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Aramis

Na Cinemateca, a fase alemã do mestre Lubitsch

A generosidade do Goethe Institut proporciona que os cinéfilos possam conhecer a partir de hoje nada menos que 11 filmes da primeira fase do cineasta Ernst Lubitsch (Berlim, 29/1/1892-Hollywood, Los Angeles, 30/11/1947). Considerado como o mestre da comédia sofisticada, Lubistch é nome estranho às novas gerações. Seus filmes - tanto os que fez na Alemanha como os que dirigiu nos Estados Unidos - inexistem em vídeo e, salvo engano, nenhum deles foi apresentado pela televisão. Assim, a Retrospectiva Ernst Lubitsch (Cinemateca do Museu Guido Viaro, de hoje a 2 de abril, 20h30min) é uma oportunidade rara de se conhecer os seus primeiros filmes. Rubens Ewald Filho, em seu "Dicionário de Cineastas" - que merecerá em breve uma reedição, ampliada para dois volumes - diz que o mestre da comédia sofisticada é "muito imitado, mas até hoje ainda inigualado". Foi o grande diretor do subentendido, da sugestão elegante, da frase brilhante. Fez escola. Entre seus discípulos, Billy Wilder - hoje aos 82 anos, aposentado - e Otto Preminger (1906-1985), que era seu assistente e amigo e o substituiu quando ele, vítima de enfarte, morreu durante as filmagens de "A Condessa se Rende" (That Lady in Ermine, 1984), com Betty Grable e Douglas Fairbanks Jr. Há dois anos, os pesquisadores A. C. Gomes de Mattos e Sérgio Leonam, publicaram um livro em que estudaram, demoradamente, as obras de John Huston, Fred Zinnemann e, especialmente Ernest Lubitsch (edições Cinemin, 1986). Mattos e Leonam mergulharam na obra de Lubitsch, trazendo interpretações em torno de cada uma de suas obras e situando-o, historicamente, na evolução do cinema mundial. Dotado - como Alfred Hitchcock, Orson Welles e René Clari - de um estilo bem definido e do poder de se expressar através do Cinema puro, Lubitsch foi um dos mais representativos cineastas emigrados da Alemanha que ajudaram a desenvolver a indústria de Hollywood nos anos 20/40, preocupando-se sempre em agradar o público. Dizia há 50 anos, numa entrevista: - Jamais perdi de vista, durante minha carreira, esta idéia de que um filme deve evitar ao máximo situações e concepções que só podem ser apreciadas e compreendidas por uma parcela determinada e limitada de espectadores. Ou seja, Lubitsch, hoje cultivado nas Cinematecas, assumiu sempre um cinema comercial. Mas o requinte, o bom gosto, a inteligência fizeram com que seus filmes permanecessem. Pois tanto nas farsas curtas e grandiosos espetáculos históricos da fase alemã, como nas sofisticadas comédias americanas, predominou a intenção do entretenimento. Na retrospectiva que o Goethe traz a Curitiba se poderá conhecer sua fase alemã - ficando de lado os filmes que se realizaria nos Estados Unidos, a partir de 1923 ("Rosita", com Mary Pickford). A mostra inicia, nesta terça-feira, com um filme em que é apenas ator: "O Orgulho da Firma" (Der Stolz der Firms, 1914), direção de Carl Wilhelm. Na época, Lubitsch fazia comédias ligeiras - as chamadas "lustpiele" - passadas no meio pequeno-burguês, interpretando tipos cômico-burlescos judeus, como o caixeiro rústico e ladino, Siegmund Luchmann, neste filme de 63 minutos. O segundo programa (amanhã, 20h30min) é o "Palácio de Calçados Pinkus" (Schuhpalast Pinkus), 1916, no qual fez a direção. Este filme marcou a primeira colaboração importante com Hans Kraly, responsável pelo roteiro, juntamente com Schonfender. Além de dirigir o filme, Lubitsch interpretou o personagem Solomon (Saly) Pinkus, um estudante preguiçoso que preferia andar atrás de garotas em vez de cumprir os deveres escolares. Expulso do colégio, vai trabalhar numa sapataria, onde seu fraco pelas mulheres quase lhe é fatal. Depois conquista o coração de Melitta (Else Kenter), uma bailarina que lhe emprestara dinheiro para abrir sua própria loja de calçados. Na quinta-feira, a projeção de "A Múmia" (Die Augen Car Mumie), produção de 1918, meio drama de terror sobre uma dançarina de um templo egípcio, Má (Pola Negri - que se tornaria depois, nos EUA, uma das musas do cinema americano) que se apaixona por um pintor inglês, Alfred Wendeland (Harri Liendtke) e era obsessivamente perseguida por Radu (Emil Jannings), um sacerdote fanático. Wendeland casa-se com Má e a leva para a Inglaterra, mas Radu os segue e lá a mata. O filme, com roteiro de Kraly e Emil Rameau, estabeleceu a reputação de Lubitsch como diretor dramático e o revelou como aluno de Max Reinhardt, cujas revolucionárias invenções no teatro adaptou ao Cinema. Inaugurou, também a carreira alemã da atriz polonesa Pola Negri que Reinhardt descobrira em Varsóvia e importaram para a encenação da pantomima "Sumurun" no Detusches Theatre, e dava a Emil Jannings seu primeiro grande papel. A retrospectiva prosseguirá com "Carmem", também de 1918, na sexta-feira - estando previstos para o final de semana "A Princesa das Ostras" (sábado, 26) e "Madame Dubarry" (27, domingo). Cada um destes filmes marca uma nova escalada na carreira de Lubitsch - e merecem, inclusive, novos registros que faremos ao decorrer da semana. LEGENDA FOTO - Pola Negri e Lubistch
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
1
22/03/1988

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