Moraes, o som mestiço para as três Américas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 15 de fevereiro de 1987
É verão. É fevereiro. O sol brilha mais do que nunca no Nordeste e portanto a época é da música quente desta rapaziada que faz uma música que mistura origens afro com outras tendências. Um exemplo desta geléia geral é o novo disco de Morais Moreira ("Mestiço É Isso", CBS), que em seu lançamento, há mais de um mês, na Praça Castro Alves, em Salvador, reuniu mais de 50 mil pessoas.
A CBS, hoje com a política de ter um reduzido cast nacional capaz de vender bem do Oiapoque ao Chuí, sabe que Morais Moreira, a exemplo de outros artistas nordestinos, estréia primeiro na Bahia e adjacências para depois chegar ao Sul. Faixas como "Sinfonia", a mais catituada do disco - que rotulada de brega, balada, controvertida e estourando do Norte a Sul. Moraes a define como um "iê-iê-iê do Interior. Porque lá em Ituaçu a gente ouvia Bossa Nova e Jovem Guarda no rádio, lado a lado, e do mesmo modo. E ninguém vai me dizer que "Quero que Vá tudo pro Inferno" não é música popular brasileira...".
Num caprichado texto para o release promocional do disco, a jornalista Ana Maria Bahiana fala da "baianidade" de Moreira - que diz:
- "Eu estava e estou assim, no meio das gerações da Bahia. No meio dessa coisa assim altiva que é a música da Bahia, que tem seus sentimentos próprios, seus gostos especiais, seus ritmos, sua paixão rítmica. Entre João (Gilberto), Caetano Veloso, Gilberto Gil e Luiz Caldas. Um elo nesse cordão".
E o cordão não poderia ser mais baiano: com participações especiais de Gilberto Gil ("Salvador é um Porto Seguro"), Luiz Caldas em "Pernambuco, Jamaica e Bahia (Todo Canto)" e Caetano Veloso em "Bloco do Povo". Mas nem só de baianos vive Morais Moreira, que mais uma vez recorreu ao seu amigo, o poeta polaco-curitibano Paulo Leminski, letrista de "Manifestos" e "Morena Absoluta".
Aos 39 anos, Antônio Carlos Moraes Pires, ex-Novos Baianos busca cada vez mais uma música que sem deixar de ser brasileira pode conquistar outros países (a Jamaica e outros países do Caribe estão em seu próximo roteiro internacional). Como escreveu Pedro Rúbio, da revista "Isto É" (21/01.87), "Mestiço É Isso" é o disco mais carnavalesco de Moraes e no qual procurou misturar todos os ritmos, do reggae ao afoxé, com uma influência mais diluída do frevo. Um disco alegre, comunicativo e participante. Enfim, uma espécie de carta topográfica de emoções, desejos, memórias e projetos".
LEGENDA FOTO - Morais Moreira: "Sintonizando" faz sucesso.
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