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Nelson no presídio

No domingo à tarde, as internas do Presídio de Mulheres de Piraquara tiveram o melhor presente do ano: um show exclusivo com Nelson Gonçalves. A própria diretora do presídio, advogada Eny Carbonar, chegou às lágrimas pela satisfação de receber naquela casa de detenção o cantor brasileiro de maior prestígio junto às faixas humildes. Nelson Gonçalves, 58 anos, 40 de vida artística, havia feito no sábado um show no Guairão, com excelente público (apesar da tempestade que caiu sobre a cidade), viajou em seguida à Itajaí, onde apresentou-se num clube, retornou a Curitiba e, apesar do compromisso de novo show no teatro, à noite, aceitou o convite que Eny lhe fez. Artista que, há pouco mais de 10 anos, atravessou um terrível período em sua vida, chegando à prisão devido ao uso de tóxicos, Nelson jamais se nega a, em suas horas de folga - e sacrificando mesmo o seu repouso (como ocorreu no domingo a tarde) a alegrar os dias cinzentos das pessoas que o destino levou às penitenciárias. Durante mais de 30 minutos, conversou com as humildes sentenciadas, cantou seus maiores sucessos e distribuiu autógrafos. Ao sair, recebeu o cachê que o emocionou: o beijo de uma criança de 5 anos, filha de uma das presidiárias e a promessa de uma tapeçaria, executada pelas internas. Nelson Gonçalves vai assinar um milionário contrato com a "Warner Communications", para atuar num filme baseado em sua vida, com o título de "O Último Boêmio". Receberá um "advanced" de Cr$ 1.600.000,00 e terá mais 20% sobre a bilheteria, o que deverá ampliar sua fortuna, já que seu público em todo o Brasil é imenso, traduzido no fato de já ter vendido 28 milhões de cópias de seus discos e ter, atualmente, em catálogo, na RCA - gravadora na qual se encontrou desde que começou sua carreira - nada menos que 31 elepês, fato único da história da fonografia brasileira. Seu 84º elepê (já gravou 272 em 78 rpm e 268 compactos) sairá dia 29 e tem o título de "Reserva de Domínio". Traz quatro músicas de seu eterno compositor (e agora também empresário) Adelino Moreira e quatro regravações de músicas românticas: "Ninguém Me Ama" "Dá-me Tuas Mãos", "Saia do Meu Caminho" e "Olhos Nos Olhos". Fazendo shows no mínimo de Cr$ 30 mil - e chegando até a Cr$ 400 mil (como a Souza Cruz lhe pagará, para 4 apresentações, ao lado de Pedro Vargas, no Anhembi e Canecão, em setembro), gravando de 2 a 5 elepê por ano - cada um com uma média de 200 mil cópias (mesmo um álbum triplo, a Cr$ 340,00, como foi o "Nelson de 3 Gerações", já vendeu 130 mil cópias), Nelson é hoje já dono de um apreciável patrimônio: 22 apartamentos e casas em São Paulo e Rio de Janeiro (atualmente mora e Niterói), uma fazenda de criação de gado em Caxambu, MG, e depósitos imensos em cadernetas de poupanças. Com 2 filhos legítimos e 8 adotivos, pouco tempo tem para a família: normalmente viaja 5 dias por semana, e além de temporadas mais prolongadas, como a que fez agora, pelo Paraná e Santa Catarina, empresada por Avelar Amorim. Pretende trabalhar no atual ritmo por mais dois anos, quando então espaçará suas gravações para apenas um elepê por ano e um show por mês. Por enquanto, vai mantendo uma agenda estafante mas altamente compensadora. Afinal, os compromissos são tantos que só com os 20% que dava ao seu antigo empresário, Antonio Touro, ele faturava Cr$4 120 mil por mês. Mas como não se satisfez com isso, acabou perdendo o emprego: agora é o próprio parceiro e amigo Adelino Moreira quem está administrando a vida profissional de Nelson tendo inclusive o acompanhado à Curitiba.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
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16/08/1977

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