Merlim, um teatro em Rondon
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de outubro de 1974
Quais as perspectivas de realizar uma Semana de Arte numa cidade de 5 mil habitantes, perdida no extremo sudoeste do Paraná, a 800 km de Curitiba, praticamente isolada por semanas quando chuvas constantes tornam impossível o tráfego pelas precárias estradas que a ligam com o Sul? Para resolver esta questão, um jovem radiologista, Eros Merlim Trevisan, 23 anos, na cidade de Marechal Cândido Rondon há pouco mais de um ano, se propôs a responder com uma promoção destinada a movimentar culturalmente a pequena comunidade a partir do próximo fim de semana.
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Sensível ao teatro, música e cinema, com um ativo passado no teatro curitibano - experiência em fantoches e também algumas participações em peças montadas no auditório Salvador Ferrante, Merlim Trevisan tendo que residir, por motivos profissionais, no distante município, não aceitou o marasmo e limitações culturais da comunidade. Convidado a lecionar Iniciação Artística no Colégio Rui Barbosa, começou, pouco a pouco, a despertar nos jovens alunos o interesse pelo teatro, e, numa forma de laboratório de criatividade, orientado sem sofisticação mas aproveitando os próprios elementos culturais da região, foi montado um espetáculo - "No Reino Encantado", que terá três apresentações a partir de sábado, contando a história da fundação do município de Marechal Cândido Rondon, com uma área de 1.742,69 Km2, população total de 50 mil habitantes e que vem apresentando extraordinário desenvolvimento, em especial no setor de indústrias extrativas (27 serrarias em 1970) e produção agrícola.
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De colonização eminentemente alemã - inclusive na cidade reside a filha do prefeito de Berlim durante a II Guerra Mundial, e culturalmente isolada -, o município de Marechal Cândido Rondon tem, agora, com a [idealística] iniciativa do radiologista Eros Merlim Trevisan, a oportunidade de
ser despertado para a atividade de recreação artística até hoje inexistente na cidade, Merlim supreendeu-se que não houvesse um único ponto de encontro da população e assim abriu um bar que se constitui hoje no primeiro núcleo cultural. Situado entre Guaíra e Foz do Iguaçu, numa região a ser atingida pelo progresso irradiante no ciclo de Itaipu, Marechal Cândido Rondon está à espera de que Merlim - como o mágico da côrte do rei Arthur - consiga apoio necessário para levar a frente os seus projetos.
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