Noel, um sujeito tão notável quanto Papai
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 21 de julho de 1974
A Livraria José Olympio Editora acaba de publicar Noel Nutels (memórias e depoimentos), volume cujo subtíulo indica precisamente sua natureza específica, pois que reúne na primeira parte 8 capítulos das inacabadas recordações pessoais do próprio Noel e, na segunda, vários depoimentos dos amigos dessa admirável figura humana de médico e indigenista. Falecido no Rio a 10 de fevereiro de 1973, Noel Nutels, nascido na Rússia [czarista] mas brasileiro naturalizado desde 1937, que dedicou toda a sua vida à causa dos nossos [índios], pouco tempo antes de derrotado pela doença que o abateu começou a escrever as recordações dos seus primeiros anos de vida no Brasil, tarefa que infelizmente não chegou a completar, deixando apenas 8 capítulos redigidos, o último aliás ainda inacabado. Reunindo essas páginas iniciais - que prometiam por sinal um memorialista de grande força - ao depoimento de vários amigos, a família de Noel fez do conjunto um livro que será epitáfio mais duradouro do que os gravados em pedra. Apresentados e coordenados por Antonio Houaiss, essas páginas de lembrança estão assinadas por Ariano Suassuna, Capiba, Rubem Braga, Jorge Amado, Dorival Caymmi, Joel Silveira, Otávio Malta, Edmundo Blundi, Irmãos Vilas Boas, Darcy Ribeiro, Osny Pereira, Hélio Pelegrino, Arnaldo Pedroso d' Horta, Antonio Calado, Jota Efegê, Fernando Sabino, Rachel de Queiroz, Carlos [Drummond] de Andrade e Caribé, toda uma orquestra de vozes retratando ou recordando o amigo, o médico, o indigenista, o humanista, o idealista, o sentimental, o folgazão, mas antes de tudo o homem em sua inteira grandeza, em sua completa estatura de verdadeiro santo leigo. Por isso, e porque da soma desses depoimentos surge um retrato, é que o organizador do volume pôde dizer com a mais profunda sinceridade: " Noel foi um santo, cuja hagiografia começa aqui".
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