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Nilze, a descoberta de Adelzon

O paranaense Adelzon Alves é hoje, possivelmente, um dos "dez mais" cariocas. Moço humilde que chegou do Norte do Paraná no início dos anos 60, trabalhou em várias emissoras de Curitiba, e consciente dos direitos trabalhistas de uma categoria tradicionalmente explorada, foi um dos batalhadores para a formação do Sindicato dos Radialistas. O que lhe custou, com o golpe militar de 1964, perseguições mil. Obrigado a deixar Curitiba, foi para o Rio de Janeiro - onde não conhecia ninguém, sem dinheiro, sem proteção alguma. Dono de bela voz, inteligente, começou a trabalhar em rádio e, em alguns anos, chegaria a posição que hoje desfruta: "O Amigo da Madrugada", audição que apresenta da meia noite às 6 horas da manhã, pela Rádio Globo, é campeã absoluta de audiência. Dono de um público imenso, que vai das faixas mais humildes a sofisticados ouvintes da Zona Sul, Adelzon tem um estilo próprio de comunicação e uma preocupação básica: divulgar a música popular brasileira de raízes. Fez mais: transformou-se num grande produtor fonográfico, realizando direta ou indiretamente, dezenas de discos históricos para a nossa MPB, abrindo as portas das gravadoras para sambistas, instrumentistas, executantes de choro, etc. Foi graças a Adelzon, que a cantora Clara Nunes (1943-1983) - sua esposa durante alguns anos - descobriu a pujança dos compositores de samba e se tornou a grande intérprete dos anos 70 - só rivalizando com Beth Carvalho. Com toda razão, Adelzon já motivou até uma tese universitária sobre o seu trabalho de comunicador e tem hoje o respeito de todos que sabem valorizar a nossa melhor MPB. Ao lado de Pelão, Hermínio Bello de Carvalho, Albino Pinheiro, Sérgio Cabral - para só citar quatro gigantes da cultura popular carioca - Adelzon é incansável em seu trabalho de garimpeiro de talentos. Falar de Adelzon justifica-se quando se ouve os lps de Nilze Carvalho, uma garotinha que ele descobriu e lançou em seu programa na madrugada. Virtuose do cavaquinho, esta garota foi a grande revelação instrumental dos anos 80, mostrando uma extraordinária criatividade na execução de choros históricos. A partir de "Choro de Menina", na qual teve a participação especial do grupo Época de Ouro e do clarinetista/saxofonista Netinho, Nilze gravou quatro esplêndidos Lps. Produzidos pela CID - e todos em catálogo, possíveis de serem localizados nos estandes fonográficos dos supermercados e lojas de departamentos (únicos pontos de vendas em que estão os lançamentos da CID), são oferecidos a preços 50% mais baratos do que os discos comuns e mostram o que de melhor existe em nossa MPB. Embora basicamente executante de choros, Nilze Carvalho nos repertórios de seus quatro "Choro de Menina" traz também sambas e mesmo marchas, em solos belíssimos e sempre com ótimos músicos acompanhando-a. No volume 2 de "Choro de Menina", por exemplo, temos arranjos e regência de Zé Menezes (violão de 6 cordas), a presença do ótimo Rafael Rezende, sua mana Luciana no cavaquinho, Netinho no clarinete e o som inesquecível do grande Copinha (1910-1984), na flauta, em momentos maiores da MPB como "Assanhado", "Alvorada" e "Bola Preta" de Jacob do Bandolim; "Carinhoso" e "Ingênuo" de Pixinguinha; "Odeon" de Ernesto Nazaré; "Brasileirinho" de Waldir Azevedo, além de um chorinho da própria Nilze - "Choro de Menina". Já no volume 3 da série, o repertório foi mais diversificado - incluindo muitas faixas desconhecidas, sucessos da época (1982) como "Festa no Interior" (Moraes Moreira/Abel Silva), mas encerrando com um clássico de Radamés Gnatalli ("Serenata no Joá"). Finalmente, o quarto volume, produzido por Jorginho do Pandeiro (Jorge José da Silva), valorizou basicamente aquilo que Nilze melhor executa: o choro. E assim, acompanhada por Jonas e Ginho no cavaquinho, Dininho no baixo, Orlando Silveira no acordeon, Zé Bodega no sax clarinete, com arranjos e a presença de Dino no violão de 7 cordas, a menina estraçalha com um repertório de choros como "Bole Bole", "Simplicidade", "Remeleixo"de Jacob do Bandolim; "Magoado" de Dilermano Reis; "Proezas de Sallon" e "Não Posso Mais" de Pixinguinha.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
31
16/03/1986

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