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Aramis

A música na Semana

Hoje, ainda, o acordeonista, compositor e cantor Dominguinhos (José Domingos de Moraes, 32 anos) pode ser aplaudido no Auditório Bento Munhoz da Rocha Netto, ao lado de Nara Leão, no último espetáculo desta segunda dupla do Projeto Pixinguinha; Fonograficamente, Dominguinhos tem seu ultimo trabalho (lp "O Xente!", Fontana/ Phonogram, 6470588, abril/78), em discussão pelos integrantes do Conselho de Musica Popular, agora com Nilson Phol, interessado exclusivamente em som pop, na vaga aberta com a voluntária renuncia de Antônio Carlos Rocha (revista "TV- Programas"). Acordeonista desde a infância, legitimo sucessor de Luiz Gonzaga, seu amigo e protetor durante muitos anos, Dominguinhos conseguiu ter o seu trabalho reconhecido por uma faixa jovem de consumidores, ao trabalhar com os gurus do grupo baiano (Caetano, Gil, Gal Costa) e, principalmente, ao ter o seu belo "Eu Só Quero Um Xodó" lançado nacionalmente na voz agradável de Gilberto Gil. Dominguinhos é um acordeonista de imensa competência, com um balanço que sem fugir das raízes nordestinas oferece um sabor nacional, o que explica-e justifica - a fácil aceitação que vem obtendo mesmo no Sul. "Ó Xente!" nos parece bastante superior, instrumentalmente, aos dois elepes anteriores de Dominguinhos na Philips - e é uma pena que a CBS, onde Dominguinhos fez uma serie de discos (etiqueta Cantagalo), antes de ser descoberto pelo grupo baiano, não os reedite, pois isso permitiria comparar a evolução de seu trabalho. Dominguinhos, moço simples talentoso, brasileiro em sua sanfona e suas músicas, sempre em parceria com Anastácia, oferece aqui onze composições próprias - e uma homenagem a Ratinho (saudoso companheiro da dupla Jararaca), com um arranjo para o acordeon de "Saxofone Por Que Choras?". As novas músicas de Dominguinhos/ Anastácia, neste seu novo lp são "Doidinho, Doidinho", "Quebra Quenga", "Nossa Senhora da Conceição", "Vou Com Você", "Esfola Bode", "Ó Xente", "Eu Me Lembro", "Espivatadinho", "O Sertão Te Espera", "Chorinho Pro Egidio Serpa" e "Saudade Matadeira". xxx Nara Leão, a sensível e querida interprete, caso raro na musica brasileira - há 16 anos, cada vez com um público e mais fiel, apesar de não fazer qualquer concessão e se manter relativamente afastada das badalações (e selva) artística, ouviu, ontem à noite, em reunião que promovemos, alguns compositores da cidade. Embora não esteja ainda com seu novo disco definido ("Meus Amigos São Um Barato", seu último lp, pela Philips, está vendendo bem), ela quer reunir material que possa valorizar seu novo álbum. Mulher inteligente e independente, de atitudes sinceras e honestas, Narinha nunca aceitou as "igrejinhas" da musica popular. Em 1962, quando todas a viam como a "musa" da Bossa Nova, surpreendeu ao escolher composições de Cartola Zé Keti, Nelson Cavaquinho - então esquecidos e anônimos, em seu primeiro lp na Elenco. Toda sua discografia é das mais dignas sempre com musicas do maior nível. A oportunidade de ouvir novamente Nara, acompanhada pelo grupo de choro Os Carioquinhas (onde o grande destaque é o violonista Raphael), foi uma das melhores coisas deste mês. xxx Pena que a timidez de Maurício Einhorn, um músico de tanto talento quanto (imerecido esquecimento), o tenha afastado do Projeto Pixinguinha. Pois o bom Maurício, tão estimado em vários círculos musicais do Brasil, seria o instrumentista ideal para dividir com a jassistica vocalista Leny Andrade, os melhores momentos do espetáculo que inicia segunda-feira no Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto. Afastada do meio musical há alguns anos, Leny é uma cantora da maior criatividade vocal, que nos anos 60 lançou muitos temas da Bossa Nova, sempre com seus "scats"(cantos sem letras), numa característica única. Também afastada das gravadoras, Leny deverá voltar em breve, com novo lp. xxx Formando dupla com Leny, temos o simpático Emílio Santiago, cantor da belíssima voz, que veio preencher um espaço vazio na vida artística brasileira. Depois de um primoroso elepe de estréia na CID, Emílio passou para a Phonogram: explorado comercialmente no primeiro elepe, onde só fez regravações, agora, em seu último disco. Emílio começou a se firmar também em termos fotográficos. E evita ser assim um cantor descartável. Sua voz é muito bela e merece musicas a altura - e não apenas a reprodução de "Standards" já desgastados em tantas outras interpretações. xxx Hoje, em nosso Conselho, colocamos também em votação dois importantes elepes, com musicas de origem rural: "Romaria" com Renato Teixeira (RCA Victor) e "Longe de Casa" com Rolando Boldrin (Chantecler). Discos brasileiríssimos, com gosto da terra. "Mudança de Tempo", com o grupo O Terço, é um trabalho interessante deste grupo que deixando as limitações da música pop vem se firmando com musicas bem desenvolvidas e solucionadas. "Mode", álbum duplo lançado pela ABC/ Phonodisc, reúne uma síntese do melhor da obra do competente Quincy Jones, compositor e arranjador de grande voltagem. xxx A viagem que o grupo Passport fez pelo Brasil, há dois anos, sob auspícios do Goethe Institut, o animou a dedicar seu último elepe ("Iguacu", WEA Discos) ao nosso País. E a faixa-titulo do disco foi "Iguaçu", uma vigorosa composição do líder do grupo Klaus Doldinger, que entra hoje em análise nesta página. "No One Remember My Name", de Burt Bacharach/ Hal David, colocada em destaque em seu recente concerto, no Guaíra, e incluída em seu último lp ("Future/AdM/Odeon), também merece atenção. No panorama nacional, temos ao lado do agradável bolero "Bijuterias" de João Bosco/ Aldir Blanc ( promovido bastante com sua utilização na abertura e encerramento da telenovela "O Astro" (Rede Globo, 20 horas), a visão (sociológica?) de Odair José sobre "O Divorcio" (depois de ter cantado a pílula) e o mineiro-paranaense Paulo de Paula em suas lamurias de "Quarto de Mansão", que gravado num compacto simples da RGE já vendeu quase 200 mil cópias. Afinal. Paulo de Paula, bom rapaz, simples e humilde, tem todo o direito de disputar o mercado de Nelson Ned e Agnaldo Raiol. Por que não?.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Fim de semana
3
21/04/1978

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