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Aramis

O calote já tem o seu jornal oficial

Assim como a Fundação Rio criou um arquivo para preservar exemplos da imprensa alternativa que nos últimos anos tem surgido no Rio de Janeiro - dos mais modestos fanzines até corajosas publicações políticas - caberia também a alguma unidade desta nossa Capital tão pródiga em política cultural oficial criar um arquivo específico. Afinal, assim como os fanzines tem se multiplicado (alguns deles estão sendo recolhidos pela Gibiteca, mas sem qualquer preocupação maior de catalogação), também há curiosos jornalzinhos de público-alvo diverso. O mais recente - e original - circulou nas vésperas do Carnaval, distribuído especialmente em bancas de jornais e revistas, graciosamente. É o "Jornal do Calote", formato 31 x 15 centímetros, 8 páginas, que com o slogan de "Aqui, não pagou dançou", abre-se aos comerciantes (e particulares) que desejem denunciar publicamente aos que lhe passaram cheques frios. O único texto da publicação está em 8 linhas na primeira página, em forma de apelo publicitário: "Senhores comerciantes, anuncie aqui seus cheques devolvidos, duplicatas e títulos não pagos. Aqui todos vão ver quem deve e não paga: chega de calote, chega de ter prejuízos. Trabalhar duro, vender seus produtos e não receberem. Aqui todos vão ver. Chefes, esposas(os), irmãos, vizinhos, amigos e colegas. Vão saber quem não dá para confiar. Anuncie aqui e receba as dívidas, sem despesas e bem rápido". O jornal - contrariando ao que determina a lei - não tem expediente indicando de quem é a responsabilidade da publicação. Apenas na página 3, num quadrado de 2 x 2 centímetros está a indicação "Publicação Saade Publicidade - Rua Francisco Rocha, 1444 - Fone: 222-6669". A julgar por este primeiro número, os donos de postos de gasolina são os que estão mais dispostos a pagarem para "escracharem" (conforme a antiga gíria policial) os caloteiros. Nada menos que 65 cheques frios foram recebidos pelo Auto Posto Colito, ficando o Posto Senador com os 17 outros. O maior número de caloteiros é (ou era) correntista do Banestado (18), seguidos da Caixa Econômica Federal (11), Banco do Brasil (11), Itaú e Bradesco (8 cada). Os demais caloteiros distribuem-se entre 11 outros bancos. Há casos de cheques especiais e os valores variam de importâncias mínimas, inclusive em cruzados - e de cheques emitidos até há dois anos passados - a bem recentes. No passado, já existia os "homens de vermelho" - organização especializada em tentar cobrar dívidas de pessoas que viviam fugindo de seus credores, exacrando-os publicamente. Agora, se utiliza a página impressa. Que não se transforme em imprensa alternativa marrom.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
16/02/1991

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