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Aramis

Música

Se existe um artista brasileiro de real prestígio na Alemanha Ocidental ele é o violonista Baden Powell. Em qualquer das lojas de discos das cidades daquele país existe ao menos um lp do "brazinan guitarrist" e em agosto último, quando ali estivemos, "Solitude on Guitar", produção de Joachim E. Berendt, tendo como assistente o maestro Júlio Medaglia, gravado em 10 e 11 de dezembro de 1971 no Studio Waldorf, era o disco de destaque. A revista "Scala Internacional", publicação alemã editada em vários idiomas, dedicou reportagem, num de seus números recentes, ao "Escoteiro da Música", onde inicia dizendo que "o nome de Baden Powell de Aquino, violonista e compositor de 34 anos, que para os amigos da música na República Federal é "o mais belo artigo de exportação do Brasil", desperta o interesse dos historiadores pelas suas possíveis ligações com Powell, chefe do movimento escoteiro brasileiro. E em seguida há uma afirmação assustadora: o fato de Baden ser seu filho valeu-lhe muitos amigos a mais na República Federal da Alemanha. Sobretudo por ele próprio ter aqui se tornado para o público dos concertos "um escoteiro no campo musical". A absurda afirmação do redator da Scala, a atribuir a paternidade do violonista nascido em Varre-e-Sai, uma pequena povoação do Estado do Rio, a 6 de agosto de 1937, ao fundador do Escotismo, não invalida, entretanto, as palavras simpáticas dedicadas ao artista brasileiro, que começou a estudar violão aos oito anos, com Jayme Florence e aos 13 já se iniciava no profissionalismo. Hoje, aos 36, 29 de carreira, dezenas de discos gravados no Exterior - o que justifica o fato de diferentes gravadoras periodicamente lançarem seus lps no mercado (ainda agora a Imagem, de Jonas Silva, está editando uma gravação que fez em Paris), embora no Brasil, grave exclusivamente para a Phonogram - Baden pode orgulhar-se de ser um dos raros artistas brasileiros da faixa popular que têm todas as portas (mesmo as mais eruditas) abertas ao seu gênio criador. E em dezembro, Baden voltou novamente a Alemanha, para uma longa temporada iniciada em Frankfurt onde fez um novo lp na CBS alemã, sua atual gravadora, ao mesmo tempo em que cumpre extenso programa de shows em teatros e universidades. E assim, enquanto ele faz na Alemanha um novo disco, a CBS brasileira decidiu-se, afinal, a editar o lp ali gravado há exatamente 2 anos: "Solitude On Guitar" (CBS, stereo 137817). Produzido por um crítico e record-man respeitadíssimo por todos os jazzófilos como Joachim Berendt, autor de várias (e importantes) ensaios sobre jazz, este é um dos melhores lps já feitos por Baden em sua longa carreira. Acompanhado em algumas faixas exclusivamente pelo baterista brasileiro Joaquim Paes Henriques e, em outras, com a participação do contrabaixista alemão Ebrhard Weber, Baden demonstra toda sua criatividade num repertório em que funde clássicos da MPB - como "Por Cauda de Você" e "Se Todos Fossem Iguais a Você" - e da música americana - "The Shadow Of Your Smile" (Johnny Mandel) a composições próprias, algumas quase inéditas: "Chará", "Marcia, Eu Te Amo", "Na Gafieira do Vidigal", "Fim da Linha", "Brasiliana", "Solitário", um arranjo em torno de uma canção tradicional alemã ("Kommt ein Vogel Geflogen") e fora uma magnífica "Introdução" ao "Poema dos Olhos da Amada" de Vinícius.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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17/01/1974

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