O festival reformulado para evitar injustiças
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 31 de julho de 1987
A sugestão foi feita e aprovada: a partir de 1988, o Festival da Canção Regional de Cascavel terá as finalistas escolhidas apenas após o segundo dia. Ou seja, o júri ouvirá todas as canções selecionadas para só então apontar as 12 que disputarão a premiação.
É a forma mais justa para as concorrentes. Este ano, com a camisa-de-força que obrigou o júri a selecionar já na noite de quinta-feira, 23, seis entre as 15 concorrentes, foram beneficiadas músicas medíocres e que, numa avaliação mais rigorosa, jamais passariam até da primeira fase. Em compensação, na segunda noite, com uma elevação no nível das músicas em disputa, algumas bonitas candidatas acabaram ficando de fora. Em síntese: mediocridades chegaram ao final (e farão parte do elepê do Festival), enquanto canções de qualidade saíram do páreo.
Pouco a pouco, o regulamento do FERCAPO vem sendo aprimorado e agora uma comissão presidida pelo advogado e empresário Paulo Afonso Seara vai trabalhar para que até o final do ano já exista um documento legal, com a nova orientação do Festival - inclusive propondo novas categorias de premiações. Este ano, sugerimos a inclusão do melhor instrumentista, sendo premiado Watherly Figueiredo, 24 anos, o "Teleu". Bom executante da viola caipira - num páreo duro com o paulista Paul Garfunkel, 32 anos (o "Magrão"), saxofonista e flautista que tem vencido festivais em vários Estados. Também a melhor letra deverá merecer premiação a partir de 1988.
Festivais regionais de MPB multiplicam-se no Brasil afora e mesmo no Paraná, mensalmente acontecem em pequenas e médias cidades. Infelizmente, são promoções amadorísticas, misturando interpretação com composição, sem critérios técnicos de julgamento e prêmios pouco animadores. O FERCAPO, graças a visão dos diretores do Tuiuti E.C., entidade que patrocina o evento desde 1971, solidificou-se como uma promoção cultural que tende a se ampliar como um núcleo gerador de outros eventos paralelos. Um dos aspectos mais sérios já foi vencido: eliminar o protecionismo, que durante tanto tempo, o prejudicou, para em favor de candidatos locais, serem eliminados competidores de melhor voltagem, vindos de outros Estados. Afinal, um festival de música não pode se basear em certificado de nascimento para premiar os melhores, e se os "ratões" que fazem o circuito dos festivais mais conceituados chegam de São Paulo, Minas ou Belém do Pará, isto apenas engrandece a competição em termos artísticos.
Infelizmente, as premiações são poucas e os candidatos são muitos, de forma que existem aquelas que mostram talento mas não o suficiente, para que na soma de votos obtenham destaque maior. Por exemplo, a interessante cantora Deborah, com voz lembrando Tetê Espíndola, valorizou a composição de seu irmão, Marcelo - "Artista", com uma boa estrutura de letra. Também Neiva e Marilene, afinadas, deram um bom timing a "Melódica", composição de Mafra, mas que não chegou ao final. Buscando o tema ecológico, valorizando extremamente o instrumental, "Pantanal" (Calil Abamansur / Valdomiro Zanini) trouxe um interessante grupo, o Koribi, formado por Calil no piano e Valdomiro na flauta. Isoladamente, o Koribi seria candidato forte.
A escolha da gaúcha Denisen Ton ("Cio de Lágrimas") como melhor intérprete do FERCAPO, não teria sido unânime se a canção "Presságio" (Maurício Galan), de Ponta Grossa, tivesse chegado ao final (foi uma das cortadas na sexta-feira). Sua intérprete, a bela morena Regina Guiné, mostrou garra e emoção.
E como outra famosa cantora que saiu de Ponta Grossa, a hoje internacional Denise De Kalafe, há 13 anos vivendo no México, rica e famosa (é uma espécie de Maria Bethânia naquele país), Regina canta de pés descalços. Belos pés, aliás!
LEGENDA FOTO - Neiva, intérprete de "Melódica".
(Foto Neri)
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