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Aramis

A memória do Rio no filme premiado

A imagem fixa também pode resultar em bom cinema. Quem provou isto no XV Festival do Cinema Brasileiro de Gramado foi o médico psiquiatra e cineasta nas horas vagas José Inácio Parente, com seu belíssimo "Rio de Memórias". Vindo do Super 8, com várias experiências em 16mm, José Inácio e sua esposa, Patrícia Monte-Mór, realizaram um mergulho na memória visual do Rio de Janeiro, extraindo de mais de 70 mil fotos buscadas nos mais diversos locais, 327 que compõe os 33 minutos de "Rio de Memórias", média metragem, preto & branco, que ficou com três Kikitos em sua categoria: melhor filme, montagem (Luelane Corrêa) e pesquisa (Patrícia Monte-Mór). xxx José Inácio Parente conseguiu dar ao seu filme, composto só de imagens fotográficas, usando trabalhos dos principais profissionais que retrataram o Rio de Janeiro na segunda metade do século passado e nas três primeiras décadas do Século XX, um sentido lírico e até dramático, pautado com uma trilha sonora das mais entrosadas. Contando simultaneamente a história da fotografia e da cidade do Rio de Janeiro, entre 1840/1930, Parente mostra as principais transformações urbanísticas e sociais: o Rio de Janeiro em 1840 e a sua primeira fotografia, a Família Imperial, Dom Pedro II como fotógrafo, o trabalho escravo no campo, as fazendas e os fotógrafos ambulantes, o Rio de Janeiro de 1870, a Libertação dos escravos, feiras e vendedores ambulantes no centro, as bandas e os bairros populares, os imigrantes, demolições do centro e reurbanização no início do século, a burguesia, a moda e costumes, o início da industrialização e o conflito operário, as praias de 1910, o Carnaval de 1920 e uma sessão de cinema em 1930. Com originalidade, Parente trabalhou as fotografias com recursos de animação - graças à equipe formada por Carlos Marchand, Marcelo de Marsillac, Ronald Palatnik e Jacques Avoine, conseguindo mostrar a "evolução deste ofício mágico dos pintores de luz na sua incansável documentação dos costumes, dos tipos urbanos, das paisagens, da arquitetura dos movimentos sociais de sua época". xxx Cearense de Fortaleza, 42 anos, desde 1968 no Rio de Janeiro, José Ignácio Parente realizou em 1981 o seu primeiro documentário, "A Trama da Rede". Em 1985, seu curtíssimo filme de animação, "Acorde Maior", sobre uma caixinha de música, foi levado ao Festival de Berlim. Fez ainda "Com a Música na Mão" e, em 1984, documentou a festa do Divino, em São Luis do Piratininga, interior de São Paulo. Fazendo cinema nas horas de folga - e empregando em seus projetos os prêmios que tem recebido - Ignácio e Patrícia trabalham agora num média-metragem sobre a ilha mais alta do mundo - Taquile, num lado do Peru. O filme, ainda em fase de produção, e que já levou o casal por duas vezes àquele país terá possivelmente o título "A Ilha do Céu". xxx "Rio de Memórias", pela utilização inteligente e sensível que fez de 327 fotografias - entre material de nomes famosos como Malta, Marc Ferrez, Guttierrez, Henrique Klumb e Cristiano Júnior - é um filme do maior interesse a quem se liga em fotografias e preservação do passado. Ignácio se dispõe, inclusive a trazer o seu filme a Curitiba, para uma sessão especial, desde que o Museu da Imagem e do Som se proponha a organizar a sessão - que pode, tranqüilamente, ter o apoio cultural de uma das óticas da cidade para a cobertura das despesas (que são mínimas). LEGENDA FOTO - Ignácio Parente e equipe na realização de "Rio de Memórias", premiado média-metragem em Gramado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
09/05/1987

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