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Aramis

Na praia deserta, a proteção do Litoral

Com uma das menores faixas de litoral, o Paraná já tem praticamente ocupada todas suas praias. Se até os anos 40, chegar a Matinhos ou, principalmente, Guaratuba, era uma aventura de dois dias, hoje todos os espaços à beira do Atlântico estão não só ocupados como ultravalorizados. Mesmo as praias menos atraentes, sem oferecer enseadas ou qualquer proteção maior, foram loteadas e estão repletas de construções - muitas inclusive erguidas sem planejamento, contribuindo para uma autêntica poluição do litoral. A partir de Pontal do Sul - o ponto mais próximo da Ilha do Mel (cuja visitação turística está crescendo cada vez mais, com centenas de pessoas - especialmente jovens - ali acampado neste verão) até a divisa com Santa Catarina, não teria restado nenhuma praia do Paraná em que não chegasse a especulação imobiliária - muitas vezes até predatória. O tempo condicional do verbo justifica-se: há ainda uma praia no Paraná que permanece virgem do homem e, aos que conhecem - raras pessoas - seria uma das mais belas do Brasil. 40 km adiante de Guaraqueçaba - que apesar da precária ligação rodoviária, continua a ser o município mais abandonado do Estado - existe uma praia imensa, com areias brancas, ondas capazes de entusiasmar a qualquer surfista e que nem sequer ainda foi batizada. Os poucos que a conhecem a chama de "Praia deserta" ou "Praia distante", na falta de uma designação melhor. Seu acesso só é possível por mar - e exige habilidade e conhecimento do condutor da embarcação para ultrapassar os múltiplos perigos que oferece. Algumas poucas famílias de pescadores residem nas proximidades e mesmo fotografias da área são raras. xxx O trecho entre Antonina a Cananéia, na divisa do Paraná / São Paulo, é o único da BR - 101 - a grande longitudinal que cobre toda a costa brasileira, de Natal (RN) a Rio Grande (RS), que não está construindo e nem consta das prioridades do Plano Rodoviário Nacional. Com a duplicação da BR-116, - e a existência de outras ligações alternativas, na região norte do Estado, com São Paulo, construção da BR-101, no Paraná, não pode ser considerado prioritária, já que pelas características da região, seria uma obra de custo imenso - impossível d ser feito nesta difícil fase em que o Brasil atravessa. Se de um lado, não faltam razões que podem levar defensores de sua construção reivindicarem que a mesma não fique totalmente esquecida, por outro lado, em termos de ecologia e preservação do meio ambiente, a inexistência da BR-101, no trecho do Paraná e parte de São Paulo, representa uma proteção a uma das poucas regiões ainda salvas de uma devastação total. Pois, quando existir a ligação entre Antonina - Guaraqueçaba - Cananéia, dali atingindo Iguape, já em São Paulo e prosseguindo até Peruíbe (onde a BR-101 já existe), numa extensão a Itanhaem, Manguaguá, São Vicente e Santos, obviamente, toda a região que hoje permanece virgem da especulação imobiliária - e ainda mantendo muitas características naturais - será, sem dúvida, destruída. Em toda a extensão do litoral norte do Paraná, entre Antonina - Cananéia, há poucas praias - e, a mais bonita delas, é a que se chama até agora, de "praia deserta". Wilson Rio Appa, "duble" de escritor e homem do mar, que durante muitos anos viveu em Antonina, foi dos primeiros a se entusiasmar com a beleza do local, mas, felizmente, entendeu também que mantê-la intacta do contacto poluitivo do homem-turista-veranista, é a melhor forma de reservar, se possível para a geração do ano 2.000, um pouco de natureza. Ninguém é contra o conforto, o aproveitamento das belas praias, dos espaços naturais. Mas o homem, em sua "capacidade" predatória, em pouco tempo, destrói e compromete aquilo que a natureza levou séculos para fazer. Se a Ilha do Mel, mesmo protegida por ser área da marinha, a exemplo de outras ilhas do nosso litoral, já começa a ser destruída, imagine-se o que aconteceria com a "ilha deserta", se o seu acesso fosse facilitado. Por enquanto, ela permanece em sua veleza solitária, somente apreciada por quem ali consegue chegar. O que não é fácil, graças a Deus!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
6
15/01/1980

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