No campo de batalha
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de agosto de 1987
Exatamente na hora em que o excelente média-metragem "Rio de Memórias", mostrando imagens de uma Copacabana do início do século, era exibido terça-feira, 4, no Cine São Luiz - no II Festival de Fortaleza do Cinema Brasileiro - chegava a notícia da morte de Dick Farney (Farnésio Dutra, 66 anos), o cantor que imortalizou as imagens românticas da Copacabana dos anos 50, na canção de João de Barros / Alberto Ribeiro.
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Notável trabalho de pesquisa, desenvolvido sobre mais de mil fotos antigas, "Rio de Memórias", de José Inácio Parente, psiquiatra cearense radicado no Rio, é um dos mais belos documentários feitos no Brasil sobre matéria iconográfica. Premiado no último festival de Gramado, é candidato forte a levar alguns troféus na categoria de documentários em 35mm.
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A rigor, o nível dos curtas e média-metragens em competição no festival (para os longas, não há premiações específicas, todos recebendo o troféu "Iracema"), é bom. Uma surpresa que veio de Alagoas: "Tana's Take", de Almir Guilhermino, sobre uma mulher, Caetana (interpretada por Regina Dourado, atriz de filmes como "Sete Dias em Agonia - O Encalhe dos 300", de Doy Denoy de Oliveira e "Tigipió", de Pedro Jorge de Castro) que volta à pequena cidade de Marechal Deodoro, e é marginalizada pela preconceituosa população - que não perdoa o fato dela ter ido para São Paulo, em busca da fama na televisão e ter acabado na prostituição. "Tana's Take", com bom acabamento técnico, é uma vigorosa crítica à alienação e massificação da televisão sobre o comportamento do brasileiro do Interior. Um curta-metragem que merece ser visto nacionalmente.
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As sessões da Associação Brasileira de Documentaristas estão inflamadas. Por iniciativa do cineasta e médico Fernando Beléns, autor de "Fibra" (documentário sobre os agricultores mutilados pela máquina que industrializa o rami), discute-se a modificação nos critérios de divisão dos recursos da EMBRAFILME para a realização de curtas e média-metragens. Atualmente a divisão é na base de 33 por cento para o Rio de Janeiro, 33 por cento para São Paulo e 33 por cento para o resto do Brasil. Agora, os nordestinos querem que fique 50 por cento para o Rio/São Paulo e 50 por cento para o resto do Brasil. E existe a ameaça de "racha" na Associação Brasileira dos Documentaristas, que tem hoje as sessões regionais. Do Paraná, procurando que a unidade não seja rompida, aqui estão as cineastas Berenice Mendes e Lu Ranulfo, realizadoras de "A Classe Roceira", sobre os bóias-frias, que será exibido amanhã no último programa da mostra competitiva.
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Em termos badalativos, o festival é dos mais calmos: e nenhuma festa aconteceu até agora e poucas atrizes presentes. Marcélia Cartaxo, a "Macabéia" de "A Hora da Estrela", e que agora fez seu segundo filme ("Fronteira das Almas") foi a primeira a chegar - e comparece em todas as sessões paralelas. As atrizes de "Ele, o Boto" - Cássia Kiss e Dira Paes - também fazem sucesso. Dira, uma morena belíssima, 19 anos, que o inglês Jó Voorman lançou em "A Floresta das Esmeraldas", é, até o momento, o rosto mais bonito deste festival, que procura valorizar os debates, os curta-metragens e a linguagem dos longas em exibição.
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