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Aramis

A música de Carnaval (I)

O Carnaval inicia oficialmente no sábado e até agora são poucos os foliões capazes de cantar ao menos uma música feita pra a festa deste ano. Dizer que não há música nova é mentira: os álbuns das duas sociedades [arrecadadoras] de direitos autores apresentam nada menos que 391 músicas, e mesmo considerando a inclusão de sucessos do passado, quase 300 são sambas e marchas gravados para o Carnaval-75: O volumoso álbum do SDDA (Serviço de Defesa de Direito Autoral), que engloba os compositores filiados a UBC - SBAGEM - SADEMBRA, saiu este anos com 277 músicas, enquanto a bem organizada SICAM, que funciona desde 1960, editou 92 músicas. Alcebiades Silva Pinto, 42 anos, 8 de Sicam, diretor da agência do Paraná desde 1972, aponta a falta de divulgação nas rádios como principal causa do declínio das novas músicas carnavalescas. Sua Sociedade, este ano vem fazendo o possível para tornar conhecidas as novas composições: está distribuindo uma coleção de 3 lps e dezenas de compactos com as músicas e, vem trabalhando junto aos regentes de orquestras e conjuntos para incluírem em seus repertórios as novas músicas, fazendo enfim o que é possível e necessário para que não se ouça nos bailes apenas as marchinhas de Lamartine Babo e João de Barro - Alberto Ribeiro, autores dos maiores êxitos da chamada época de ouro do Carnaval brasileiro, ou seja os gloriosos anos trinta. Evidentemente, 99% das novas músicas que aparecem a cada ano com a esperança de caírem no agrado do povo e serem cantadas de Norte a Sul, não resistem a menor análise crítica. De harmonias pobres e indigentes versos, procuram traduzir problemas do cotidiano ou assuntos do momento - em paródias pouco inspiradas. Há evidentemente, algumas exceções, como a marcha-frevo de Luiz Melodia, "A Festa é Nossa", gravada em selo Som Livre, que se destaca no pobre universo da música carnavalesca. Mas para um Luiz Melodia, há dezenas de compositores como os anônimos Walda e Tom, que tentam aparecerem com sátiras como "A Marcha do Cachorro", menção ao insuportável Waldick Soriano e seu "Eu Não Sou Cachorro, Não", onde o refrão é isto: "Não voi sair daqui/ Daqui não saio não / Eu também sou gente / Eu não sou cachorro não". Este ano surgiram também marchas ufanistas como "Brasil Maravilha" (Bobby Hilton, Jotagê e D. Teixeira, gravação de Carlos Gonzaga) e "Brasil Você é Jóia" (o mesmo Bobby Hilton), gravação Titulares do Ritmo). As sátiras não perdoaram nem Caetano Velloso: "Olhar de Lagartixa" de Lindomar Castilho, gravado pelo próprio diz em sua estrofe: "Ah! Esse cara tem /7 Olhar de Lagartixa / Conheço demais sua ficha".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
02/02/1975

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