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Aramis

O colonialismo cultural imposto pelas emissoras

Mais do que nunca é preciso clamar: a música brasileira precisa de espaços. Parece o óbvio ululante ao que se referia o velho e sábio Nelson Rodrigues, mas é necessário denunciar a invasão do pior som pop descartável e a redução dos espaços de nossa música. Exemplos não faltam: Hilton Barcelos levou cinco anos para conseguir produzir o seu elepê "Arquétipos" e até agora poucas emissoras da cidade estão divulgando ao menos uma faixa deste disco com composições avançadas, belos arranjos de Roberto Burgel e que reuniu ótimos músicos. "Optimun in Habbeas Coppus", o elepê que o empresário Sérgio Bittencourt produziu e que o guitarrista e cantor Arcy Neves, do grupo Os Metralhas, viabilizou em apenas 60 dias, não está tendo a promoção que merecia. Mesmo reunindo diferentes compositores e intérpretes entre o pessoal de talento que se apresenta no Habbeas Coppus e tendo inclusive uma esplêndida regravação de "Vestido Branco", do sempre lembrado Lápis (Palmilor Ferreira Rodrigues, 1943-1978), na voz do veterano Bráulio Prado, 47 anos, cantor desde os 4 anos quando começou no Clube Mirim M5 (Rádio Guairacá), o elepê esta sendo apenas divulgado em poucas emissoras. Não se trata de xenofobismo mas os programadores e diretores das rádios deveriam entender que só prestigiando os nossos artistas é que se poderá dar um estímulo necessário para que o Paraná deixe a mendicância musical-fonográfica que vive - ao contrário do que acontece em outros estados. Concessionários de veículos de comunicação que devem se voltar prioritariamente a cultura, os donos de emissoras, infelizmente, preferem preencher seus espaços com o lixo do pop internacional, imposto pelas multinacionais dentro de mastodônticos esquemas de marketing, do que dar espaço a compositores da terra. Na Bahia e no Rio Grande do Sul ocorre o inverso. A maioria das rádios executa "ad nausean" os discos de artistas locais, sem discutir méritos artísticos (que, afinal, se faltam nos brasileiros, também faltam nos estrangeiros) e graças a isto a presença fonográfico-musical dos gaúchos e baianos é aquilo que todos sabem: intensa. Só no Rio Grande do Sul, até hoje, já foram produzidos mais de 5 mil elepês com artistas locais, em todos os gêneros e estilos. Lá existe meia dúzia de etiquetas atuantes e inclusive uma fábrica de prensagem (com os equipamentos que pertenciam a Rozemblit, de Recife), enquanto que moderníssimos estúdios de gravação multiplicam-se. Da Bahia, chegam constantemente novos artistas, catapultados especialmente com ritmos afro-brasileiros, fazendo sucesso o ano inteiro mas alcançando o pique no Carnaval. Relacionar nomes seria exaustivo e ultrapassaria o espaço reduzido desta coluna - na qual não nos cansaremos de denunciar este vazio cultural existente entre nós e, especialmente, o descaso de veículos de comunicação - especialmente as rádios - em relação às produções paranaenses. Afinal, ficou famoso o caso de um radialista catarinense que adquirindo uma emissora em Curitiba, teve como primeira providência a determinação de suspender a execução de qualquer disco de artista paranaense. Entre palavrões e xingamentos, deu o exemplo quebrando vários elepês e compactos dos poucos artistas locais que conseguiram até hoje fazer seus registros em vinil. Assim não dá!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
10/01/1991

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