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Aramis

O cinquentenário do Avenida (II)

A situação do Palácio Avenida é extremamente delicada e para sua preservação, como estrutura física e manutenção de algumas áreas, ao menos no térreo, para fins comerciais, capazes de evitarem o esvaziamento ainda maior da Avenida Luiz Xavier, a decisão é, em último instância do presidente do grupo Bamerindus, Edson Vieira. Afinal, foi uma das empresas de sua organização, a Seguradora S/A, que adquiriu há 5 anos, exatamente no dia 22/2/1974, por Cr$ 13.500.000,00, o prédio que o empresário Ferez Nehry (1874-1946) haverá construído há 51 anos passados, com 39,5 metros de frente para a Avenida João Pessoa e 58,62 para a travessa Oliveira Belo - uma área total de 2.527 metros quadrados e três andares. Pela legislação de zoneamento, mesmo demolindo-se o prédio, não será possível construir um prédio mais alto - de forma que neste aspecto não há vantagens em sua destruição. Já chegou a pelo menos seis as sugestões viáveis, capazes de conciliar os interesses da cidade com a justa visão empresarial do grupo Bamerindus, que investido uma considerável soma naquele patrimônio - e do qual, passados cinco anos, não pode ainda retirar nenhum proveito - também não pode, simplesmente ter seus interesses prejudicados. Com o fechamento dos cines Ópera e Arlequim, a 9 de janeiro último, provocado pela venda de dois prédios que o comerciante Husseim Handar possui no largo Frederico Faria de Oliveira ao grupo Lojas Americanas S/A, houve relaxos naturais. Pois desapareceram dois cinemas e o café Damasco, no térreo do edifício Heloísa - ao lado de onde havia o cine Ópera - é praticamente o último dos cafés restam naquela que foi a Cinelândia, já que o café Tiradentes, anexo ao bar e restaurante Guairacá, ocupando parte do térreo do Palácio Avenida, cerrarão suas portas dentro de 22 dias, conforme acordo firmado entre os seus proprietários e os advogados do Bamerindus. Restará, então, na Avenida Luiz Xavier um único café - assim mesmo sujeito também a fechar tão logo o proprietário do edifício Heloísa, Husseim Handar, decida ocupar aquela loja. O cine Avenida, inaugurado exatamente há 50 anos - 9 de abril de 1929, teve fases de glória e se desde a primeira metade dos anos 60 começou a ter a subfrequência transformada foi uma conseqüência natural da concorrência de novos cinemas que se instalaram na cidade, atraindo um público mais sofisticado. Mas mesmo com uma freqüência classificada de "b" e "C", tem uma renda ótima - de Cr$ 150 a Cr$ 300 mil por semana - e seu fechamento reduzirá ainda mais as possibilidades de lançamentos da cidade, já que, de momento, nenhum empresário anima-se investir de Cr$ 3 a Cr$ 5 milhões na instalação de novos cinemas (o último inaugurado em Curitiba foi o Ribalta, o mais confortável da cidade, mas que pela distância e falta de uma programação mais ágil vem sobrevivendo com imensos prejuízos ao seu proprietário, João Deckmann). Mas muito mais do que razões sentimentais ou cinematográficas - embora estas contem bastante - o que deve pesar na decisão dos homens que terão a responsabilidade de reciclar o Palácio Avenida, como um espaço capaz de reativar a freqüência ao centro da cidade, especialmente no período noturno - ou, simplesmente, concordar com sua substituição por um prédio de linhas arquitetônicas avançadas, dois pavimentos - mais o subsolo - é o aspecto de um filosofia globalizante da cidade. E, por uma feliz coincidência, o arquiteto Jaime Lerner que, em sua primeira administração, enfrentando as maiores resistência, provou o acerto de reservar aos pedestres o centro da cidade, tem agora, como primeiro e maior desafio - este problema. A compra do Palácio Avenida do grupo Bamerindus pela prefeitura ou Estado - que seria a solução ideal - é, ao menos de momento, impossível, considerando-se a valorização imobiliária nestes 5 anos. Basta dizer que se em agosto de 1975, o comerciante Husseim Handar pagou apenas Cr$ 18.000.000,00, pelo conjunto de 3 prédios do professor David