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Aramis

A música de Plenizio, o novo Rotta para Fellini

Um (entre tantos) aspectos que fez muitos espectadores assistirem mais de uma vez a "E La Nave Va" foi a sua trilha sonora. Especialmente o público que curte o bel-canto apreciou muito a banda sonora deste filme de Federico Fellini, que em estréia nacional em Curitiba após um mês de exibição, tem agora suas últimas sessões no cine Itália - hoje em horários normais - e amanhã somente às 14 e 16 h30min. - já que á noite, ali haverá a pré-estréia de "Fanny e Alexandre", de Ingimar Bergman (em lançamento comercial a partir de quinta-feira). Durante anos os filmes de Fellini estiveram ligados a imagem sonora de ino Rotta, falecido aos 68 anos, em Roma, a 10 de abril de 1979 - deixando uma obra marcante e maravilhosa. xxx Quem é o novo compositor escolhido por Fellini para criar as trilhas sonoras de seus filmes? Chama-se Gianfranco Plenizio, tem menos de 40 anos e já a quem o considere "O novo Nino Rotta". Não que seu estilo se pareça muito com o do grande compositor que ao morrer, há 15 anos,, deixou a música do cinema sem um de seus mais ricos e atuantes criadores, Plenizio é apontado como substituto de Rotta, porque ocupou a partir de "E La Nave Va" um lugar que durante quase 30 anos foi exclusivo de Nino. Afinal, nunca foi novidade que Fellini sempre deu importância toda especial à música de seus. Na verdade, mais do que simples background, trechos musicais para acentuar certas passagens da ação ou caracterizar personagens e emoções, a música em muitos de seus filmes atuou, "representou", como os próprios atores. "Em "Prova d'Orchestra"- até hoje inédito no Brasil - o papel da música está bem nítido. Ou melhor plenamente assumido, já que em filmes anteriores, como "Oito e Meio" ou "A Doce Vida" e principalmente Amar-cord"(reprisado no último fim de semana no Groff) a música também representou - só que sem que o espectador o sinta de forma tão clara. Por coincidência, foi "Prova d'Orchestra" o último trabalho que Fellini e Rotta realizaram juntos, já que o compositor morreria quando o filme estava em fase de montagem. Encerra-va-se uma parceira única na história do cinema, de um diretor que desde 1950, quando realizou seu primeiro filme, só trabalhara com um compositor: Nino Rotta. Foram 15 obras de estreia colaboração, entre curtas e longas-metragens, documentários e especiais de televisão. Foi Rotta, portanto, quem criou o "som de Fellini", o espírito musical da obra do diretor. xxx Em "A Cidade das Mulheres", realizado em 1980, a música foi escrita pelo jovem compositor Luís Enrique Bracalov - de íntimas ligações com alguns compositores brasileiros, especialmente Toquinho. Mas a partitura de Bacalov - embora belíssima - soara como um papel carbono de tudo que Rotta fizera para Fellini. Agora, com "E La Nave Va" o público conhece Gianfranco Plenizio, regente, arranjador, compositor, já com alguma reputação nos meios musicais italianos. Um dos discípulos preferido de Franco Ferrara, também apaixonado por cinema e, evidentemente, fã de Fellini, este foi o seu primeiro grande trabalho no campo. E nada parecido com as partituras originais de Rota, mesmo porque o filme tem particularidades- ou exigências- muito próprias em relação à música. "e lA NAVE Va" é uma alegoria feliniana sobre uma Europa em decadência às vésperas da I Guerra Mundial. A ação de passa no interior de um navio que transporta uma companhia de ópera e várias personalidades, num ato final em homenagem a uma Diva do bel-canto: a cerimônia das cinzas de seu corpo serem jogadas ao redor de uma ilha grega. Fato, aliás, inspirado no último desejo externado pela cantora Maria Callas, morta em 1967. Plenizio utiliza temas de óperas famosas. Verdi e Rossini, principalmente, mantendo suas linhas melódicas, mas mudando-lhes os andamentos, as orquestrações as harmonias, obtendo com isso uma sonoridade intencionalmente disforme. Explicou: -Fellini não gosta de recostituições. Em lugar delas, ele prefere as deformações. O resultado é excelente, de grande força e funcionalidade. Como os que obtinha Rotta só que sem soar como Rotta.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
17/07/1984

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