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Aramis

MPB-4, 30 anos resistindo com samba de nossa terra

Um recorde, sem dúvidas! 30 anos de atividades musicais sem nenhuma substituição. Existem conjuntos vocais mais antigos, é verdade, mas estes ou sofreram mudanças ou, devido a morte de parte de seus integrantes, praticamente se afastaram da vida musical, como os Titulares do Ritmo (formado em 1941, por um grupo de ginasianos, todos cegos, que se conheceram no Instituto São Rafael, em Belo Horizonte). OS Demônios da Garoa, formado em São Paulo, em 1943, e que por décadas identificou-se ao trabalho de Adoniran Barbosa (João Rubinato, 1910-1982), além de mudanças, ultimamente tem pouco trabalho devido a idade de seus integrantes. Dentro da história dos grupos vocais brasileiros - tema a espera ainda de uma pesquisa de fôlego (pena que o Projeto Lucio Rangel, que estimulava anualmente quatro grandes estudos tenha acabado), o MPB-4 é um caso especial. Desde o início dos anos 60 - mas, organizadamente a partir de 1962, quando começaram a se apresentar, ainda como trio no Centro Popular de Cultura da UNE - Rui (Alexandre Faria, Cambuci, RJ, 1938), Aquiles (Rique Reis, Niterói, 1949) e Miltinho (Antônio José Wagabi Filho, Iatoraca, RJ, 1945) vem desenvolvendo um trabalho da maior dignidade e competência musical. Se deficiências físicas (a cegueira) uniram os garotos do Titulares do Ritmo, 21 anos antes, no caso dos rapazes do MPB, foi uma profunda consciência política-ideológica que os fez manterem-se firmes, corajosos, enfrentando os mais duros anos da repressão. Não é sem razão que por muitos anos, quando Chico Buarque era cassado brancamente pelos órgãos de repressão, o MPB-4 mantinha-se firme ao seu lado, divulgando suas canções - bem como de outros intérpretes (como Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro, em "Pesadelo") que diziam, entre 1964/78, aquilo que os homens da Ditadura não queriam ouvir. Só esta coerência ideológica-política já faz com que, aos 30 anos de carreira, o MPB-4 esteja como um exemplo maior da música brasileira. Entretanto, examinando-se a imensa discografia do grupo - a partir do primeiro compacto que fizeram ("Samba Bem") de Luís Souza, etiqueta Sarau, 1964), temos uma verdadeira antologia da canção brasileira - não só de compositores participantes, a chamada música de protesto (termo errado, já que ultrapassou a modismos) mas do próprio cancioneiro que sempre souberam interpretar. Mais de 20 elepês, milhares de shows no Brasil e Exterior e sempre unidos, superando divergências, dificuldades e crises ocasionais, faz com que este conjunto mereça sempre ser ouvido/aplaudido com o maior respeito. Nos últimos anos, seus discos tem sido registros dos shows que levam pelo país afora, mas sem com isto prejudicar a qualidade. "Sambas da Minha Terra" (Sigla/Som Livre), produção de Roberto Menescal, com arranjos vocais e instrumentais de Magro, participações de músicos como Fernando Merlino (teclados), Jacaré (baixo), Rubinho e Paschoal Meireles na bateria; Reginaldo Vargas e Barney na percussão e o próprio Menescal no violão é um documento do Samba. Abrindo com "Brasil de A a Z" e encerrando com uma irônica montagem que incluiu quatro satíricas composições relativamente recentes, o repretório passa por 17 grandes momentos de autores com Caymmi (no primeiro bloco), Tom, Gil, Assis Valente, Paulinho da Viola, Zé Keti, Caetano, Adoniran, entre outros compositores tão admiráveis quanto são os jovens cinqüentões (ou quase) deste grupo- símbolo da resistÊncia musical (e política) verde-amarela. FOTO
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
26/04/1992

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