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Aramis

O cinema em revista (com muitos livros)

Em várias frentes, a indústria editorial está descobrindo as possibilidades do cinema impresso. Embora ainda estejamos longe da fartura que existe na Europa e Estados Unidos, com centenas de livros relacionados ao cinema que aparecem mensalmente, começam a acontecer edições destinadas a vários segmentos. Desde obras ambiciosas e caras - como o famoso volume de entrevistas de Alfred Hitchcock a François Truffaut, que a Brasiliense promete colocar nas livrarias dentro de algumas semanas - até adaptações para jovens de roteiros com filmes de sucesso. Rapidamente, eis alguns registros. DESPERTAR OS JOVENS - para o cinema, formando novas gerações de cinéfilos - como aquelas das décadas de 30 a 50 - é uma preocupação válida, pois, caso contrário teremos as salas de exibições despovoadas. Duas editoras voltam-se a isto. A Francisco Alves criou uma série de livros atraentes, com ilustrações coloridas, roteirizando em poucas páginas argumentos de filmes de maior popularidade. Os três primeiros volumes trazem "Mad Max - Além da Cúpula do Trovão" com texto de Ann Mathews (54 páginas, Cz$ 150,00); "Os Goonies", filme de Donner, roteiro de Chris Columbus (64 páginas, Cz$ 120,00) e "Explorers - Viagem ao Mundo dos Sonhos", histórias adaptadas por Ann Matthews do roteiro de Erik Luke (também 64 páginas, Cz$ 120,00). Já a Record, que sempre deu atenção ao lançamento em forma de livros das estórias de filmes de sucesso, aproveitou o êxito de "O Enigma da Pirâmide" (em cartaz há 2 meses em Curitiba, agora no Lido II), para apresentar a forma de romance (texto de Alan Arnold) do roteiro de Chris Columbus (tradução de Aulyde Soares Rodrigues, 192 páginas, Cz$ 57,90). Como os direitos autorais da obra de Conan Doyle caíram no domínio público, os personagens Sherlock Holmes e Dr. Watson estão livres para quem quiser escrever a respeito. Columbus escreveu um interessantíssimo roteiro, levado à tela por Barry Levison em produção de Spielberg. A RECORD também editou o texto de Arnaldo Jabor, base do roteiro de "Eu Sei Que Vou Te Amar", filme que representando o Brasil disputou a Palma de Ouro em Cannes. O texto de Jabor é belíssimo e a leitura das 152 páginas ajuda a penetrar melhor neste filme com apenas dois intérpretes - Fernanda Torres e Thales Pan Chacon - que deve estrear nos próximos dias no cine Astor. Também pela Record temos, finalmente, um excelente romance italiano, "O Jardim dos Finzi-Contini", de Giorgio Bassani, que, em 1971, foi levado ao cinema por Vittorio De Sica (1902-1974), com Dominique Sanda e Helmuth Berger, transformando-se no último grande filme do mestre do cinema neo-realista. Bassani, jornalista e poeta, encontrou em De Sica a experiência e sensibilidade para transpor à tela uma trama de acentuados matizes psicológicos, em que a realidade trágica e cruel se confunde com a fantasia e o lirismo presentes na lembrança do narrador. Um livro tão emocionante quanto foi o filme. Tradução de Sandra Lazarini, 222 páginas, Cz$ 64,90. Premiado com 7 Oscars, "Entre Dois Amores" (Cine Lido II, há 2 meses em cartaz) fez com que se voltasse os interesses para a obra da escritora dinamarquesa Karen Blixen, aliás Isak Dinesen, especialmente "Out of Africa" ("Uma Fazenda na África"), cuja tradução em português, de Per Johns, já havia sido lançada, em 1979, pela Civilização Brasileira. Como a obra estava esgotada a Civilização reedita agora este romance impecavelmente bem escrito (340 páginas, Cz$ 87,00), no qual Isak Dinesen descreve sua vida na África, com toda a ternura e emoção que o filme de Sidney Pollack tão bem conseguiu transpor à tela. HUSTON/LUBITSCH/ZINNERMANN - Fernando Alberin, diretor da indústria da EBAL e apaixonado por cinema, vem conseguindo fazer com que "Cinemin" tenha uma admirável periodicidade, preenchendo um espaço na área de revistas de informações cinematográficas. E dois de seus mais regulares colaboradores são A.C. Gomes de Mattos e Sergio Leemann, cinemaníacos furiosos que sabem tudo sobre cinema americano. Ratos de cinematecas, donos de arquivos incríveis, Mattos e Leemann felizmente se dispuseram a repartir com o público um pouco do que reuniram sobre os grandes cineastas americanos e assim estão publicando o primeiro volume daquilo que Alberin promete ser "Edições Cinemin". Um livro de 118 páginas, vendido a Cz$ 100,00 com sínteses biográficas, análises das obras e completas filmografias de três mestres do cinema: John Huston, Ernst Lubitsch e Fred Zinnermann. Como obra de referência, absolutamente indispensável! ENSAIOS - Se há livros com adaptações de roteiros e obras de referência, há também ensaios. Por exemplo, pela L&PM, coleção Universidade Livre, o crítico Paulo Paranaguá, há anos radicado em Paris, publicou um belíssimo estudo sobre "Cinema na América Latina", levantando filmografias dos países do Continente. Já o crítico paulista Jairo Ferreira, 40 anos, ex-Folha de São Paulo, em co-edição da Embrafilmes [Embrafilme]/Max Limonad, publicou o excelente "Cinema de Invenção", inventariando todo o cinema "underground" produzido no Brasil nos últimos 20 anos. Mais ensaísta do que crítico, José Carlos Avellar, ex-"Jornal do Brasil", hoje diretor da área cultural da Embrafilmes [Embrafilme], produz textos da maior profundidade, com reflexões demoradas (às vezes até exaustivas, mas sempre brilhantes) sobre o cinema.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Leitura
8
18/05/1986

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