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Aramis

O comunicativo Sait-Preux e a boa música checoslovaca

Uma das grandes contribuições para uma maior difusão da música clássica vem sendo feita pelo pianista e compositor francês Saint-Preux, a que ainda não se deu, no Brasil, a divulgação merecida - embora em termos de vendagem esteja encontrando excelente aceitação, para alegria da Top Tape, que teve a felicidade de contar com sua presença num dos catálogos internacionais que aqui representa (Heloise Disques). Não pretendendo (re) inventar nada - muito pelo contrário, dezenas de outros exemplos poderiam ser citados, se fizéssemos uma pesquisa mais demorada, Saint-Preux [busca] oferecer sua formação erudita [numa] linguagem suave, facilmente consumível, mas contrbuindo mais para que um grande público até então retratário [à] chamada música clássica se aproxime dos grandes mestres eruditos do que as custosas promoções oficiais, realizadas aparentemente para esta finalidade. Em seu mais recente lp lançado no Brasil ("Le Piano Sous La Mer", OW 516) Saint-Preux nos oferece um trabalho de maior fôlego - uma suave e pequena sinfonia com o nome de "Conte Musical", inspirado pelo mar e criada pelo pianista quando esteve no golfo de Girolata. Dividido em 10 tempos/temas - "Le Départ", "Ler Voyage", "L'appel de la Sirène", "La Tempête", "Le Naufrage", "Le piano sous la mer", "Le concert sous-marin", "La rencontre", "L'ivresse des profundurs" e "Le Gouffre amer" - este trabalho de Saint-Preux merece ser apreciado com toda atenção - mesmo pelos elitistas que exigem a "pureza" da música erudita, mas que falam em "democratização da cultura", pretendendo que o grande público aceite obras complicadas, de difícil entendimento . Saint-Preux ao piano, mais um pequeno (mas extraordinário) grupo de instrumentistas - os violonistas Patrice Mondon e Michel Goyot, o ex-salto Alain Dubois, o violoncelista Andres Rolland, o contrabaixista Henri Voitokowiak, o flautista Thomas Prevost, os guitarristas Claude Engel e Antoine Rubio, o baterista Pierre-Alain Dahan e a vocalista Christian Padovan, oferecem neste [álbum] um exemplo de música de qualidade, capaz de atingir a um imenso público. A mesma Top Tape, José Rozemblit Sobrinho - homem que sabe tanto lançar o melhor jazz como a boa música erudia, começa a introduzir no Brasil a etiqueta checoslovaca Supraphon, com um imenso e importante catálogo, até agora totalmente desconhecido, mesmo pelos mais bem informados colecionadores da música da Europa Central. Assim, com a Orquestra [Filarmônica] Checoslovaca, sob a regência de Karel Ancerl, temos o "Concerto" em Mi Menor para violino e Cello (com solos de Josef Suk e Andre Navvara respectivamente) e "Trágica Overture, [Opus 81" de Johannes Brahms (1833-1897). Com a mesma orquestra e regência, é "A Missa Glagolítica", cantada para solos, coros, orquestra e orgão, composta entre 5 de agosto a 15 de outubro de 1926, por Leos Janacek (1854-1928). Karel Ancerl, 66 anos, regente da [Filarmônica] [Checoslováquia], teve em 1933 a primeira oportunidade de reger profissionalmente, ao tomar, a seu cargo, a direção da orquestra da Rádio Checa. Aí começou a sua sempre crescente reputação, especialmente como intérprete de música moderna, sendo convidado a reger em Paris, Viena e Barcelona. Em 1938, quando os nazistas invadiram a Checosloováquia, Arcerl foi retirado de seu posto e transformado em ferroviário e em 1942 internado num campo de concentração - onde foi sacrificada toda sua família. Mas depois da guerra voltou a reger, assumindo a direção da Orquestra Filarmônica Checa há 24 anos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal do Espetáculo
12
22/10/1974

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