Login do usuário

Aramis

No Rívoli, domingo, a sua útima sessão de cinema

No domingo, dia 3 de janeiro, Curitiba perde mais um cinema. Após a última projeção de "A Rainha do Sadismo", às 22 horas, as portas do Cine Rivoli, serão fechadas e só voltarão a abrir para a retirada de suas poltronas e do equipamento de projeção – cujo destino ainda não foi definido, pelo sr. João Aracheski, executivo da Fama Filmes no Paraná. Confirma-se, assim, aquilo que noticiamos há mais de seis meses: frente a decisão dos herdeiros do imóvel – a família Kruskoski – em retomar o prédio, a Fama Filmes desinteressou-se em manter o cinema, cujo aluguel era dos mais apreciáveis – calculado com base em salários mínimos, ultrapassaria a casa dos Cr$600 mil em 1982. Entretanto, dentro de uma política racional de explorar menos casas de exibição com maior rentabilidade, a empresa exibidora preferiu atender a solicitação dos proprietários e desocupar o imóvel – cujo destino ainda não está oficialmente definido. Enquanto um dos herdeiros, o comerciante Nilo Kruskoski, proprietário do "Palazzo Pizzaria"- já com duas casas na cidade, não escamoteia a possibilidade de ali abrir uma terceira filial, outros herdeiros pensam na venda pura e [simples] do prédio. Afinal, localizado ao lado do Museu de Arte Contemporânea, na primeira quadra da Rua Emiliano Perneta, a sua posição é privilegiada mesmo considerando a impossibilidade de, devido a lei de zoneamento ali não poder ser erguido prédios com mais de 4 pavimentos. O Banco de Crédito, que há alguns anos alugou a mansão da família Franco, vizinha do Cine Rívoli, chegou, tempos atrás, a se interessar pelo imóvel – pretendendo construir no terreno um grande prédio. Face as limitações legais, o negócio foi desaquecido. xxx O Cine Rívoli cerra suas portas após 21 anos de funcionamento. Foi construído pela antiga Empresa Cinematográfica Sul, grupo de exibição de São Paulo, presidido pelo milionário Paulo Sá Pinto, que durante pelo menos uma década dividida com a Orcopa e Henrique Oliva o comando dos principais cinemas de Curitiba. Enquanto a Ocropa, liderado por Ismael Macedo, possuía os cines Ópera e Arlequim, no centro, a Sul – aqui dirigida por Geraldo Pontes (hoje gerente de cineemas em Brasília: TINHA OS LUCRATIVOS Avenida, Marabá (johe Bristol, fechado há mais de um ano); Ritz (que funcionava na Rua XV de Novembro, local hoje do edifício Wenceslau Glaser); e América. Já o velho Henrique Oliva [ ( ] 1898 1965) , possuía os cines Luz (na Praça Zacarias); Palácio, Onde hoje está o Astor); e o Broadway – na esquina da travessa Oliveira Belo e a Rua XV de Novembro. Este era o panorama cinematográfico dos anos 40 e primeira parte da década de 50. Mas na época a televisão ainda não havia chegado em Curitiba – o que só aconteceria em 1960, de forma que o cinema justificava investimentos. Assim, Ismael Macedo associava-se a famílias tradicionais para abrir novos cinemas – com os Seiller Bettega, implantava o São João (inaugurado com "A volta ao Mundo em 80 Dias", de Michael Anderson), enquanto aproveitando A IMENSA ÁREA DA FAMÍLIA Jonhscher, na Rua Barão do Rio Branco, surgia o cine Vitória – aberto com "Taras Bulba", de J. Lee Thompson. A Sul, além de construir o Rívoli no terreno da família Krukoski – associava-se a milionária Rosy Pinheiro Lima para, aproveitando um de seus maiores imóveis na Praça Tirandentes, instalar o cine Glória – que durante os 6 primeiros anos teve a entrada pela travessa Moreira Garcez, e abriu com a comédia "Volta Meu Amor", com Doris Day e Rock Hudson. ttt Muitos dos cinemas abertos nos anos 50/60 tiveram uma transformação de público – e isto é sintomático no caso do Glória, que de uma casa luxuosa, lançadora de filmes de artes nos primeiros anos (" Oito e Meia", de Felline; "Blow Up[ ",] Depois Daquele