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Natal carnavalesco sai da lenda para chegar à tela

Desde ontem, além das câmeras de televisão e vídeo-teipe também modernas unidades de 35mm estão documentado o Carnaval carioca, especialmente cenas do desfile das grandes Escolas (que hoje a noite têm sua disputa na Passarela do Samba). Mais uma vez, cineastas que se voltam a temática carnavalesca aproveitam o maior espetáculo popular do mundo para rodar ao vivo, com milhares de figurantes, seqüências que, em termos de produção montada seriam impossíveis de ser feitas. Esta ano, entre outros cineastas, Paulo César Sarraceni, 54 anos, 30 de cinema, faz os primeiros takes de "Natal da Portela", um projeto que o diretor de "Crônica da Casa Assassinada" vinha acalentando há quatro anos. xxx "Natal da Portela", superprodução de um milhão de dólares, em co-produção Brasil-França, será a primeira grande cinebiografia de um histórico dirigente de Escola de Samba, Natalino José do Nascimento (Queluz, SP-1905-1975), rei do jogo-do-bicho, apaixonado por futebol e especialmente pela Portela, no bairro da Madureira - a quem sua história está ligada, e da qual foi presidente de honra até sua morte há 12 anos. No esporte, marcou sua passagem como grande incentivador do Madureira F.C., clube que levou em excursão a 56 países. Na contravenção, seu curriculum também foi vasto: 250 processos, 100 ordens de prisão, cinco passagens pela Ilha Grande e um homicídio. Homem rico, o grande mecenas do Carnaval da Portela - escola fundada pelo histórico Paulo da Portela (Paulo Benjamin de Oliveira, 1901-1949), Natal perdeu seu braço direito em 1925 mas ganhou fama de homem valente, sendo cantado em versos por inúmeros sambistas, entre os quais João Nogueira e Zé Ketti. João Nogueira, aliás, será, ao lado de Monarco (Hildemar Dinis, 54 anos), um dos principais atores deste filme, que naturalmente trará muita gente do mundo do samba. Paulinho da Vila, Jamelão, Dona Ivone Lara (que sexta-feira esteve em Curitiba, participando de uma festa musical), Clementina de Jesus e até Zeca Pagodinho. No elenco ainda Zezé Motta, Grande Otelo, Adele Fátima e Paulo César Pereio. A rodagem de um filme sobre "Natal da Portela" é significativa para o que se poderia chamar de uma filmografia carnavalesca. Afinal, apesar de dividir com o futebol a maior paixão dos brasileiros, o Carnaval não tem na tela a projeção merecida - embora, indiretamente, apareça em mais de uma centena de filmes, incluindo-se as hoje valorizadas chanchadas da Atlântida e algumas produções da Maristela que, perpetuaram em imagens grandes nomes da MPB cantando sucessos de Carnavais do passado - numa época em que a televisão era apenas um sonho distante. Historicamente, o levantamento de uma filmografia carnavalesca exigiria uma pesquisa de fôlego - que aliás foi iniciada, genericamente em torno de todo o cinema brasileiro, já há quatro anos, graças ao empenho de pessoas como Carlos Augusto Calil, professor, estudioso de cinema, grande administrador, e cuja brutal saída da presidência da Embrafilmes, em dezembro do ano passado, ainda não foi absorvida por quem se preocupa com os destinos da cultura do Brasil. xxx Enquanto não aparece uma filmografia completa e detalhada do Carnaval no cinema brasileiro, ocorrem títulos esparsos, que direta ou indiretamente, tiveram a grande festa como cenário e motivação. Por exemplo em primeiro e absoluto lugar, em termos de temática carnavalesca está justamente não uma produção brasileira, mas sim o hoje clássico "Orfeu do Carnaval" que o francês Marcel Camus (1912-1981), rodou no Rio de Janeiro há 28 anos, baseado na peça "Orfeu Negro" de Vinícius de Moraes, estreada em 1956 no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Produção luxuosa, com grande elenco e uma trilha sonora clássica - a qual se acrescentaram as canções originais de Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes, músicas de Antônio Maria e Luís Bonfá (incluindo "Manhã de Carnaval"), "Orfeu Negro" ganhou a Palma de Ouro, no Festival de Cannes e o Oscar de melhor filme estrangeiro em 1959. Nenhum outro filme ligado ao Brasil conseguiu uma carreira tão notável.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
01/03/1987

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