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Aramis

As muitas faces da sensibilidade

Domício e Leila Pedroso, que há dez anos passados montaram a grande retrospectiva em homenagem a Poty, trabalham há meses para a coordenação técnica da mostra "Poty, o Ilustrador" (Solar dos Leões, Avenida João Gualberto, 570 - inauguração dia 24, terça-feira, 20h30; aberta a visitação pública a partir das 14h do dia 25, até o dia 17 de junho). Cassiana Licia Lacerda Carolo, professora de Literatura Brasileira na Universidade Federal do Paraná, condenou a mostra do ponto de vista literário, numa análise profunda da interrelação ilustrações-textos, entre mais de uma centena de livros por ele ilustrados. De uma obra imensa, que ultrapassa os três dígitos, foram selecionados 92 títulos dos mais expressivos, entre os maiores nomes da literatura brasileira que tiveram suas obras ilustradas por Poty a partir de 1943, quando fez seu primeiro trabalho - "Lenda da erva-mate sapecada", de Hermínio Cesar Borba. Sintetizando num fundamental roteiro a relação do Poty ilustrador com o universo literário, Cassiana assina um didático texto do catálogo - completado com uma apreciação de Antônio Houaiss e uma apresentação do advogado Eduardo Rocha Virmond, que como membro do conselho cultural do Solar dos Leões, fala dos objetivos deste espaço criado pela IBM. xxx Frente a multiplicidade de trabalhos desenvolvidos por Poty a partir de 1843, Cassiana optou pela divisão da exposição em módulos. - Seria impossível levantar todos os trabalhos de Poty, muitos dos quais ele mesmo esqueceu. Assim, optamos por uma escolha dos livros em que há mais do que o simples capista e sim o ilustrador integrado ao texto. O referencial informativo se completará com o terminal em computador, inclusive no computfoto com centenas de ilustrações e reproduções de capas de obras criadas pelo artista paranaense. xxx Oito grandes módulos sintetizam as várias fases e visões de Poty Ilustrador. O primeiro deles - A Ilustração nos Periódicos Literários - enfatiza a colaboração sintetizam as várias fases e visões de Poty Ilustrador. O primeiro deles - A Ilustração nos Periódicos Literários - enfatiza a colaboração de Poty Na "Folha Carioca" (1944), "O Jornal" e "Diretrizes". Depois, no Paraná, sua participação na revista "Joaquim" (1964-1948), para quem ilustrou a maior parte dos textos deste período. O módulo que reúne "Imagens da Brasilidade" resulta da série de ilustrações para as obras dos grandes regionalistas: Euclides da Cunha, José Américo de Almeida, Rachel de Queiroz, Gilberto Freyre, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Mário Palmério, José Cândido de Carvalho, Márcio de Souza (inclusive inéditos, para uma futura edição de "Galvez"), Bernardo Elis, Humberto Salles etc. Guimarães Rosa constitui uma unidade à parte. Explica Cassiana: - Neste caso além do vigor das ilustrações sugeridas pelo texto rosiano há que se valorizar a simplificação decisiva que orienta os desenhos retrabalhados a partir da 11ª edição de "Sagarana". Outro módulo é "Xingu: Índios e Mitos", com trabalhos que fez para ilustrar livros dos irmãos Cláudio e Orlando Villas Boas e "Maíra", de seu amigo Darcy Ribeiro. A Tradição Popular é outro módulo, "os mitos e lendas que integram o imaginário do povo, com presença tão forte em sua obra" diz Cassiana, que explica outro módulo "Visões Urbanas", como o cotidiano do homem da cidade, o trabalho, o lazer, representado nos personagens de obras de João Antônio e Alcântara Machado, por ele ilustrados. Já em Curitiba de Poty, presente nas ilustrações dos primeiros textos de Dalton Trevisan e culminando no trabalho conjunto com Valêncio Xavier ("Curitiba de Nós" e "Trocando Figurinhas"), que, através do flagrante do dia-a-dia de sua cidade, Poty chega a simplificação decisiva. Um dos enfoques mais interessantes da exposição é a mostra daquilo que Cassiana chamou de "A Sedução pelo Fantástico" - e no qual Poty, leitor de Poe, Kafka, Jack London, Melville - reflete em trabalhos recentes como as ilustrações para a obra completa de Machado de Assis (iniciada em 1988, pela Garnier/Itatiaia), autor de quem já havia ilustrado "4 Contos" para uma rara edição dos Cem Bibliófilos. Finalmente, um último módulo - "Processo de Criação" - no qual, através de esboços, estudos, pesquisas e de caminhos que vão da história em quadrinhos (que, em 1940, já havia no jornal "O Dia"), passando pelas ilustrações de reportagens, chega-se ao que Cassiana classifica de ponto culminante "de uma busca inquietante geradas pelo impasse entre a imagem e a palavra": "Visita do Velho Senhor", conto sem texto que, seu amigo, Valêncio Xavier, com direção do cineasta paulista Ozualdo Candeias, transformou num filme de 12 minutos, que em vídeo, estará sendo projetado também durante a exposição, em sala paralela.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
22/05/1988

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