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Aramis

No filme pornográfico, o título é que ajuda a vender

Encontre um bom título e faça uma pornofita de sucesso! A fórmula parece funcionar entre os produtores da chamada "Boca do Lixo", a área localizada na Rua do Triunfo e imediações, em São Paulo, onde dezenas de produtoras pequenas, sem nomes famosos ou conhecidos em seu quadros, são responsáveis pelo abastecimento de quase 80% das salas que nestes últimos 5 anos passaram a ter o básico de sua exibição em filmes pornográficos. Se antigamente o título poderia ser a última preocupação de um produtor, hoje é a partir da insinuação maliciosa que um título pode sugerir que, em prazo recorde, se faz uma fita de sexo explícito, rodada em uma suíte de motel (muitas vezes improvisado no escritório do próprio produtor) ou numa praia solitária. Cenários a custo zero, elenco pago com cachês mínimos, equipe ultra-reduzida e se tem mais uma produção para entrar no mercado - independente da liberação da Censura, pois os recursos judiciais permitem a exibição destes filmes por um tempo mínimo suficiente para recuperar, com imensos lucros, o investimento feito. xxx Dos quase 100 filmes pornográficos exibidos no ano passado em Curitiba nos cinemas que integram o chamado "circuito do orgasmo" - Glória (I e II), Scala, Rui Barbosa, Morgenau e São João - nada menos que 30 deles trouxeram a palavra sexo no título. Seis outros foram ainda mais apelativos: a referência a sexo explícito nos nomes, como uma advertência clara ao espectador do que lhe é oferecido. "Assim ao menos, não há motivo de hipocrisia de quem vai e reclama: o título já diz tudo" comenta o astuto Zito Alves, 54 anos, 40 de cinematografista, hoje dedicando-se apenas à assessoria técnica nas cabinas do cinemas da cidade e que ao longo de sua vida profissional acompanhou a ascensão e queda de vários boons do cinema comercial. "O Filho do Sexo Explícito", "A Mansão do Sexo Explícito", "Duas Irmãs no Mundo do Sexo Explícito", "As Irmãs do Sexo Explícito", "As Aberturas do Sexo Explícito", "Variações Sobre Sexo Explícito" e "Sexo Explícito Sobre Rodas" - títulos de algumas pornoproduções que demonstram a falta de imaginação de um gênero esgotado em suas limitações. xxx O máximo de bilheteria que uma pornoprodução rendeu em Curitiba, no ano passado, foi pouco mais de Cr$ 40 milhões. Em várias semanas em diferentes cinemas, "Furor Uterino" teve uma renda considerada excepcional. Normalmente a renda dos filmes pornográficos oscila entre Cr$ 5 a Cr$ 15 milhões e os filmes nunca permanecem mais do que uma semana no mesmo cinema. A rotatividade do público e a necessidade de atingir o público humilde que busca este gênero, faz com que os programas se alternem e nos cinemas - exceto o São João (casa que localizada na Rua Westphalen, no ano passado era lançadora de produções de categoria) são apresentados em programa duplos, o que às vezes provoca até situações irônicas entre os títulos exibidos. Tendo nas faixas mais humildes o seu público-alvo, os cinemas do "circuito do orgasmo" têm também os ingressos mais reduzidos - atualmente ao redor de Cr$ 8 mil - outra das razões para explicar que num ranking comparativo em termos econômicos, não haja números para impressionar. Afinal, os cinemas de melhor categoria - lançadores de filmes de qualidade como o Astor, Condor, Vitória e Plaza - estão hoje com ingressos na base de Cr$ 10 a 15 mil. xxx O atrevimento nos títulos - (que também se pode classificar de apelação) atinge pontos altos. O máximo aconteceu com o título dado a uma comédia erótica, misturando vampirismo e sexo (mas que nem trazia sexo explícito), produção italiana, lançada no Brasil por um astuto distribuidor que o intitulou de "Drácula chupa... e não é no pescoço". A insinuação dos três pontinhos, deixando a imaginação do público funcionar, faz com que partes anatômicas que normalmente não poderiam ser usadas como chamariz nos títulos, acabem sendo elevadas a "pontos de venda": "Quando a B... não falta", "As delícias da B... de Julia", "As Mulheres que F..." ou "De C... para cima". Portanto, não é sem razão que vereadores paulistas - e também curitibanos, como Luís Gil Leão, tenham soltado urros de indignação para proibir ao menos a exposição de propaganda externa de filmes com títulos como estes. xxx Expressões e palavras de duplo sentido também podem funcionar bastante para atrair o público. Assim, pornofitas que tiveram razoável público se chamaram "Boca Macia", "Sexo com Chantily", "Bobeou Entrou", "A Gosto do Freguês", "De Todas as Maneiras", "Que Delícia de Buraco", "Tudo Dentro", "De Pernas Abertas", "A Grande Trepada", "A Aventureira que Dava Muito", "Sem Vaselina", "A Chupeta Erótica", "A Doutora é Boa, Pacas!", "Senta no meu que eu entro na tua" e "Como Afogar o Ganso". Um título que provocou polêmicas maiores foi "Oh! Rebuceteio", capaz de ter múltiplas interpretações. Aliás, óbvio são a maioria dos títulos dos filmes do gênero - já que sutileza não é preocupação de quem realiza filmes descartáveis, destinados à vida efêmera e que jamais têm qualquer informação técnica de quem os realizou (ao contrário, mesmo cineastas conhecidos como José "Zé do Caixão" Mojica Marins e Fauze Mansur, utilizam pseudônimos quando aceitam realizá-los). Assim, desaguam semanalmente nos cinemas, filmes que se chamam "Introduções Profundas", "Bacanal na Ilha das Ninfetas", "Sexo Sem Limite", "Bacanal das Taradas", "Moças com Creme", "Sexo Irresistível", "Masturbação Total", "Dupla Penetração", "Sexo Insaciável", "Penetrações e Orgasmos", "A Pelada do Sexo", "A Chupeta Erótica" etc. Em cinema pornográfico, título não é tudo. Mas pode ajudar bastante na carreira comercial.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
01/02/1986

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