Login do usuário

Aramis

O Cineasta Sérgio Ricardo (III)

Como é importante conhecer o pensamento do cinesta Sérgio Ricardo - assim como é fundamental assistir o compositor e cantor Sérgio Ricardo em seu show no Paiol (até domingo, 21 horas), vamos transcrever mais alguns trechos da lúcida entrevista que ele deu a Geraldo Mayrink, de "Veja", há 3 anos, mas ainda atual: 1) - "De meus três filmes, "O Menino da Calça Branca" é o menos conhecido. Eu fiz logo no começo da Bossa Nova, com um dinheiro ganho com música, em 1960/61. Inicialmente eu pensei em fazer o filme em 16 mm, achava que ia acabar mesmo sendo uma brincadeira. Mas naquela época eu já me interessava muito por cinema, vivia estudando cinema em livros e senti que poderia tentar de cara algo mais profissional. Na época todo mundo considerou "O Menino" uma loucura total, uma perda de dinheiro absoluta porque o curta-metragem não tinha nenhuma possibilidade de mercado. Por coincidência, uando eu estava jogando esse dinheiro fora, estava nascendo o cinema novo, com o "Couro de Gato", que o Joaquim Pedro dirigia, com "Cinco Vezes favela" e os filmes que Glauber ia trazendo da Bahia, etc. "O Menino" foi escolhido pelo Itamarati para representar o Brasil no Festival de São Francisco". 2) - "Tenho consciência de estar condenado a uma marginalidade dentro do cinema. E digo que essa marginalinalidade, ao contrário de me aborrecer, me deixa muito contente. Não é de agora que eu venho sofrendo esse tipo de marginalidade em arte. Minha música nunca esteve de acordo com alguma linha-mestra musical que se estivesse fazendo no Brasil em qualquer época, muito embora tivesse sido confundida com bossa nova, música de protesto etc. E essa marginalização da minha obra provoca uma igual marginalização por parte de quem a divulga. O brasileiro, de uma maneira geral, é limitado no seu campo de conhecimentos, não está muito aberto para o novo. É muito bitolado quando parte para racionalizar. Aceita emocionalmente, mas depois não encontra parelelo com alguma coisa que se esteja fazendo, a coisa tem valor para ele por não saber julgá-la, mas ele não sai defendendo. Agora, se "Juliana" fosse um filme que estivesse dentro do cinema novo, ou do que faz o Rogério Sganzerla ou aquele outro menino lá do Rio, então já estaria rotulado e defendido por uma camada. Agora, eu acho engraçado algumas pessas me censurarem em relação a isso. Se o fundamental é fazer uma coisa diferente, como é quem, quando a coisa é feita, ela se torna digna de piche? Afinal, eu acho que o máximo que uma pessoa pode ter em matéria de visão política e social em arte é mais ou menos o que tenho. Eu não posso desclassificar o meu filme nesses termos. Se um filme não atinge um objetivo, esse filme para mim é frustado. E alienado, se não atinge a massa". 3) - "Eu como artista tenho uma necessidade muito grande de comunicação. Não me basta um grupo que pensa igual a mim gostar de minha obra. A mim conforta muito mais um julgamento mais trancendente. Se minha obra fica reduzida a um grupo, pode ter seu valor, mas não tem importância. A Bossa Nova, por exemplo, só teve importância para mim no momento em que vi João Gilberto sair dos apartamentos e começar a se dirigir ao público. Eu acho que o consumo pelo consumo é errado. É preciso dar ao sujeito que vai ao cinema, paga para ver um filme e gosta, um pouco mais que isso. Que, pelo menos, ele aprenda alguma coisa".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal do Espetáculo
14
07/11/1974

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br