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Aramis

O herdeiro vocal de Frank Sinatra

Se o sonho de assistir, ao vivo, Frank Sinatra, é hoje uma quimera impossível - com o The Voice aos 70 anos - completados no dia 12 de dezembro do ano passado - a compensação é ouvir aquele que, merecidamente, é apontado há pelo menos 15 anos como o seu melhor herdeiro: Tony Bennett. Como Francis Albert Sinatra, Anthony Deminick Benedetto é nova-iorquino. Só que enquanto Sinatra do bairro de Hoboken, em New Jersey, Tony é do Queens, mais central em Manhattan - mas também bem mais barra pesada. A carreira de Bennett foi menos tumultuada do que a de Sinatra e talvez a ausência de uma atividade cinematográfica o tenha reduzido em sua popularidade internacional. Foi preciso um sucesso - "I Left My Heart In San Francisco" para que o mundo (re)conhecesse a força de uma das mais belas vozes desta segunda metade do Século XX. É bem verdade, que alguns anos antes - em 1951, logo após ter deixado a Marinha (onde serviu durante a II Guerra Mundial) e quando ainda se apresentava com Bob Hope e Mitch Miller, Tony havia gravado uma música de relativo êxito - "Cold, Cold Heart". Mas foram necessários muitos anos até chegar a se apresentar no Carnegie Hall ou fazer a histórica performance com a London Philharmonic Orchestra, em 1971. Para os que ainda torciam o nariz frente ao romantismo de Bennett, a prova definitiva de seu nível artístico veio, finalmente, em 1976, num encontro com o mais requintado pianista de jazz, Bill Evans (1929/1979) que resultaria o antológico "The Tony Bennett/Bill Evans Album", tão profundo no casamento voz-teclados que teria um repeteco, menos de um ano depois ("Together Again") e inspiraria outros projetos em várias partes do mundo, como o recente (1985) encontro do cantor Pery Ribeiro e o pianista Luiz Eça, num lp (Continental) tão excelente quanto desconhecido. Do cantor que ajudou Bob Hope a divertir as tropas americanas durante a II Guerra e posteriormente foi crooner da banda meio folk de Mitch Miller, ao grande astro dos anos 70, com temporadas nos mais requintados ambientes, Tony, 10 anos menos que Sinatra, mantém um estilo magnífico em suas interpretações. O próprio Francis Albert Sinatra já o recomendou pelo seu estilo de baladista, exaltando o colega igualmente ítalo-americano com elogios febris: - "É cantor que traduz a mente do compositor e um pouco mais. Impressionante a sua capacidade de tornar cada nova balada autobiográfica". Bing Crosby (1903/1973) também deu seu aval a Tony: - "É o melhor cantor que já (ou)vi. Se os primeiros passos foram dados com ajuda da cantora negra Pearl Bailey, no Old Greenwich Village Inn, em fins de 1949, foi Bob Hope quem se tornaria seu padrinho artístico, sugerindo inclusive o nome artístico. E quando trabalhou com a orquestra de Les Brown e com a cantora Marilyn Maswell, "aprendi muito", inclusive a subir e a descer dos palcos." Contratado da CBS por 25 anos, ali fez nada menos que 85 lps e mais de 200 compactos - mais ironicamente, é difícil encontrar qualquer de seus discos no Brasil (talvez, agora a CBS, anime-se a lançar ao menos um álbum). "Because of You" e "Just In Time" foram sucesso, mas o grande estouro aconteceria em 1962, com "I Left My Heart In San Francisco" - música que faria mais pela imagem turística da cidade californiana do que todos os milhões de dólares aplicados pelo seu departamento de turismo. Assim como Sinatra, com "Chicago" e "New York, New York" colocou estas metrópoles no mapa musical do mundo - mas não conseguindo repetir a fórmula, há 3 anos, com "L.A. Is My Lady" - falando de Los Angeles. Ao lado da música, Tony Bennett tem outra paixão: a pintura. Seus quadros já foram expostos em muitas galerias e chegou até a receber o Prêmio Leonardo da Vinci há alguns anos. A propósito de prêmios, há alguns anos, ao receber uma homenagem da Academia Nacional de Música Popular dos Estados Unidos, foi saudado desta forma pelo presidente da instituição: - "Este prêmio é uma homenagem aos compositores que tiveram o privilégio de terem suas músicas engrandecidas por Tony Bennett."
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
10/06/1986

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