertos de música erudita, Gulda surpreendeu ao decidir gravar em São Paulo, para a então atuante RGE, um lp de jazz. Esporadicamente, Gulda intercala seus roteiros de recitalista clássico para preciosas apresentações com jazz, alguns dos quais tem sido gravados. Agora, acontece um momento especial: um disco com as suas composições jazzísticas desenvolvidas nos anos 60 e 70. Uma atração especial: a participação de Chick Corea, 44 anos - com quem Gulda recentemente dividiu um belíssimo álbum gravado ao vivo - comparece no lado B para interpretar dois temas: os "Cantiga de Criança", números l9 e 20. Todos os temas têm a singeleza e harmonia de um grande intérprete, que, acima dos esquemas eruditos se volta as formas mais espontâneas da criação, seja nas "Variações" - ao longo de l3:l9 minutos, seja numa lírica "Sonatina".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
38
29/09/1985

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