Beijo", de Antonione, só para lembrar 2 exemplos clássicos), passou a ter uma programação popular. Principalmente depois que a entrada do cinema passou a ser feita pela Praça Tiradentes – e esta caracterizou-se como grande terminal de transportes coletivos, o [Glória] só conseguiu sobreviver em termos econômicos através de programas duplos, com filmes populares (kung fu, eróticos, terror, etc.), mesmo caso do Scala – na Rua Riachuelo, e que também, no início, chegou a ter uma programação selecionada (abriu com o musical " Oliver" e, por algum tempo, ali funcionou o "Cinema I", tentando caracterizá-lo como sala de arte). O Rívoli, ao contrário, sempre teve um público selecionado. Dentro do mapa onde Aracheski controla os lançamentos, o cinema que será fechado domingo, sempre foi uma casa especial – reservada para os filmes "freqüentados pelas famílias" aquele mesmo público elegante que, nas décadas de 20 e 50, desfilavam pela Avenida Luiz Xavier, para assistir aos lançamentos da MGM no Ópera¸ Warner e Columbia no Palácio – durante 30 anos os três principais cinemas de nossa cidade. xxx Na crônica de nossos cinemas – tema em que temos insistido em nossos espaços – a própria relação de filmes que encerram tantos cinemas já é sintomático da própria crise que, independente de rendas esporadicamente otimistas, como as deste final de ano (vide nosso comentário do dia 30/12/80), atinge os cinemas. Assim, se o Rívoli abriu com "O Último Tango", com Sarita Montiek, então em pleno apogeu, numa produção romântica, lacrimogênica e atraindo uma platéia elegantíssima – hoje termina com a [reprise] de "A Rainha do Sadismo", pornoprodução italiana, dirigida por um ilustre desconhecido – Elias Milonaco, com um elenco de outros anônimos – Laura Genfer, Livia Russo e Gordon Mitchel, mais Gabriele Tinti – cuja única fama foi por ter sido marido de Norma Benguel, no período em que a atriz brasileira exilou-se na Itália e quando ainda tinha preferências pelo sexo marculino. ttt O Cine Avenida continua a funcionar – em que pesa a pendência judicial movida pelo Bamerindus, desde 19868 proprietário do imóvel e tentando a sua retomada, para ali construir um edifício de 3 andares, de cujo projeto não consta – ao menos até agora- nenhum espaço destinado a cinema. Também o Morgenau, no bairro do Seminário, pertencente aos irmãos Santos (ou "Irmãos Coragem"), a mais antiga sala de [exibição] da cidade, só sobrevive graças aos intrincados caminhos judiciais, pois os proprietários do velho pardieiro também o querem de volta. O prefeito Jaime Lerner comprometeu-se com Jorge dos Santos, o líder do Morgenau, em que uma das salas de exibição a serem construídas pela URBS no terminal da Praça Rui Barbosa seria destinada ao quase sexagenário cinema – que assim poderia manter uma tradição. Só que embora várias lojas do terminal da Praça Rui Barbosa seria destinada ao quase sexagenário cinema – que assim poderia manter uma tradição. Só que embora várias lojas do terminal da Praça Rui Barbosa estejam prontos, os cinemas – cada um 200 lugares – não foram tocados. O cine Groff, entregue pela Prefeitura à Fundação Cultural, surpreendentemente vem dando grande lucro – com um faturamento mensal ao redor de Cr$600 mil, o que aguçou os dentes da FCC em abocanhartambém o futuro cinema de 300 lugares que o grupo X&A entregará totalmente esquipado à prefeitura, no térreo de seu edifício na Rua XV de Novembro. Alertando, porém, de que esta concorrência oficial com as empresas de exibição que existem na cidade constituirá um privilégio para a FCC[,] o prefeito Lerner estaria disposto a reconsiderar o assunto e abrir uma concorrência pública, dando chance a todos os interessados.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
6
01/01/1982

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br