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Aramis

No sonho de fazer cinema a melhor estréia

Uma programação tranqüila, com apenas uma estréia importante - SONHO SEM FIM, o belo filme de Lauro Escorel, amanhã nos cines Lido I e Ritz. No mais, são as continuações e reprises, embora, substituições de última hora continuem a acontecer. Por exemplo, no Groff estava previsto o retorno de "O Encouraçado Potenkim", clássico de Sergei Eiseintein, mas, na última hora, o que voltou foi o emocionante e belo "A Mulher Ao Lado", de François Truffaut, com Fanny Ardat - que, nestas alturas já deve estar no Hotel Nacional, participando, mais uma vez do III FestRio. De longe, "A Difícil Arte de Amar" é melhor programa - e sua permanência em segunda semana (Condor, 5 semanas), é significativa: produção de 1986, lançada há poucos meses nos EUA e tendo sua estréia nacional em Curitiba, pegou o público meio desprevenido - sem aquela badalação que antecipa normalmente os filmes estreados antes no Rio e São Paulo. A qualidade do filme é tamanha, a presença na cabeça do elenco de dois dos melhores intérpretes do cinema mundial - os multipremiados Meryl Streep e Jack Nicholson, mais uma história sensível, atual, contemporânea fazem com que se emocione. Resultado: a renda está crescendo e não será supresa se permanecer mais duas ou três semanas em exibição. Merecidamente. O TERROR HOLANDÊS Uma nova cinematografia começa a se impor internacionalmente: a holandesa. Já por duas vezes, filmes de cineastas holandeses foram os preferidos na Mostra Internacional de Cinema, que Leon Kakoff promove em São Paulo. Como dificilmente encontrarão distribuição comercial, ao menos a curto prazo, há uma compensação: a reprise de "O Elevador sem Destino", thriller de horror que com roteiro e direção de Dick Mass foi distribuído, em versão dublada para o inglês, pela Warner. Volta agora no cine São João, oferecendo momentos de bom suspense, direção segura e interpretações competentes - de intérpretes obviamente desconhecidos no Brasil: Huub Stapel, Willek Van Ammelrooy, Josine Van Dalsum, entre outros. De qualquer forma, para quem não viu, de verificação obrigatória. "Os Aventureiros do Bairro Proibido" (Big Trouble In Little China), de John Carpenter - que estava faturando os tubos no Plaza, mas teve que sair devido a estréia de "Jogo Bruto" (Raw Deal, de John Irvin, que também está rendendo muito), retorna no Vitória, com previsões de duas a três semanas de permanência - salvo surpresas inesperadas. Com Kurt Russel a frente do elenco, "Os Aventureiros do Bairro Proibido" é um filme que mistura o clima do cinema-violência, com tiroteios, lutas, correrias, com alguns toques místicos - num coquetel de bons resultados. Carpenter já fez filmes curiosos - inclusive o "Fuga de Nova Iorque", com o mesmo Kurt Russel, ator que, sob as ordens de Mike Nichols, mostrou talento em "Silkwood". Mas isto já é outra coisa... Já "Jogo Bruto", esquemático, dentro de todo o estilo do cinema fascistóide que se produz cada vez mais, traz o halterofilista Arnold Schwarzanegger ("O Exterminador do Futuro", "Cannon" etc). Falar mais a respeito é perder tempo e espaço. AS BOAS CONTINUAÇÕES O melhor filme que continua em exibição é "Hannah e suas Irmãs", de Woody Allen - lugar seguro entre os 10 mais importantes lançamentos do ano. Com Allen, Michael Caine, Mia Farrow, Carrie Fischer e Max Von Sidow, um momento da maior inspiração do genial Allen, com uma trilha sonora esplêndida, roteiro perfeito, criativa fotografia de Carlo De Palma. Enfim, uma comédia que faz rir e pensar e que merece ser vista/revista quantas vezes for possível. no cine Luz, onde deve continuar... A programação do Cinema I é sempre uma incógnita, com mudanças inesperadas. Na terça-feira, constava que ali haveria a substituição de "A Cor Púrpura", de Steven Spielberg - outro dos melhores filmes do ano por "Mensageiro de Satanás" (Evilspeak), filme de terror de Eric Wooton, que vinha fazendo boa bilheteria no São João. Reprise, com elenco pouco expressivo, "Evilspeak" não é o tipo do filme para o público que costuma freqüentar o Cinema I, casa criada com o espírito de cinema de arte (aliás, o Cinema I de Nova Iorque aparece numa das primeiras cenas de "A Difícil Arte de Amar") e que tem funcionado mais como casa para manutenção dos filmes que agradam ao público. Enfim, João Aracheski é um experiente programador e deve saber o que faz... Cine Itália, continua em cartaz um documentário mondo cane, horripilante, totalmente dispensável: "Canibal Holocausto", de Ruggero Deodato, música de Riz Ortolani (o mesmo que, 25 anos passados, fez a música para "Mundo Cane"). Pelo visto, a bilheteria está boa e o público prova que gosta