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Aramis

O livro das bruxas e o otimismo do biscoiteiro

Retornando de viagem às principais cidades do Paraná, na reestruturação de vendas da Editora Record, cuja direção regional assumiu há apenas 90 dias, o experiente Carlos Alberto Tonassi Maia, está entusiasmado com o fato de que em apenas três semanas um livro, que pode ser considerado difícil, escrito em 1686, esteja sendo dos mais procurados entre os best-sellers do verão: "O Martelo das Feiticeiras" (tradução de Paulo Froés, edição Rosa dos Ventos, 528 páginas, Cr$ 5.990,00). Não se trata de uma obra fácil: publicada há exatamente cinco séculos - "Malleus Maleficarum" - seu título em latim (ou "Der Hexemphammer", em sua tradução alemã), é considerada a bíblia da literatura da história da, e contra, a bruxaria - o fenômeno psíquico-místico político-teológico que atingiu o Velho Mundo (e também uma parte do Novo) durante três séculos (do XV ao XVIII) e levou mais de 200 mil pessoas a serem queimadas vivas. Obra de dois eruditos dominicanos alemães - Jacob ou Jacobus Sprenger (1436-1495) e Heinrich Kramer (1430-1505), inquisidores nomeados pelo papa Inocêncio VIII e que deram mostras de sua crueldade atuando em várias regiões da Alemanha, "O Martelo das Feiticeiras" é um "precioso documento sobre o pensamento inquisitorial, suas práticas autoritárias, e, acima de tudo, sua influência no molde de uma cadeia de preconceitos contra a mulher, que ainda hoje encontra ecos", como acentuou Rinaldo Gama ("Veja", 30/01/91), um dos book reviews que se deteve sobre este calhamaço cuja atualidade levou a feroz feminista Rosa Maria Muraro, não só a incluí-lo como um dos 8 primeiros títulos da nova editora - Rosa dos Ventos (ligada a Record), como a escrever a introdução histórica que antecede o prefácio do Dr. Carlos Byingtom. Se os livros de Paulo Coelho estão há meses entre os mais vendidos e, nas últimas semanas, as profecias de Nostradamus se transformaram em best-seller, nada mais natural que nestes tempos de dúvidas e inquietações, um tratado sobre a bruxologia - escrito por dois inquisidores de status universitário na época - não deixa de ser uma obra oportuna - aparecendo pela primeira vez em português. xxx Outro lançamento da Record que também estará entre os mais vendidos é "Você Tem a Força", de Wally "Famous" Amos e Gregory Amos (tradução de Cláudia Gerpe Duarte, 160 páginas). Na linha dos livros "como fiz sucesso na vida" - que transformou Akio Morita e outros bem sucedidos executivos em autores dos mais vendidos - tão bem sucedidos editorialmente quanto foram em seus empreendimentos comerciais, Wally Amos também abre o jogo. O chamado "rei dos biscoitos" nos Estados Unidos - negócio que começou com apenas US$ 25 mil, após ter deixado uma promissora carreira na William Morris Agency (onde trabalhou com astros como Simon & Garfunkel, The Temptations e Dionne Warwick), em parceria com seu filho, Gregory (hoje ele vive no Havaí, gozando as delícias de sua fortuna) em "Você Tem a Força" faz mais reflexões sobre como se pode ser um sucesso (sua autobiografia, propriamente dita, "The Face that Launched a Thousand Chips" ainda está inédita no Brasil). Assim, Amos conta como descobriu aquilo que chama de "força interior" que modificou sua vida, garantindo que qualquer um que se disponha a seguir os seus dez mandamentos pode se tornar tão rico e feliz como ele. Pode haver melhor receita para fazer do livro um sucesso? E quais são os mandamentos do sucesso de Wally? Amor, atitude, auto-estima, compromisso, integridade, oferta, fé, imaginação, palavra e entusiasmo. Self-made man, vindo de uma família pobre de Tallahasse, na Flórida, e hoje dono de um império, que seu filho Gregory administra, Wally "Famous" Amos esbanja otimismo nas páginas do seu livro, com o subtítulo de "Dez Ingredientes Secretos para a Força Interior" e que destaca na capa uma frase-chamariz e Wayne Dyer, outro profissional do otimismo, autor de "Seus Pontos Fracos": "Este livro mudará sua vida". xxx Dentro da tradição que fez da Record hoje a maior editora do Brasil o jovem Sérgio Machado - sucessor de seu pai, Alfredo, fundador da empresa, continua acertando na mosca em termos de lançamentos. Para a ampla faixa que consome ficção, saiu um romance com todos os ingredientes de rápido consumo: "Jade", de Pat Barr (tradução de Ronald Sérgio de Biasi, 648 páginas). Novamente o cenário é o Oriente, e a ação se estende por quatro décadas das mais turbulentas, acompanhando desde a época do Império Celestial às transformações trazidas sobre a família e o puritanismo, até chegar à frivolidade de uma jovem intelectual de Pequim.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
05/02/1991
eu amei este livro achei muito interessante

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