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Aramis

A necessária poesia que defende nossas baleias.

Entre a correria e a luta pelo pão-nosso de cada dia, na guerra nem um pouco santa do quotidiano na luta da selva da cidade grande, ainda sobra tempo para a poesia - talvez por isto mais resistente e necessária do que nunca. Livros & poetas são notícias, mostrando que a palavra (r) existe sempre. João Manoel Simões, talvez o mais organizado de nossos ensaístas e poetas, com uma produção ágil e bem dirigida, enquanto termina novos poemas prepara a edição de seu livro Camões, enquanto que Paulo Leminski, o mais demolidos nome [da] Vanguarda Tupiniquim já adquiriu uma dúzia de exemplares de "O que é poesia marginal?", escrito por Glauco Mattozo para a série de didáticos livros de bolso que o editor Caio Prado vem lançando com enorme sucesso, pela Brasiliense. Em seu estudo, Mattoso cita demoradamente a poesia de Leminski, hoje já quase nos 40 anos, um dos mais bem pagos redatores de publicidade do Paraná, mas ainda com a irreverência do garoto de idéias concretistas, discípulo dos irmãos Campos, de São Paulo, que na Curitiba dos anos 60, foi o primeiro a falar em Maikowiski, Elra Pound e outros mestres. xxx Em Londrina, na segunda-feira, no Cine Ouro Verde, a jornalista Mirian Paglia Costa, autografa o seu livro de estréia, "Colar de Maravilhas". Editora de arte e cultura da revista "Visão", londrinense de nascimento mas há 9 anos em São Paulo, Mirian virá depois em data ainda a ser marcada, em Curitiba, trazendo este seu livro de poemas, cujo tema central é a família, ilustrado por Darcy Penteado e editado por Masao Ohno/Roswitha Kempft, verdadeiros artesões em termos de capricho editorial de suas publicações. Miriam explica "Colar de Maravilhas" como "um jeito de ver o mundo, pois afinal é preciso considerar que minha profissão é o jornalismo, uma atividade cuja característica principal não é o escrever bem, como muitos pensam - embora isso seja importante - mas o bem observar. Na poesia, também faço um certo jornalismo. Em alguns registros de cantigas infantis, hábitos e comportamentos familiares. Em outros descrevo as cenas da casa e do cotidiano. E até quando a poesia é muito emotiva, há sempre um modo claro de narrar a emoção". xxx Outra poeta, Eulalia Maria Radtke, autora de "Espirais", lançado pela Fundação Catarinense de Cultura há 2 anos, continua colecionando prêmios. Catarinense de Blemenau, mas radicada em Curitiba, Eulália teve premiações em 12 concursos nacionais, nos últimos meses e ainda foi a quinta classificada no 11o Concurso Mackenzie de Poesia, com "Sinfonia". xxx Professor, ensaísta, poeta e, agora, um escritor sobretudo político, Affonso Romano Sant'Anna - que constantemente vem a Curitiba, integrar júris e comissões literárias, a convite de sua amiga Cassiana Lícia de Lacerda Carolo, da Secretaria da Cultura, tem se voltado, nos últimos tempos a uma poesia atual e contestatória. Seu "Que País é Esse?", ou, especialmente, "A Implosão da Mentira" - publicado poucos dias após a explosão do Rio Centro, tiveram a força de editoriais, pela oportunidade com que foram divulgados em páginas nobres do "Jornal do Brasil". Anteriormente, Affonso havia publicado "A Morte da Baleia", em agosto de 1978, na revista de Civilização Brasileira - que agora sai num volume de 68 páginas (Berlandis & Vertechia Editores Ltda). Affonso se preocupou em juntar ao livro, também uma coleção de notícias de jornais sobre protestos contra a caça à baleia. Em 1979 se determinou que a caça da baleia seria proibida a partir deste ano, mas uma série de marchas e contra-marchas, atendendo a interesses múltiplos fez com que se prosseguisse na extinção da espécie animal. Em junho começou a nova temporada de caça à baleia nas águas da Paraíba e só no ano passado cerca de mil cetáceos foram mortos numa atividade econômica discutível. Atualmente várias comissões internacionais estudam o problema do morticínio da baleia no Brasil, efetuado pela Copesbra, utilizando técnica japonesa. Entre outras coisas já se comprovou que as baleias encontradas na costa brasileira aqui vêem em atividade de procriação. O assunto é de tal importância que 23 países já suspenderam a caça à baleia por tempo indeterminado. O poeta Affonso Romano, em seu belíssimo livro-poema, fala do assassinato às baleias no Nordeste do Brasil e termina de uma forma magistral: "Por isto/ a morte marítima / terrestre ou marginal / dessa baleia / mais que metáfora / ou pintura / mais que mostra multinacional de usura / a qualquer hora que ocorra / além de um crime a se ostentar / é a nossa [impotência] na linha do horizonte / um modo colorido de trucidar a aurora - e [ensangüentar] o mar". xxx Anúncios na imprensa nacional já estão dando grande ênfase que, há algumas semanas, aqui registramos em primeira mão: a I Bienal Nestlé de Literatura Brasileira, com o maior concurso nacional em termos de prêmios - Cr$ 300 milhões, na base de um milhão por categoria. A promoção, que vem sendo organizado por Edla Van Steen - escritora de raízes curitibanas, onde passou sua adolescência (época em que por sua beleza desfilou nas passarelas e chegou a interpretar um papel em "A Garganta do Diabo", o terceiro longa metragem de Walter Hugo Khouri, rodado em Foz do Iguaçu), Ary Quintella e João Antônio, inclui exposição-feira de livros, seminário de literatura e projeção de filmes, numa promoção das mais abrangentes. Será em agosto de 1982, no Anhembi, dentro das comemorações dos 60 anos da Nestlé.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
6
05/12/1981

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