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Aramis

A música de Caymmi e o humor de Vieira

Em fevereiro último, quando de passagem por Curitiba, ao receber a comunicação telefônica de Herminio Bello de Carvalho, de que havia sido escolhido para participar do Projeto Pixinguinha, em dupla com Luís Vieira, o flautista e compositor Danilo Caymmi surpreendeu-se. Embora admirando o autor de "Menino de Braçanã", não via muitos pontos que permitissem uma maior identificação no trabalho, capaz de resultar num espetáculo de grande comunicabilidade. Entretanto, confiante no taco de Herminio e também na competência do diretor escolhido para o espetáculo, o paulista Fernando Faro, Danilo acreditou e topou fazer o projeto. E não poderia ter tomado uma atitude mais acertada. xxx A reunião de Danilo e Luiz Vieira (Guairão, até sexta-feira, 18,30 horas, ingressos a Cr$ 15,00), se constitui, sem dúvida, em outro dos bons momentos desta segunda fase do Projeto, Pixinguinha, que, em 1978, no roteiro-sul, vem tendo infelizmente, alguns momentos desiguais. Apesar dos quase 20 anos de diferença na idade e distanciamento geográfico - Danilo, carioca, filho de baianos; Luis Vieira, pernambucano de Caruaru, Fernando Faro conseguiu realizar um espetáculo enxuto, agradável e divertido. Para isso usou aquilo que tanta falta faz a muitos produtores: a simplicidade. Deixou Danilo à vontade no palco, para que mostrasse suas novas músicas, parcerias com a esposa Ana Terra, João Carlos Pádua e Ronaldo Bastos, gravadas em seu lp independente ("Cheiro Verde", etiqueta Ana Terra, a venda do hall do Guaíra a Cr$ 80,00) - como "Juliana", "Aperta Outro", "Botina", "Ponta Negra" e "Cadajás". Danilo, basicamente um flautista-compositor, mas também correto violonista e com uma voz personalíssima, afinada, relembra ainda seus dois maiores sucessos, premiados em festivais de MPB nos anos 60: "Casaco Marron" (Juiz de Fora, e Andança" (parceria com Eduardo Souto/Paulinho Tapajós, parte nacional do FIC, Rio de Janeiro). xxx Luís Vieira, com sua cancha de muitos anos de televisão e milhares de quilômetros de shows Brasil afora, mescla suas intervenções com a emoção de suas belíssimas canções "Menino de Braçanã", "Inteirinha", "Paz do Meu Amor", "Garantia da Luz Nova" e a antológica "Menino Passarinho", com momentos do melhor humor, levando o público a gargalhadas estridentes. Musicalmente, Vieira é admirável pela sensibilidade de suas músicas, com clássicos como "Menino de Braçanã" (1954) ou "Menino Passarinho" (1962), eternamente identificadas com seu estilo de cantador do Nordeste. Mas como entertainer, que sabe usar o bom humor com competência, tira bom partido de outras musicas, como "Forró do Tio Augusto" e a paleolítica "Rato, Rato" (Casemiro Rocha/ Claudino Costa, 1917). Uma homenagem a época dos Festivais é feita com a incandescente interpretação de "Ponteio" (Edu Lobo/ José Carlos Capinam), destacando então a participação de seu filho, Dango, na viola. Instrumentistas seguros, como o experiente Fernando Leporace no baixo, mais Cid de Freitas (percussão e bateria), Raimundo (piano e guitarra), Tony Martins (violão acordeão) e Edilson (bateria), complementam este espetáculo, simples e brasileiro, realizado com segurança por Fernando Faro, sem dúvida um homem que sabe dosar bem tudo aquilo que faz musicalmente no palco ou no disco.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
31/05/1978

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