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Aramis

Melodia Sentimental de Olivia Byington

Livre e transparente, surge no disco de Olivia Byington, "Novo, e com a minha cara", diz ela, cara feliz, com a tranqüilidade do artista que se encontra com sua essência que "cria por necessidade de criar", sem concessões, "como quem pinta um quadro, como quem escreve um poema". Melodia Sentimental, o LP é música de câmara. Requintado e popular. E conversa de poucos (e ótimos) instrumentos, recuperando o clima de recital que Olivia, com seu companheiro Edgar Duvivier no sax, levou dois anos a cantar nos palcos mais diversos, para casas cada vez mais cheias. "O público foi superfiel e me deu a maior força. Este disco é para este público. Há muito que Olivia Byington amadurece seu estilo de cantora pura. O vai-e-vem do mercado já contrapôs seu instrumento límpido e afinado às mais variadas parcerias sonoras, desde o rebuscado pré-instrumental/paranaense da barca do Sol (Corro o risco, Continental 78) ao rock sintetizado. Música Som Livre, 84, passando pela MPB cubana produzida em Havana por Silvio Rodriguez (Identidad, Som Livre 82). Em 83 e 84, cantou ao lado de Turíbio Santos, Paulo Moura e Clara Sverner no show-recital que virou o disco (Encontro, Kuarup, Troféu Chiquinha Gonzaga 84). Seu duo com Turíbio prosseguiu, e a semente camerística germinou. Mas o desabrochar veio mesmo com seu trabalho em Edgard Duvivier, saxofonista com formação (completa) em Berkeley, compositor sofisticado, vizinho atraente que atravessou a ruazinha do Cosme Velho para morar com ela e dividir seu palco. Ela cantou grávida até quase nove meses, até chegar Gregório (tem foto dele na contracapa). Fizeram muitos espetáculos no Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, em espaços desde o Masp até o Circo Voador. Quando chegou a hora do disco tudo já estava pronto. "É o som de nós dois", conta Olivia. Melodia Sentimental abre com duas das quatro composições de Edgar Duvivier. Estrela e Como um Rio, sobre poemas de Manuel Bandeira e Tiago de Melo. Mais adiante, nova gravação de Desassossego, parceria com Olivia originalmente para o disco do centenário de Fernando Pessoa produzido por outra Byngton a Elisa. E do outro lado três "livres adaptações", do Rubayat de Omar Kayam. "Minha música é meio cinematográfica, e o que estes poemas têm de comum é que são muito visuais", diz Edgar. E se tem uma "pra tocar no rádio", é Clarão, canção que Olivia Byington mandou para o Casaco por letra, e depois chamou seu grande amigo (e grande músico) "André D'Alma" Geraissati para acompanha-la ao violão. Dois outros velhos amigos e uma nova completam o elenco. Egberto Gismonti fez os teclados para sua (e do Geraldino Carneiro) Caravela, que abre primorosa, o lado B. Jaquinho Morelenbaum (ex-Barca do sol e atual diretor musical de Tom Jobim) pôs cello e teclados em quatro faixas. Tereza Madeira, superjovem pianista erudita que "sabe das coisas" e forma o trio permanente com Olivia e Edgar, está em sete das dez faixas. De repente, "não mais que de repente", o lado A termina falando de separação. Duas músicas contrastantes vanguarda e clássico, a separação cibernética em Secretária Eletrônica (Carlos Sandroni e Lu Medeiros) e a sublimada em Soneto da Separação, (miniobra-prima de Vinícius que Ronaldo Miranda musicou em 69). E depois de Caravela e dos Rubayat I, II e III, o lado B retorna mais uma feliz homenagem a Cartola (O Mundo é um Moinho e Acontece), só voz e sax, linhas melódicas unidas e vividas com rara beleza. E na última faixa, outra homenagem, agora ao mestre Villa-Lobos por seu centenário: Melodia Sentimental, a canção, letra de Dora Vasconcelos, tom original, só com piano. E assim termina Melodia Sentimental, o disco, som primoroso, piano Steinway gravado em digital por Otto Drechler, voz e outros instrumentos no Master Studio com Denilson Campos na mesa, produção de Luís Torreão. "De uma certa maneira, é como se fosse o meu primeiro disco", diz Olívia. "Nele recupero a idéia do que é essência. Através do trabalho com o trio, com tanto palco, alcançamos um aprimoramento total até a libertação. Está tudo supercerto de tudo que eu gosto. Uma cantora não precisa ser igual ao rádio, ou só fazer "MPB". Olivia Byington redefine a profissão de cantora popular. Ocupa, com requinte e musicalidade, um espaço estético que precisava ser preenchido.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
17
01/12/1987

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