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Aramis

Nostalgia circense num belo filme dinamarquês

RIO - Coincidência ou não, o tempo é a temática do primeiro filme da mostra competitiva no II FestRio, "Que hora são, senhor despertador", do húngaro Peter Bacsoh. Entre perseguições nazistas a um relojoeiro abandonado pela mulher e vítima da intolerância de um oficial da SS, fala-se muito sobre o passar do tempo. E o tempo é, ironicamente, o grande desafio a quem pretende acompanhar as múltiplas programações oferecidas pelo festival de cinema, televisão e vídeo do Rio de Janeiro: são centenas de filmes e vídeos em apresentações paralelas, vindos de mais de 50 países e oferecendo a (rara) oportunidade de se ter uma idéia do que está se fazendo em todo o mundo na área do cinema. No primeiro dia de exibições (sexta-feira) os dois primeiros filmes foram obras que fazem diferentes abordagens sobre o nazismo: o checo "que horas são, senhor despertador", de Peter Bacsoh e "um cuco no bosque escuro", produção checa, dirigida por Antonin Moskalyk. O segundo filme é um forte relato contando a história de uma bela garota checa adotada por Otto, comandante de um campo de concentração. Emília (ou Ingborg, nome imposto pelos pais adotivos) é loira e de olhos azuis. A esposa de Otto, Frieda, uma mulher que foi bela e hoje está inválida, é a própria personificação da maldade. Apesar de convencional e maniqueista em seu roteiro, o filme de Moskalyk significa um reencontro com o cinema checo, que nos anos 60 chegou a ter uma grande promoção no Brasil (em Curitiba, o saudoso cine-de-arte Santa Maria, lançou sucessos como "Um dia, um gato", "A pequena loja da rua principal", etc) mas que nos últimos anos tem estado ausente de nossas telas. O MUNDO DO CIRCO Se "Que horas são, senhor despertador" e "Um cuco no Bosque Escuro" não provocaram maior entusiasmo, da [Dinamarca] mas com elenco internacional, é uma grata surpresa. Focalizando o mundo do circo, este filme dirigido por Anders Refn, 41 anos (considerado um dos mais competentes cineastas dinamarqueses) lembra "Trapézio" (1955, de Carol Reed). Não é sem razão que já no prólogo, Burt Lancaster - ex-trapezista profissional e astro de "Trapeza" (ao lado de Gina Lollobrigida e Tony Curtis, lembram-se?) é citado como o homem que teria oferecido US" 250 mil dólares a quem conseguisse fazer o salto quádruplo em número de trapézio. Mas "Os Demônios Voadores" lembra também "The Clows", o inédito documentário de Fedrico Fellini (nunca exibido no Brasil mas a disposição em cópias de vídeo-cassete), pelo toque de nostalgia com que examina a decadência dos circos na Europa e o drama dos saltimbancos. Focando a ação sobre Lazlo (Mário David), pai de uma família de trapezistas, o filme fala dos sonhos dos artistas em viajarem para os Estados Unidos, as frustrações profissionais, dramas amorosos e pessoais. Um roteiro enxuto, com personagens bem [delineados], cenários atraentes - foi rodado na Dinamarca, Itália (inclusive o circo Orlando Orfei foi utilizado nas locações) e Paris ("Trapézio" também tinha seqüências na Cidade Luz), é uma produção que poderá conquistar o grande público. E não custa lembrar que a partir de "O maior espetáculo da Terra", 1951, de Cecil B. de Mille, houve todo um ciclo de filmes circenses - (A morte comanda o espetáculo", "O mundo do circo", etc) de grande êxito. Dublado em inglês (na cópia que veio para o festival, algumas legendas estão em dinamarquês, provocando risos na platéia), emotiva trilha sonora e bela fotografia, "Os demônios voadores" é nostálgico, bonito e sentimental. Um filme que se fosse visto pelo curitibano Lafayette Queirolo, nosso homem-símbolo do circo, provocaria lágrimas de emoção. Afinal, em seus verdes anos, o bom Lafayette - ao lado de seu irmão, Sergio (já falecido) e primos, formava "Os Diabos Voadores" dos tempos em que Chic-Chic (Otelo Queirolo) era a imagem maior dos saltimbancos do Sul do Brasil.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
26/11/1985

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