Login do usuário

Aramis

Nas labaredas morreu a época da "Bugatti"

Com o incêndio da Boate Bugatti (esquina das ruas 24 de Maio com Avenida Sete de Setembro), no último fim de semana, desaparece, em definitivo, mais um endereço que fez parte da noite curitibana nos últimos 15 anos. Inaugurada como sofisticada casa noturna, destinada ao público classe A, a Bugatti foi envelhecendo e decaindo, com o passar dos anos, terminando com um "inferninho" de terceira categoria, constantemente visitada pela Delegacia de Costumes. Um destino melancólico e diferente daquele com que sonhava seu fundador, o cantor lírico Edson Bertoldi - vítima também de uma tragédia pessoal há alguns anos. Foi na Bugatti luxuosa e sofisticada do início dos anos 70 que a cantora Maysa Monjardim, acompanhada pelo pianista Luísinho eça, fez uma de suas melhores apresentações na cidade. Outros bons nomes da MPB também ali estiveram no tempo em que [Bertoldi] dirigia a casa. Apaixonado pela música, riquíssimo, não se importava em bancar prejuízos, desde que artistas de classe viessem cantar na Bugatti - que até o nome já procurava uma identificação com a sofisticação européia do início do século. Com o afastamento de Bertoldi, a casa passou para a cantora Zizi Burnier, bela francesa que aqui residiu algum tempo. Associada a Oracy Gemba e ao grupo Momento, Zizi abriu as portas da casa para uma experiência interessante: a encenação da comédia "El Grande de Coca Cola", que, após permanecer anos em cartaz na Broadway, havia sido trazida ao Brasil pelo cineasta e produtor Luís Sergio Person (1936-1976). A experiência de Zizi e Gemba, em fazer da Bugatti uma espécie de casa noturna, com espetáculos teatrais, não durou muito tempo. E, após a saída da cantora da direção, outros arrendatários se sucederam na exploração do local, mas já buscando faixas mais populares de público. Nos últimos seis anos, a casa chegou até a mudar de nome. Na euforia da "discotheque" e aproveitando o sucesso de uma telenovela, foi adotado o nome de "Dancing Days". Reformada há alguns meses, a casa havia voltado ao nome original, embora com uma [freqüência] bem definida em outra categoria social. Eventualmente, algum show artístico com artistas bregues, competindo, assim, na mesma faixa de casas como "Roda Viva", "Viva a Noite" e "Viva Maria", que formam um circuito de endereços para a boemia pesada da cidade. A Bugatti se foi nas chamas do incêndio. Dificilmente será reconstruída como casa de shows. Em compensação, nos próximos dias será inaugurado o Palace, aproveitando as instalações do Clube Atlético Paranaense, um investimento de bilhões de cruzeiros, que pretende ser uma espécie de "Canecão" local. Pelo menos, essa é a intenção de seus empreendedores - que há 60 dias vêm fazendo ampla campanha promocional da nova casa, sem, entretanto, até agora, dar maiores detalhes.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
15
11/10/1985

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br