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Aramis

O filme de um milhão de dólares contará "A República dos Anjos"

Durante quase três horas o soldado disparou a metralhadora contra a menina vestida de branco, na madrugada de um verão de 1925. Ela falava com os anjos, enfrentava balas e foi capitão do exército na revolução constitucionalista de 1932. Tinha nessa época 23 anos de idade. Benedita Cipriano Gomes nasceu em 13 de abril de 1909, no sítio Ipanema, município de Pirenópolis, e integra a história e as lendas de Goiás como líder política e figura mística, que tinha poderes e fazia curas milagrosas. Ficou conhecida como Santa Dica entre as pessoas crentes e sua fama atravessou as fronteiras de Goiás. Falecida em 9 de novembro de 1970, está enterrada em frente a sua casa, a seu pedido, debaixo da velha gameleira que refugiou sua comunidade durante o massacre de 1925. Cultuada pelos humildes, usada nos anos 20, politicamente, pelos poderosos mas ignorada até hoje pelos historiadores, a figura mística e revolucionária de Santa Dica surgirá agora, na interpretação de uma das mais promissoras atrizes da nova safra - Denise Milfont (lançada na minissérie "O Pagador de Promessas", Rede Globo), numa superprodução de US$ 1 milhão que teve suas últimas seqüências rodadas em outubro no Estado de Goiás. Iniciando agora a fase de montagem o diretor Carlos Del Pinto, 42 anos, uruguaio há 21 anos no Brasil - período em que trabalhou em mais de 30 importantes filmes com nomes representativos do cinema Novo, em diferentes funções, vem se empenhando em levar a tela a verdadeira epopéia de Dona - ou Santa - Dica, há mais de 15 anos. Só este ano conseguiu viabilizar a produção, através da associação do setor de turismo que está investindo em cinema (no Rio de Janeiro, financiou "Jardim de Alah", de David Neves e tem vários outros projetos em andamento). Uma tradução que foge da pobreza tradicional do cinema brasileiro, com um grande elenco e mais de 3.700 figurantes em muitas seqüências, "Santa Dica - A República dos Anjos" a maior produção cinematográfica nestes últimos dois anos. Entretanto, assim como a personagem Benedita Cipriano Gomes continua hoje, 19 anos após a sua morte, totalmente esquecida da história oficial - embora tendo liderado um movimento messiânico que alguns estudioso comparam, embora em menor escala, aos de Canudos (Bahia) Muckers (Rio Grande do Sul) e Contestado (Paraná-Santa Catarina) - também sobre o filme de Carlos Del Pino, até agora nada se falou. Portanto, em formações sobre a figura mística de Santa Dica - e do filme em realização sobre a sua vida. - "A única explicação para o esquecimento na história oficial de uma figura da dimensão de Benedita Cipriano Gomes é a incompetência e preguiça dos historiadores"- explica Del Pino, entusiasmado com o que encontrou de conotações sociais e políticas na vida desta personagem. Só após ter se interessado pelo tema - e há 13 anos feito um vídeo-piloto ("Santa Dica dos Sertões"), para convencer a família a lhe dar autorização para iniciar a produção (e o mostrando para possíveis financiadores do projeto, inclusive no Exterior) é que uma professora goiana, Laura Vasconcelos, se interessou pela personagem - trabalhando a seu respeito para uma tese de doutoramento, ainda inédita. Produção ambiciosa, cuja montagem será desenvolvida pelo próprio diretor, "Santa Dica - A República dos Anjos" não tem data prevista para lançamento. - Mas será um filme para representar o Brasil num festival internacional - garante, com otimismo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
5
26/11/1989

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