mesmo de barbarismo na tela... Em compensação, no Astor prossegue o terno, erótico e ao mesmo tempo profundo "( 9 1/2 Semanas de Amor", de Adrian Lyne, com Kim Besinger e Mickey Rourke - um filme que fascina diferentes tipos de público. Há os que o detestam, mas a maioria aprecia. Para substituí-lo está previsto "Os Espiões Que Entraram Numa Fria" (Spies Like Us), comédia de John Landis ("Trocando Bolas", "Os Irmãos Cara de Pau"), com um elenco interessante - Chevy Chase ("Golpe Sujo", "Loucas Aventuras de Uma Família Americana na Europa", próximo lançamento), Dan Aykroyd, a novata Donna Dixon, Bernie Casey e até, com o próprio presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan. A música é de um mestre - Elmer Bernstein. Esta comédia tem tudo para fazer boa carreira, o que adiará talvez somente para o final do ano o tão aguardado "Um Homem, Uma Mulher: 10 Anos Depois", também previsto para o Astor - já que do Bristol não há indícios de reabertura. CINEMA CHECO Na Cinemateca, neste final de semana, encerra-se um breve mostra do cinema checo. Depois de "O Anjo da Morte" (63, de Jan Kaser/Elmer Klos), "A Carroça" (1966, de Karel Kachyna), temos hoje. "E O Quinto Cavaleiro é O Medo", 1964, de Zbyneck Brynych - como a maioria dos filmes checos dos anos 60, voltado à violência da Gestapo durante a II Guerra Mundial. Amanhã e domingo, o último filme do ciclo: "Transportes ao Paraíso", 63, de Zbyneck Brynych - sobre o extermínio de judeus pelo nazismo. Na próxima semana, outros programas na cinemateca. Segunda-feira, 24, "Zumbi", vídeo produzido no ano passado por Cido Marques e Solange Stecz, registrando as comemorações da morte de Zumbi realizadas pelo movimento de União e Consciência Negra de Curitiba. Terça-feira, 25, Jari, 1980, de Jorge Bodansky e Wolf Gauer - documentário sobre o polêmico Projeto Jari, na Amazônia. Dia 26, o documentário que Ana Carolina ("Mar de Rosas", "Das Tripas Coração" e atualmente montando "Sonho de Valsa"), fez sobre Getúlio Vargas. Sexta-feira, 27, mais um documentário importante: "Canudos", 1978, de Ipojuca Pontes. SONHO SEM FIM Um belo e enternecedor filme. Assim pode ser definido "Sonho Sem Fim", primeiro longa-metragem de Lauro Escorel Filho, que após passagens por setores técnicos (esteve em Curitiba, há alguns anos, ministrando curso sobre montagem promovido pela Cinemateca) escolheu como tema de seu longa de estréia a saga de um idealista, divertido e aventureiro pioneiro do cinema gaúcho - Eduardo Abelim, cuja vida e obra foi resgatada graças a pesquisas de Jesus Pfeil (estranhamente não consultado na elaboração do roteiro). Ao ser apresentado no último festival de cinema de Gramado, "Sonho Sem Fim" emocionou o público: não apenas pela temática - o cinema no Interior do Brasil nos anos 20, com belas imagens - mas pelos cuidados de reconstiruição de época (que valeram a Rita Murtinho um justo "Kikito"), a belíssima fotografia de José Tadeu Ribeiro, a ótima trilha sonora que Antonio Adolfo desenvolveu sobre temas de Chiquinha Gonzaga e um elenco surpreendente, com Carlos Alberto Riccelli como Edu (Abelim), Débora Bloch como Clara e em breves mas marcantes atuações, Imara Reis, Marieta Severo, Fernanda Torres - além de bom elenco masculino: Luiz Carlos Arutin, Sérgio Mamberti, Emmanoel Cavalcanti e Renato Consorte. Nos cines Ritz e Lido, a partir de amanhã. BOAS OPÇÕES Para a criançada, "As Novas Aventuras da Turma da Mônica", programação de uma hora, com 8 diferentes desenhos criados pela equipe de Maurício de Souza, continuam nas sessões Zig Zag, aos sábados e domingos, (10,11 e 12 horas), no Cine Plaza. São desenhos encantadores, que atingem aquela faixa de público entre 3/8 anos, que normalmente se inquieta com filmes mais longos. Também para a garotada, o programa de domingo, às 10h30min. no Luz: "Caravana da Coragem", de John Corty. Na sessão da meia noite, sábado e domingo, às 10h30min. no Groff, a reprise de um belo filme de Francis Ford Coppola: O FUNDO DO CORAÇÃO (One From The Heart), com Nastassia Kinski, Frederick Forrest e Raul Julia. Vale a pena rever. Por último, uma lembrança: hoje, "Tensão no Rio", de Gustavo Dahl, tem exibições apenas às 14 e 16 horas no Ritz. a noite, ali haverá a pré-estréia de "Sonho Sem Fim", para convidados. LEGENDA FOTO 1 - Uma saga dos tempos pioneiros do cinema: "Sonho Sem Fim", o belo filme de Lauro Escorel, sobre o gaúcho Eduardo Abelim, estréia amanhã nos cines Lido e Ritz. LEGENDA FOTO 2 - Sábado e domingo, nas sessões Zig Zag do Plaza, continua em exibição "As Novas Aventuras da Turma da Mônica". Um bom programa, para as crianças.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
10
21/11/1986

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