Carneiro - edifícios Heloísa/Carlos Monteiro/anexo - entre a Avenida Luiz Xavier, em janeiro último, vendedor apenas parte deste espaço - menos de 1.300 metros - as Lojas Americanas S/A, receberam um cheque de Cr$ 47.645.000,00, assumindo ainda o grupo adquirente os ônus de indenizar a Triunfo Cinematográfica (Fama Filmes) em Cr$ 4 milhões para desocupação imediata dos cines Arlequim e Ópera, mais cerca de Cr$ 3 milhões aos demais inquilinos: pastelaria Cacique, uma lanchonete, a loja de roupas "Lou`s", a loteria Preferida e o hotel Willytur (ex-Tijucas), que, em 72 horas, desocuparam os imóveis. Em menos de 60 dias a demolidora Brasil derrubou o edifício Carlos Monteiro (onde se localizava o cine Arlequim, projeto do arquivo Fernando Carneiro, inaugurado a 13 de julho de 1955, com "Sem Barreiras no Céu") e o prédio anexo - e parte dos fundos da extensão do antigo cine Ópera. Agora, o local já está livre para receber as obras que permitirão as lojas Americanas inaugurarem, possivelmente ainda este ano, uma grande extensão, em forma de "L", com saída para o largo para o largo Frederico Farias de Oliveira. Handar vendeu, assim, com um lucro de Cr$ 29.650.000,00, apenas um espaço de 43x31 metros de sua propriedade, conservando o edifício Heloísa, com 18,60 metros para a Avenida João Pessoa e 50 de fundos - onde ainda não iniciou nenhuma, mas que pretende transformar num grande magazine de sapatos e roupas feitas - ramo que conhece, pois se assim não fosse não seria hoje, aos 44 anos, 26 de Brasil e desde 1957 em Curitiba - onde começou como modesto gerente de um bar - dono de um dos maiores patrimônios imobiliários do Paraná. Tente-se usando-se o mesmo raciocínio, calcular então o quanto vale hoje o Palácio Avenida. Oficialmente o projeto da Bamerindus Corretora de Seguros S/A é derrubar o edifício Avenida - e há um ano chegou até a conseguir a autorização da Prefeitura para tanto, só não comercializando devido a resistência de alguns inquilinos - e no local construir dois pavimentos, com uma área total de 3.321,89 metros quadrados, conforme projeto do arquiteto Renato Muller - cujos méritos estéticos não entra em discussão. O arquiteto Sérgio Todeschini Alves, diretor do Patrimônio Histórico e Artístico, chegou a elaborar um projeto - discutível mas bem intencionado - sugerindo a manutenção das paredes externas do prédio e a construção interna de uma torre de vários andares. Jaime Lerner, já apenas como arquiteto, após ter deixado a Prefeitura, também fez sugestões no sentido do aproveitamento do Palácio Avenida como um possível centro de convenções. Na administração Saul Raiz, o presidente do IPPUC, Lubomir Ficinski, procurou sensibilizá-lo a respeito - mas não houve condições de se encontrar uma solução - que, afinal, depende de muita boa vontade e sentido comunitário do grupo Bamerindus - para com a filosofia urbanística que se pretende para a cidade. Agora, coincidentemente Lerner retorna a Prefeitura e apesar da roda-viva em que se encontra - com múltiplos assuntos a solucionar, a curtíssimo prazo, colocou este tema como prioridade. E assim é possível que se foi a 9 de abril de 1929 que o cine teatro Avenida foi inaugurado com a companhia "Tro-LoLó", apresentando a revista "Rio-Paris"- e a primeira exibição de cinema só ocorreu a 1o .de maio, com a estréia de "Moulin Rouge", na primeira versão da novela de Pierre LaMure sobre a vida e os amores do pintor Toulouse-Lautrec (1884-1901) - neste próximos 22 dias, seja encontrado uma solução para ambos os interesses: a cidade e o Bamerindus. E, no dia 1o de maio, possa ser anunciada uma boa notícia para quem sabe entender que uma comunidade é mais do que prédios frios, números e lucros. Afinal, hoje, neste domingo, o Avenida está exibindo um filme chamado "O Milagre - O Poder da Fé"- que pode trazer bons fluídos a compreensão daqueles que decidirão o futuro do palácio construído pelo velho Mehry, há 51 anos passados.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
08/04/1979

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