Login do usuário

Aramis

No dia do teatro, o vídeo em homenagem ao grande Zé

No mínimo, a emoção. Quando as imagens de José Maria Santos forem projetadas no telão do Museu de Imagem e do Som, no auditório Brasílio Itiberê, no próximo dia 27, com a primeira exibição pública de "Mal", todos que conheceram e aprenderam a admirar José Maria Santos sentirão profundamente a sua ausência. Num vídeo de 9'45" - no qual aparece cerca de cinco minutos - ficou perpetuado o seu último trabalho, feito exatamente três semanas antes de ser internado no Instituto de Medicina e Cirurgia do Paraná. Começaria, então, uma via crucis do bom Zé Maria, submetido a 4 intervenções cirúrgicas, transferido depois para a UTI do Hospital das Clínicas, onde viria a falecer na noite de 4 de janeiro. A data para a escolha do vídeo "Mal", não poderia ser mais oportuna: em 27 de março, comemora-se o Dia Nacional do Teatro e José Maria Santos foi o mais profissional dos homens de teatro do Paraná. Um digno e honrado profissional, cuja memória, maldosamente, alguns canalhas mentirosos e frustrados, verdadeira escória de nossa cidade, vem tentando denegrir - inclusive orquestrando frustrada "campanha" para que não seja dado o seu nome ao Teatro de Classe, que Zé Maria idealizou e construiu. Mas estes canalhas que não merecem sequer terem nomes publicados na imprensa, não podem ser considerados, já que ao contrário do grande José Maria Santos, nunca fizeram nada de digno e construtivo em favor de nosso teatro. xxx A primeira mostragem de "Mal", restrita apenas aos que participaram de sua produção, foi feita na noite de sexta-feira, 9, no Museu da Imagem e do Som. Ali, alguns dos 105 participantes do curso de iluminação que teve como trabalho prático a produção de vídeo, viram inicialmente todo o material rodado - mais de 60 minutos. Posteriormente, foi projetado o vídeo montado, com menos de dez minutos, num trabalho de mestre de um dos maiores nomes da edição cinematográfica em nosso país, Mauro Alice, Coruja de Ouro ("O Anjo da Noite", de Walter Hugo Khouri, 1964) e que há três anos foi quem montou "O Beijo da Mulher Aranha" para o seu amigo Hector Babenco. Atualmente, Mauro está integrado a equipe de produção do novo longa-metragem de Babenco, "At Paly in the Fields of the Lord", cujas filmagens terão início dentro de algumas semanas na Amazônia (um dos roteiristas é Jean-Calude Carriére, que entre seus roteiros conta filmes com Bunuel e, mais recentemente, "Danton", "A Insustentável Leveza do Ser", "Salve-se quem Puder" e, por último, "Valmont", direção de Milos Forman, uma nova adaptação de "As Ligações Perigosas", de Chanderlos de Laclos). Apesar do compromisso com Babenco, Mauro Alice encontrou alguns dias livres para em Curitiba, não só fazer a montagem de "Mal", como possibilitar que alguns jovens interessados acompanhassem o seu processo criativo. Tendo como assistentes Celso Pierró e Jussara Locatelli, em menos de dois dias, Mauro deu uma linguagem enxuta, inteligente, aproveitando o material rodado. xxx Como contamos em primeira mão ("Almanaque", 09/01/90), entre 27 a 29 de outubro de 1989, o técnico Dante Lecioli, iluminador-senior da Rede Globo de Televisão, experientíssimo em trabalhos de maior importância (como as séries "Grandes Sertões", "Sampa", "Gabriela", "Abolição", dirigidas por Valter Avancini) esteve em Curitiba dando um curso sobre iluminação em vídeo. Criatrivo como sempre, Valêncio agilizou como parte prática a realização de um vídeo, cujo roteiro escreveu em poucas horas, cuidando também da direção, já que não havia orçamento extra. O ator Juba Machado fez o segundo papel e ajudou na produção e dois jovens alunos do curso de teatro - Milton Pereira de Camargo e Juliana do Rocio Ceccon completaram o elenco. Sem diálogos, rodado nas próprias instalações do Museu da Imagem e do Som, na Rua Barão do Rio Branco, o vídeo foi um trabalho de equipe. José Maria Santos, aceitando trabalhar gratuitamente (em mais uma prova de sua generosidade), durante toda a tarde de 28 de outubro, um sábado, sem qualquer conhecimento prévio do roteiro, fez uma interpretação marcante - que, agora, todos poderão conhecer através da projeção do trabalho. Na sexta-feira, 9, durante quatro horas, Mauro Alice dialogou com os alunos que participaram do curso - o terceiro promovido pelo MIS-PR nos últimos meses, sempre com um sentido prático - fazendo um verdadeiro seminário sobre a técnica de montagem. Como foi mostrado o material em bruto, com tudo que havia sido rodado - trabalho de diferentes operadores e, no final, de Osires Guimarães, que normalmente trabalha com Valêncio Xavier, na TV Paranaense - foi possível saber qual a técnica para dar, de diferentes e repetidas tomadas, o melhor aproveitamento. Em sua clareza didática, sem deixar de prestar todos os esclarecimentos, Mauro Alice mostrou porque é respeitado nacionalmente como um dos mestres em sua especialidade - e que o faz ser procurado por um diretor da dimensão de Hector Babenco para integrar sua equipe hoje internacional. Durante alguns anos, Mauro Alice residiu em Curitiba, sua cidade natal, trabalhando com o produtor Julio Kruguer. Pena que naquele período, tivesse sido obrigado a fazer exclusivamente trabalhos comerciais - documentários financiados pelo governo, sem poder desenvolver projetos mais criativos. Pois, se na época existisse um apoio realmente cultural, nosso panorama cinematográfico não estaria tão pobre e limitado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
14/03/1990

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br