E o Brasil entrou na festa!
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de março de 1986
Para que negar? A torcida será por "O Beijo da Mulher Aranha", amanhã à noite, na festa de entrega do Oscar, no Dorothy Chandler Pavillion, em Los Angeles - um superespetáculo que se repete a cada ano, com todo o luxo e efeitos especiais que uma festa dessa dimensão tem direito. E com uma audiência mundial, o que valoriza cada vez mais esta festa do cinema, sempre no fim de março ou primeiros dias de abril.
Dirigido por um argentino (mas radicado há anos no Brasil), com dois atores americanos nos papéis principais - William Hurt e Raul Julia - e uma equipe internacional em sua pós-realização, "O Beijo da Mulher Aranha" é, entretanto, uma produção considerada brasileira. Foi rodada em São Paulo entre os fins de 1983 e princípios de 1984, tem um grande elenco nacional e, para nosso orgulho, há dois paranaenses diretamente envolvidos: a estrela Sonia Braga é maringaense e Mauro Alice, responsável pela montagem, é curitibano.
Se Sonia Braga - hoje superstar internacional em escalada no cinema americano - aparece pouco mas de forma marcante, coube ao modesto Alice o trabalho de editar o filme, reduzindo milhares de pés rodados numa metragem compatível com as exigências comerciais do cinema.
É a primeira vez que uma produção latino-americana consegue quatro indicações aos prêmios principais, incluindo o de melhor filme em igualdade de condições a produção americana. Há 27 anos, "Orfeu Negro", que o francês Marcel Camus realizou no Rio de Janeiro, com base na peça de Vinícius de Moraes, com um elenco nacional praticamente lançando internacionalmente a música brasileira que se renovava (Antônio Carlos Jobim, Luís Bonfá etc.) concorreu na categoria de melhor filme em língua estrangeira. Enfrentando quatro fortes concorrentes - o alemão "Die Brucke" (de Bernard Wicklo), o italiano "A Grande Guerra" (de Mário Monicelli), o dinamarquês "Paw" (de Astrid Henning-Jenssen) e o holandês "Dorp aan de River" (de Fons Rademakers), o filme de Camus acabou sendo premiado.
Três anos depois, seria a vez de "O Pagador de Promessas" de Anselmo Duarte, após ter conquistado a Palma de Ouro, em Cannes (o maior galardão já obtido pelo cinema nacional), ser indicado ao Oscar, ao lado de "Electra", do grego Michael Cacoyannis; "Quatro dias de Nápoles", de Nant Loy, "Tlayucuan", do mexicano Luís Alcoriza, e "Sempre aos domingos" (Les Dimanches de Ville d'Avray), do francês Serge Bourguignon, que foi o vitorioso.
Afora estes dois casos, o Brasil nunca mais teve outra participação direta na festa do Oscar.
Os argentinos têm ainda maiores motivos para fazerem uma grande torcida pela vitória de Hector Babenco: afinal ele é portenho. Mas há destaques do novo cinema argentino em duas outras categorias: o excelente "A História Oficial" concorre com a Hungria ("Coronel Reidl"), França ("Três Homens e Uma Criança"), Iugoslávia ("Quando o Papai Voltar a Casa") e a Alemanha Ocidental ("Angry Harvest") na categoria de melhor filme estrangeiro. E o excelente roteiro de "A História Oficial" - um filme político e denso, que talvez venha a ter lançamento no Brasil - concorre na categoria de roteiro original, com "De Volta para o Futuro", "A Testemunha", "Brazil - O Filme" (produção inglesa, que nada tem a ver com o Brasil) e "A Rosa Púrpura do Cairo", solitária nominação de Woody Allen a um único Oscar que poderá abocanhar neste ano.
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