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Aramis

No campo de batalha

Eunice Gutman, uma das líderes do Coletivo das Mulheres Cineastas, é uma das presenças mais atuantes nos festivais de cinema. Em Brasília, concorreu com "Tempo de Ensaio", com fotografia do competente Edgar Moura. O filme é um ensaio de uma peça teatral que focaliza problemas da condição de uma mulher que, depois de assumir o papel tradicionalmente feminino de mãe-esposa, se conscientiza da necessidade de mudanças. Apostando para o futuro: a bela e mignon morena Inês Magalhães, 25 anos, fotógrafa que passou 3 meses documentando o agreste nordestino, pelas mãos de Eunice começará sua carreira no cinema. Sensível e inteligente, quer fazer estágios na montagem e fotografia, enquanto sua amiga Eunice prepara-se para o primeiro longa-metragem, ainda sem título definido. Paulo Autran era, até a terça-feira, o nome mais famoso presente. Louise Cardoso, a "Leila Diniz", só chegou para o encerramento. Alguns galãs, como Paulo César Grande, entre as poucas estrelas de primeira a terceira grandeza. Cada vez mais a preocupação dos festivais é concentrar realizadores, jornalistas, etc. E os artistas, embora atraiam público, não são indispensáveis. Forte é a presença feminina: tanto na temática dos filmes, especialmente curtos, em exibição, como realizadoras, jornalistas e mesmo nos júris. Por exemplo, no júri de curta-metragem, além da jornalista Helena Salem (que agora está em natal, lançando lá o seu livro "Nelson Pereira dos Santos" - O Sonho Possível do Cinema Brasileiro), a documentarista Tânia Quaresma, autora do melhor filme sobre a cultura popular "Nordeste, Cordel, Repente e Canção", que entusiasmou o alemão Werner Herzog, quando este procurou informar-se do Nordeste, na preparação de seu "Cobra Verde" (inédito no Brasil). O diretor de "Aguirre" elogiou bastante Tânia que, modestamente, está há anos sem filmar e ganha a vida em Brasília, como assessora da diretoria executiva da Fundação Cultural do Distrito Federal. O calor chegou até a 40 graus no Planalto. Com isto, a piscina do Hotel Nacional - sede do XX Festival - fervilhava durante o dia. Mas, à noite, totalmente deserto. Neste hotel de cinco estrelas, o mais antigo do Distrito Federal, normalmente com muitos políticos em seus amplos salões, nesta semana o que aqui se viu foram artistas, realizadores e outros profissionais da área de cinema. Como eram muitos os curta-metragens em exibição, cada realizador buscava promover o seu filme, nas sessões paralelas. Os paranaenses Mauro Faccioni, com "As Bruxas" e, especialmente, o simpático Bolinha (Altemir Silva), com "O Açougueiro do Norte Contra o Cineasta Voador" conseguiram um bom espaço na guerra de pregar cartazes, fotos, etc. nas paredes do Hotel Nacional. Afinal, todos querem mostrar seus filmes - alguns dos quais dificilmente terão outra exibição para um público tão interessado. O jornalista Wilson Cunha, veterano crítico que acompanha os festivais de cinema brasileiro e uma das presenças mais influentes da imprensa nacional (Jornal do Brasil), observava na noite de domingo ao contemplar o Hotel Nacional, vazio, a piscina com luzes apagadas e o bar fechado, às 23h45min de domingo: "O clima está mais para um encontro de agentes funerários do que para um festival de cinema". Wilson lembrava-se dos tempos festivos, em que a piscina fervilhava noite afora, com cineastas, atrizes, jornalistas, etc., em confraternização intensa. Acrescentou Wilson: - "São os tempos aidéticos." Embora o Hotel Nacional seja o espaço ideal para o festival, com sua excelente infra-estrutura, a noite ele fica deserto. Após as sessões os convidados - atores, realizadores, etc. - espalham-se pelos restaurantes e bares de Brasília, que, com seus longos caminhos de solidão asfáltica, torna difícil a confraternização. Quem esteve na mostra de Curitiba, lembra, suspirando, que a confraternização do evento no eixo Hotel Del Rey - Cine Lido I e endereços noturnos e adjacentes possibilitou maior confraternização. Nem tudo é festa. Na segunda-feira, muita gente aproveitando para reuniões importantes. Os cineastas, logo após o café da manhã, reuniram-se com o sr. José Silvestre Guaduchom, chefe de comunicação social do Ministério da Indústria e Comércio. Falou do interesse do ministro José Hugo Castelo Branco em ter a participação efetiva da categoria, na discussão de projetos e planos relativos ao cinema, como indústria forte. Denoy de Oliveira, presidente da Associação Paulista de Cineastas e os diretores Hermano Penna e João Batista de Andrade, foram os que fizeram as mais incisivas colocações. Também uma reunião dos cineastas e artistas, aqui presentes, estava sendo agendada com o ministro da Cultura, Celso Furtado. Até a segunda-feira, ninguém da Embrafilme havia aparecido por aqui. Não fazendo, aliás, nenhuma falta - muito pelo contrário. A Embrafilme colaborou com mais de um milhão para a realização do festival. Cosme Alves, como diretor do FestRio - e que voltou há duas semanas de um evento cinematográfico da China - esteve na manhã de segunda-feira na embaixada da China. Em 1988, o FestRio fará uma grande mostra do cinema chinês. Este ano, o país homenageado no Festival Internacional de Cinema, Televisão e Vídeo, que inicia dia 19 de novembro, será a Inglaterra. Maiores informações sobre o FestRio em nossa página de domingo próximo. LEGENDA FOTO - Louise Cardoso, brilhando no encerramento
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
22/10/1987

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