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Aramis

O horror que poucos viram

Em julho de 1969, quando o homem, pela primeira vez, pisava na Lua, em Curitiba, no então Cine Marabá (hoje Bristol), uma sessão especial, precedida de um coquetel, apresentava a escolhida platéia - formada especialmente por médicos, psicólogos e educadores, um filme considerado difícil e que havia dado ao seu intérprete produtor o até então (considerado) canastrão. Cliff Robertson, o Oscar de melhor ator de 1968. A inteligente promoção, fez com que "Os 2 Mundos de Charlie" se transformasse num dos maiores sucessos daquele ano - apesar de pela própria temática - as conseqüências, de uma experiência médica sobre um adulto excepcional - o condenassem, aparentemente, a um público restrito. No Rio e São Paulo o lançamento de "Charly" foi ainda mais badalado, com a prórpia presença de Robertson. Oito anos depois, a mesma fórmula poderia ser repetida e fazer de "Embrião", ao invés de um melancólico fracasso - retirado de cartaz após dois magros dias de exibição (segunda e terça-feira, cine Rivoli), um filme capaz de permanecer duas semanas em cartaz. Com uma temática tão fascinante quanto "Os Dois Mundos de Charlie", realizado pelo mesmo diretor (Ralph Nelson) e com um desenvolvimento entre o suspense e o horror, "Embryos" é, no mínimo, um filme que mereceria ser visto tanto pela platéia que aprecia emoções fortes quanto aquela parcela de pessoas que se interessa por filme científicos - já que a ficção, terrível e aterradora proposta no argumento de Jack W. Thomas, pouco tem de irreal como, aliás, adverte o próprio realizador na introdução. Infelizmente, por razões que não nos cabe aqui julgar, "Embrião" foi desperdiçado em seu lançamento e, assim, o público curitibano ficou impedido de conhecer um dos filmes mais fascinantes do ano. Pode-se, até, discordar desta obra de Ralph Nelson, 51 anos, cineasta que tem, com igual competência, freqüentado vários gêneros. Mas, e disto temos certeza, ninguém fica indiferente frente ao horror e imaginação sugerida por este filme que consegue valorizar até o trabalho de um ator como Rock Hudson, 53 anos, 29 de cinema, e que desde "O Segundo Rosto" (Seconds, 1965, de John Frankheimer), não conseguiu um papel tão tão digno. Infelizmente, de nada adianta gastar tempo e espaço falando sobre os possíveis méritos de "Embrião", pois poucos foram os espectadores que, nas frias noites (e tardes ) deste início de semana (dias 16 e 17) se dispuseram a assisti-lo no Rivoli. E, frente às baixíssimas rendas, a Fama o substituiu pela reprise do comercial "De Volta ao Vale das Bonecas". E, lamentavelmente, perde se a chance de se ver um filme imaginário, tecnicamente bem acabado, com uma nervosa trilha sonora (de Gil Mellé) e que, se bem promovido - teria condições de permanecer mais de uma semana em cartaz. Afinal, o horror sempre entusiasma o público. E "Embrião" está entre os filmes mais contemporaneamente desta década. Se, por acaso, for reprisado em algum cinema de bairro - no Ribalta (Bacacheri), por exemplo - não percam! Mesmo que esteja nevando...
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
19/05/1977

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