O concerto gravado do Duo Carrasqueira
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 31 de janeiro de 1991
Mesmo as maiores gravadoras na área dos clássicos - como a Polygram, CBS e EMI/Odeon - são relutantes na produção de alguns álbuns com música erudita com artistas brasileiros. Poucos são os nossos virtuoses que conseguem gravar regularmente - e só quando um artista consegue atingir a popularidade do pianista Arthur Moreira Lima as coisas tornam-se mais fáceis. Aliás, Moreira Lima, que em breve deve vir a Curitiba para um novo concerto, atreve-se a arriscadas incursões no popular e sua última ousadia será um recital com Nelson Gonçalves - no qual "Metralha", com seu vozeirão, vai dispensar inclusive o microfone. Constantino Viaro, diretor da Fundação Teatro Guaíra, já foi sondado para reservar uma boa data para este concerto.
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Pequenas etiquetas, entretanto, tem investido na área da música erudita. Por exemplo, Lauro Henrique, da L'Art, formou um catálogo de primeiro nível, produzindo inclusive alguns álbuns do pianista Fábio Luz, virtuose que era conhecido na Itália - onde reside há anos - mas desconhecido no Brasil. Mário de Aratanha, da Kuarup, também tem realizado ótimos álbuns de música clássica, com nomes como o violinista Turíbio Santos (que agora criou seu próprio selo) e o Quarteto Bessler-Reis. Já com Comep - Instituto Alberione (Rua Botucatu, 171, CEP 04023, de São Paulo), lançou no final do ano um excelente álbum que passou meio desapercebido nas lojas - mas que deverá ter seu interesse ampliado quando os artistas que gravaram - o Duo Carrasqueira, conseguir fazer um concerto em Curitiba (só que com a desativação da Pró-Música, os recitais praticamente cessaram em nossa programação). Formado pelos irmãos Maria José (piano) e Antônio Carlos (flauta), filhos de João Dias Carrasqueira - decano dos flautistas brasileiros - o Duo bancou praticamente esta produção, abrindo uma série chamada Régia Música.
A triagem inicial foi de 2 mil cópias e em fevereiro prevê-se uma edição de "In Concert" - em compact-disc. Maria José e Antônio Carlos desenvolveram carreiras no Brasil e no Exterior, destacando-se sobretudo pela valorização da música no Brasil "e também pela garimpagem de repertório sempre diversificado", como diz o crítico paulista João Marcos Coelho.
Esta é a razão pela qual "In Concert" propõe não só execuções maduras como também entrecruza e funde concepções musicais tão diversas como a "Mazurca" do boêmio da Lapa Patápio Silva (1881-1907) e o "Synrex" de Claude Debussy, onde a flauta de Antônio Carlos mistura-se aos pré-gravados sons de pássaros e da floresta tropical. Assim, no disco misturaram-se a "finesse" francesa de Favre, Poulenc e de Cecile Chaminade (compositora acantonada à flauta) e o vigor e o sincretismo popular da "Bachianas Brasileiras" nº 6, onde Villa-Lobos coloca em confronto na arena sonora a flauta e o fagote (executado por Sérgio Lima Gonçalves, o "Mamão").
Gravado entre julho/agosto de 1990, no estúdio da Comep, em São Paulo, "In Concert" abre uma série de gravações com músicos e instrumentistas brasileiros. "Sem pretender a rivalidade subjacente do magro mercado dos registros fonográficos para a música do concerto no Brasil", como diz o maestro Aylton Escobar no texto de contracapa, "mas constar enquanto oferenda feita em casa".
LEGENDA FOTO - Maria José e Antônio Carlos Carrasqueira: um duo mostrando a melhor musica.
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