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Aramis

A música (realmente) brasileira

Patrimônio maior da memória musical brasileira, Paulo Tapajós, 62 anos, mais de 50 de vida artística - começou cantando quando garoto, ao lado de seus dois irmãos e nunca mais se afastou do mundo musical - tem hoje uma grande preocupação: o levantamento das músicas regionais de casa Estado. Independente da qualidade artística, mas olhando basicamente a autenticidade, Paulo quer aprofundar o chamado "mapeamento musical" projetado por Marcus Pereira e do qual já resultaram as fundamentais coleções "Música Popular do Nordeste" e "Música Popular do Centro-Oeste/Sudeste". Há algumas semanas, em Porto Alegre, onde foi fazer conferências, Paulo recolheu excelente material sobre a música popular gaúcha, com ajuda do folclorista Paixão Cortes e o resultado foi um programa especial, que será transmitido domingo, em rede nacional, dentro de sua produção no Projeto Minerva em Curitiba, Paulo está interessado em ouvir música paranaense, e não compositores (urbanos) do Paraná, para, se possível, desenvolver um programa semelhante. Evidentemente, que para tal projeto há necessidade de pesquisas demoradas, viagens ao Interior, capazes de resultarem em material amplo, do que ainda resta de puro, autêntico, em nossas raízes musicais. Afinal, os múltiplos subfestivais de música popular, realizados em cidades do Sudoeste e Norte do Paraná, tem apresentado resultados que justificam estudos sociológicos do colonialismo cultural que estamos sofrendo. Compositores apresentando letras em (péssimo) inglês, guturalmente interpretados, com macaquices que chegam até a androgenia do tal de Ademir da Silva, de Jandaia do Sul, conforme noticiamos nesta coluna há duas semanas. Com exceção do extinto Festival de Música de Londrina (que Cleto de Assis, pretende reformular a partir deste ano), todas as promoções musicais ocorridas no interior, normalmente com gordíssimas verbas oficiais, não tiveram até agora o menor critério cultural, muito pelo contrário, incentivando o aparecimento de péssimos intérpretes - normalmente com repertório em inglês, e compositores distanciados de sua região, de sua terra. Uma pesquisa sobre a marginalizada, desprezada e hostilizada música sertaneja (ou caipira), teria, em termos culturais, muito maior importância, do que todos os festivais de música popular realizados sazonalmentte em pequenas cidades - que nada trazem para a preservação de nossa memória sonora, de nossos ritmos e vivência sociológica. Paulo Tapajós, durante mais de 30 anos uma das "almas" da Rádio Nacional, o maior intérprete de Catulo da Paixão Cearense, dono de um dos 3 melhores arquivos de MPB no Brasil, vice-presidente da Associação dos Pesquisadores de MPB, pai de Dorinha (do Quarteto em Cy) e dos compositores Paulinho e Maurício, tem uma posição clara e definida sobre este problema gravíssimo da cultura nacional. Profundamente consciente, quer motivar o MEC, sobre estes aspectos esquecidos de nossa memória musical - tão necessitada de fosfato.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
15/08/1975

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