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Aramis

Na mensagem do 'selvagem' reflexão para ecologistas

Um tema para merecer uma análise mais profunda de editores de publicações especializadas em comunicação (<< Propaganda >>, << Revista de Marketing >> etc): transcrição de certas mensagens ecológicas, filosóficas e religiosas que pessoas publicam, pagando o alto custo da centimetragem, em veículo nacional. Especialmente no << Jornal do Brasil >>, em páginas nobres, com leitura garantida, aparecem constantemente textos que justificam até uma reflexão. Na semana passada, a propósito da << Semana do Meio Ambiente >>, R. Pinto - Material Elétrico Ltda. (Rua General Caldwel, 171, RJ) mandou transcrever uma carta que um chefe indigena enviou, ao governo dos EUA, em 1855, quando a União pretendia comprar terras dos nativos. Em tradução de Roberto Tâmara, a carta - ainda atualíssima - tem sido invocada pelos ecologistas, especialmente em alguns de seus trechos: << Como podes comprar ou vender o céu ou a tepidez do chão? A idéia não tem sentido para nós. Se não possuímos o frescor doar ou do brilho da água, como podeis querer comprá-lo? A límpida água que percorre os regatos e os rios não é apenas águas, mas o sangue de nossos ancestrais. O mergulhar das águas é a voz dos nossos ancestrais. Qualquer folha de pinheiro, qualquer praia, a neblina dos bosques sombrios, o brilhante e zumbidor inseto, tudo é sagrado na memória do meu povo. As flores perfumosas são nossas irmãs. Os gamos, os cavalos, a majestosa águia, todos são nossos irmãos. Os picos rochosos, a fragrância dos bosques, a energia vital do Pônei e o homem, tudo pertence a uma só família. Assim, quando o Grande Chefe em washington manda dizer que deseja comprar nossas terras, ele está pedindo muito de nós; mas, se vendermos nossas terras, deveis conservá-la à parte, como sagrada como lugar onde mesmo um homem branco possa ir sorver a brisa aromatizada pelas flores do bosque. O ar que nossos avós aspiraram ao primeiro vagido foi o mesmo que lhes recebeu o último suspiro. O homem branco parece não se importar com o ar que respira. Como um cadáver em decomposição, ele é insensível ao mau cheiro. Nas cidades do homem branco não há lugar onde haja silêncio, paz; um só lugar onde ouvir o farfalhar das folhas na primavera; o zunir das asas de um inseto. Talvez seja porque sou um selvagem é que não possa compreender. O Barulho serve apenas para insultar os ouvidos, E que vida é essa onde o homem não pode ouvir o pio solitário da coruja ou o coaxar das rãs à margem dos charcos à noite? O índio prefere o suave sussurrar do vento esfrolando a superfície das águas do lago, ou a fragrância da brisa purificada pela chuva do meio dia ou aromatizada pelo perfume das pinhas. Deveis ensinar a vossos filhos que o chão onde pisam simboliza as cinzas de nossos ancestrais. Ensinai a eles o que ensinamos aos nossos: que a terra é a nossa mãe. Quando o homem cospe sobre a terra, está cuspindo sobre si mesmo. A terra não pertence ao homem branco: o homem branco é que pertence a terra. O homem não tece a teia da vida: é antes um de seus fios. O que quer que faça a essa teia, faz a si próprio. Ofender a terra é insultar o seu Criador. Os brancos também passarão; talvez mais cedo do que todas as outras tribos. Contaminar a vossa cama e vos sufocareis numa noite no meio de vossos próprios excrementos. Se decidirmos aceitar a venda, faremos com uma condição: o homem branco terá que tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos. Tenho visto milhares de búfalos apodrecerem nas pradarias, abandonados pelo homem branco que neles atira de um trem em movimento. Sou um selvagem e não compreendo como o fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante que o búfalo, que nós caçamos apenas para nos mantermos vivos. Não compreendemos como será no dia em que o último búfalo for dizimado, os cavalos selvagens domesticados, os secretos recantos das florestas invadidos pelo odor do suor de muitos homens e a visão das brilhantes colinas forem bloqueadas por fios falantes. Onde está o matagal? Desapareceu Onde está a água? Desapareceu. O fim do viver e o início do sobreviver >>. xxx Para quem se deu ao trabalho de ler o texto acima, é bom só observar o seguinte: passaram-se 125 anos desde a sua redação. Feita por um chefe indígena americano. Qualquer semelhança com os fatos de nosso dia-a-dia não será mera coincidência.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
17/06/1980

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