Na Cabral, o triângulo em que se perdiam de amores
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de maio de 1991
"Um grande destaque na noite curitibana foi o chamado Triângulos das Bermudas onde, literalmente, desapareciam maridos e noivos a exemplo do que acontecia naquele trecho geográfico que se notabilizou pelo sumiço de aviões e de navios. Por ali funcionava, também além do bar Stuart, o Graceful da Elvira, ponto de muito faturamento garantido pelas belas mulheres que se renovavam no calendário noturno. Era gerenciado pelo Vitório, alto, forte, de modos rudes escondendo grande bondade, tendo como maitre Luizinho e Pinguim (*) como atencioso porteiro.
Mais adiante o "Luigi S" reunia freguesia selecionada nos altos escalões do governo, servindo um picadinho de carne até hoje sem igual na cidade, devorado com fundo de música de fita. Mulheres executivas ali esticavam expediente, funcionando a casa na base de um endereço mais fechado.
O Manhattan, na Praça Carlos Gomes, exagerava nos preços e garantia refinamento na frequência liderada pelo empresário e esportista de tantas histórias, o Jofre Cabral e Silva, que entre outras coisas sacudiu a provinciana Curitiba estruturando o clube de campo Santa Mônica, um grande sucesso até os dias de hoje.
E com o correr dos dias e das noites, é claro, novos endereços faziam a diversão do curitibano. Na esquina da Alameda Cabral com a Rua Padre Anchieta, anos depois, o Táxi Shop que logo se notabilizou por cenas de brigas e que garantiu funcionamento não muito longo pois os tempos eram de noites tranqüilas. Nas imediações do tradicional colégio Santa Maria abria as portas o 1310, sala de conversas amenas sob a direção de Sandra e Blanca (**), descentralizando ainda mais o movimento notívago que ia se concentrando pelas imediações da Praça Osório.
Notas
(*) Só com uma demorada pesquisa, seria possível contar o que aconteceu com os personagens citados nas reminiscências de Enock. Muitos já morreram, outros deixaram Curitiba e alguns mudaram de profissão. As belas e alegres jovens da época, em muitos casos, encontraram seus príncipes encantados e hoje são tranqüilas avós. Mas ao menos um dos tipos mais populares do Triângulo das Bermudas (expressão que , frise-se, não existia na época), da Alameda Cabala, em sua primeira quadra, ainda continua em aatividade, embora tendo trocado o clima de uma boate pela de uma movimentada pizzaria: é o querido Pinguim (Nelson Micelli Visdeskosqui), que aos 54 anos, ganha a vida como o guardião do estacionamento do Forninho, no bairro do Juvevê.
(**) O 1810, localizado na loja do prédio ocupado pela Sharp, teve como primeiro proprietário o Paulista (Nelson Silva), que foi também o último dono do antigo Moulin Rouge, que se chamou no final de Jane 2. Ele tinha uma sócia, a bela Ediluz, já viúva de Paulo Wendt - assassinado no interior da boate Marrocos na madrugada de 25/10/1966. Após sua morte, a Marrocos teria curta vida: administrada por Ediluz e os irmãos de Paulo - Amarelinho (que também foi dono de casas noturnas) e Hilda, seria fechada alguns meses depois, quando o ator Jardel Filho, vindo a Curitiba para a estréia nacional de "O Sr. Puntilla e o Seu Criado Matt" de Brecht, ali tomou um pileque, achou que estava sendo roubado na conta e reclamou. Leões-de-chácara o jogaram escada abaixo, o fato ganhou manchetes nos jornais e apesar da simpatia com que o delegado Miguel Zacarias tinha pela casa, a ordem veio do Palácio Iguaçu: a boate tinha que ser fechada. O simpático Paulo Wendt, se estivesse vivo,não teria permitido a violência. E como o fechamento da Marrocos, praticamente uma fase na nossa vida noturna acabou.
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