Nana Caymmi, 2 lps em 10 anos (apesar do nome)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de agosto de 1975
Parece impossível! Dorival Caymmi, mais de cem gravações, entre 78 rpm, compactos e elepes. Seus filhos: Dory, um único (e maravilhoso) elepe; Danilo, flautista, compositor, nenhum lp como solista (embora participação em dezenas de discos gravados a partir de 1963); Nana, filha mais velha de Caymmi, um elepe em 1965 e, dez anos depois, a chance de fazer seu segundo disco. Isso aconteceu agora, como um dos destaques nesta temporada. Produzida pelo pianista Durval Ferreira e seu mano, Dorim que também se encarregou dos arranjos e regência, Nana fez um senhor disco na pequena, brava e admirável Companhia Industrial de Discos, da família Zuckermann. Um disco saudoso com todo o merecido entusiasmo.
Nana é personalíssima em suas interpretações, Canta como ela é. Uma mulher liberal, que assume sua própria vida, seus riscos, suas paixões dando-se de muito coração. Um crítico paulista (Oswaldo Mendes, UH 1o/7/75) lembrou Silvinha Teles, a propósito do equilíbrio, vitalidade interior e sentimento que Nana deu nas dez faixas deste elepe. Realmente poucas vezes ouvimos um disco de tanto feeling, quanto Nana conseguiu dar nas dez diferentes músicas que compõe o repertório e harmonioso, Milton Nascimento, ao violão e no contra-canto e Tom Jobim ao piano, participaram de duas faixas: "Ponta de Areia" (Milton/Fernando Brandt) e "Canção em modo Menor" (Antonio Carlos Jobim). Em "Ponta de Areia", "Branca" (Danilo Caymmy/João Carlos Padua) e "Beijo Partido" (Toninho Horta), Toninho executa violão acústico, Novelli baixo e Robertinho bateria; em "Só Louco" - justa homenagem ao papai Dorival - Danilo está na flauta e Ivan Lins ao piano.
Finalmente em "Acorda Que Eu Quero Ver" (Dafé), "Tens" (Calmaria) (Ivan Lins/Ronaldo Monteiro de Souza), "Vire Essa Folha do Livro" (Vinicius de Moraes), "Canção em Modo Menor" e "Saudade" (Dorival Caymmi/Fernando Lobo), a formação instrumental foi de Toninho no violão, Robertinho na bateria, Tenorio no piano, Danilo na flauta e Novelli no baixo. Afora estes destaques instrumentais, mais a orquestra de cordas de Peter Daulsberg para completar um elepe de muito amor, da melhor mpb - segundo disco de Nana Caymmi em doze anos de carreira. E 35 anos de música, pois afinal quando ela nasceu Dorival fez uma de suas obras-primas: "Acalanto".
Bendito nascimento!
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