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Aramis

Mineiro esquecido é valorizado por Enéas

Embora radicado em Blumenau, onde ocupa hoje a promotoria da Vara dos Feitos da Fazenda e Acidentes do Trabalho, o sr, Enéas Athanázio mantém uma intensa ligação com Curitiba, nos meios intelectuais. E pessoalmente sempre tivemos satisfação de registrar seus trabalhos, como contista de méritos, já com dois livros publicados (<< O Peão Negro >>, e << Azul na Montanha >>, Editora do Escritor, São Paulo), além de trabalhos avulsos em várias revistas. Durante os anos que foi promotor em Canoinhas, SC. Athanázio aproveitou para aprofundar suas pesquisas de uma região ainda não suficientemente descrita em livros - e que começa a ter em seus textos, um narrador de nível. Mas o interesse de Athanázio não fica apenas na ficção. Crítico, ensiaste e pesquisador, foi o primeiro intelectual a se aprofundar na obra de um escritor mineiro tão importante, quanto esquecido: Godofredo Rangel (Três Corações, 22/11/1884 - Belo Horizonte, 4/8/1951). De Canoinhas, Athanázio conseguiu reunir informações, levantar dados e obter documentos inéditos sobre este escritor que por 40 anos manteve uma grande correspondência com Monteiro Lobato e deixou uma obra pequena, mas importantíssima: << a Bbarca de Gleyre >>, << Vida Ociosa >>, << Falange Gloriosa >> e << Os Bem casados >>. E o entusiasmo de Athanázio por Rangel não é isolado: com a publicação do estudo biográfico << Godofredo Rangel >>, outros admiradores do autor mineiro apareceram. Um deles, Nelson Barbalho, pernambucano de Caruaru, poeta, jornalista e conquista, dedicou nada menos que uma plaqueta - << Athanázio, Lobato e Rangel >> (edição do autor, 1980), para destacar a importância do estudo que Athanázio fez. Para barbalho, o estudo de Athanázio << é destes tão interessantes que, começada a leitura da primeira página, o leitor somente largará a obra chegando à última. E pede releitura, exige mediração. Athanázio tem o dom de mexer com várias pedras sem nenhuma lhe atingir a cabeça, o que vem revelar seu marabalismo mato, no bom sentido da palavra, anote-se, malabarista em termos literários. Quando quer, faz crítica como um Álvaro Lins, meu conterrâneo de saudosa memória, e, quando lhe dá na veneta, escreve regionalismo como um Mestre Graça, isto é, retrata os gerais catarinenses tão bem quando retratava Graciliano Ramos as caatingas alagoano-nordestinas. Agora, com amestria habitual, dá um de biógrafo e produz o livro que já fazia falta na estante nacional - a história do viver semi-anônino do homem difícil de ser evidenciado que era Godofredo Rangel. Vai ao fundo do poço, revolve o lodo do esquecimento, usa gancho e da prospecção em que outros teriam fracassado, sem assinar contrato de risco e sem nada, extrai o petróleo rangeliano, ou rangeliano, como prefere dizer, através do qual, com mãos hábeis de estilistica eclético, faz luz e cinzela ou remodela a personalidade imperecível de corpo inteiro, do grande imortal da Academia Mineira de Letras que foi Godofredo Rangel. Rangelista do papo-amarelo como é, eleitor-de-cabresto do legitimo. Êneas Athanázio, no biografar Godofredo Rangel, junta a fome com a vontade de comer, entregando-se de corpo e alma a tarefa gloriosa de exaltar os valores intrinsecos de um escritor cujo único defeito era o de ser excessivamente modesto - tão modesto e tão tímido que, realizando autênticas obras-primas, era o primeiro a esconde-las do respeitável público, como se fossem monstruosidade ou frutos criminosos. Suas cartas ao amigo Lobato, necessárias à complementação de << A Barca de Gleyre >>, até hoje, muitos anos após a morte do autor, permanecem inéditas, a pedido seu, por excesso de modéstia ou de timidez. Na biografia agora editada - edição de gala, por sinal, capa simpaticissima, belo trabalho da Gráfica Editora 73. Curitiba/1977 - Rangel encontrou o biógrafo ideal. Êneas Athanázio, justo, preciso, polivalente, atento aos mínimos detalhes da personalidade biografada; e lá de riba, do discreto cantinho de céu onde por certo repousa pedindo desculpas pela imortalidade conseguida, deve estar rindo macio, satisfeito com o livro que triplamente traz seu glorioso nome na capa. Bom seria que com descendentes em manifestar-se através de sessão espirita, baixasse a terra utilizando um Chico Xavier qualquer e, mesmo, em fugaz mensagem, desse ordem de publicação de sua parte com << a Barca de Gleyre >>, até aqui um aleijão por sua única e exclusiva culpa - e Rangel não era homem de construir aleijões. Isso seria duplamente bom: pela divulgação da correspondência rangeliana durante 40 anos e pela comprovação da vida do lado de lá da cerca >>. No final de seu estudo, o pernambucano Barbalho é entusiástico em torno do escritor catarinense, que nem conhece pessoalmente: << Enéas Athanázio é um escritor excelente e o Brasil ainda muito terá de falar sobre ele e sua notável bagagem literária. Voto nele para escritor do ano, democraticamente como os Xavantes, e torno o seu oportuno estudo sobre o tímido e suave Rangel uma espécie de meu livro de cabeceira, homenagem sincera maior do anônimo leitor para um autor publicado e já consagrado. Viva a pátria e chova arroz! Também falei e disse >>.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
26/07/1980

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