Login do usuário

Aramis

O livro incômodo de ex-pedre emir

Se há uma personalidade polêmica em Curitiba é o psicólogo milton Calluf (o ex-padre Emir Calluf), que, há pelo menos duas décadas, não teme agitar a opinião pública e, especialmente, os circuitos religiosos, com posições corajosas e discutíveis. E mais uma vez Emir Calluf vai à luta, com a edição de "Reflexões Incômodas Sobre o Celibato dos Padres" (Editora Record, 125 páginas, junlho/1984). Desta vez, ao contrário de seus livros anteriores ("Sonhos, Complexos e Personalidades" , "Deus É Como o Amor e a Música")não se trata de uma modesta edição regional, feira às suas expensas. Ao contrário, o editor Alfredo Machado está dando a este livro uma grande importância, haj visto a polêmica que pode despertar. Embora, convenhamos, hoje as questões denunciadas por Calluf em seu livro já não causem o mesmo impacto que provocaram há 10 anos passados. xxx Emir Calluf - ou Milton Calluf, seu nome de batismo e que hoje volta a usar - não chega a dar nomes aos dois em suas colocações. Preferiu divagações em torno de suas idéias com relação a um dos aspectos mais torturosos do cleto - o celibato - e enfocar as suas colocações em forma de pequenos parágrafos, quase versículos - num total de 375 unidades. Para quem acompanha seus artigos na imprensa paranaense - aqui mesmo em O ESTADO - ou seus programas de rádio e televisão, o estilo é família. Homem inteligente, grande preparo intelectual - ex-sacerdote jesuítas, formado em Filosofia, Teologia, letras Clássicas e Psicologia, scholar da Fulbright, na Universidade de Harvard (1972/73), - Calluf é um homem coerente com seus pontos de vista. Tanto é que teve coragem de romper com a Igreja Católica, brigar com cleto secular e casar-se. Hoje, chefe de família, psicólogo e professor, defende intransigentemente suas id;eias - colocando-as em escala nacional como nas páginas deste livro, que nada mais é do que uma síntese daquilo que há anos vem dizendo publicamente. xxx "Reflexões Incômodas Sobre o Celibato dos Padres" não é obra escandalosas ou inédita em suas colocações. Aqui mesmo, em Curitiba, há 12 anos um anônimo sacerdote publico um livro defendendo o direito do casamento aos padres. A obra passou sem maior repercussão, causando até prejuízos ao editor Faruk El Khatib, na época tentando dinamizar a Grafipar, que esperava que tivesse grande repercussão. Não teve. A própria Igreja evitou polemizar e centenas de volumes ficaram nos depósitos da editora. De seu autor - cujo nome não recordamos - não se ouviu mais falar após ter abandonado o habito e assumido um casamento. xxx Na nota de orelha de "Reflexões Incômodas Sobre o Celibato dos Padres" a editora lembra que este livro não é uma narrativa mas uma reflexão. Ao contrário da narrativa, linear, isti é, seqüência de fatos ou idéias sempre novos - como um exército que conquista dia após dia novos territórios - a reflexão é circular: é um cerco ideo-afetivo em torno dum tema, sempre idêntico, cerco que se aperta cada vez mais até não admitir nenhum escape. Poder-se-ia narrar a história do celibato ou estória acerca dele. Emir Calluf preferiu refletir sobre ele, ou seja, cercá-lo de todos os lados - desde o individual até o social, desde o intelectual até o afetivo, desde o corporal até o moral, desde o religiosos até o metafísico - de modo que se previna qualquer argumento em contrário". Os longos anos de vivência com a palavra religiosa e a comunicação, fazem com que Calluf consiga dar aos seus "versiculos" um embalo, um ritmo que conduz o leitor - especialmente aquele que é mais fanatizado por suas posições - a fácil leitura deste livro. Divagando, evitando confrontos diretos, Calluf não explode em "revelações" escabrosas como aparentemente poderia sugerir o título do livro. O máximo que vai é uma pequena colocação, inteligentemente aproveitada pelo editor para chamada na última capa: "mesmo o padre sexualmente experiente - e isto existe, só papa e bispos não querem enxergar... - é péssimo conselheiro. Porque justamente por continuar sendo padre são sempre negativas as experiências dele, são traições à "Vocação", são "pecados mortais", são, quando menos, fraquezas da carne... Mas, para ensinar amor e sexo positivamente a gente precisa tê-los experimentado como valor, como auto-realização, como beleza e glória!" xxx Quando a atriz Leila Diniz morreu no acidente de aviação, ao retornar de um festival de cinema na Austrália, o então padre Calluf, em artigo no hoje de saudosa memória "Diário do Paraná", foi cruel para com a estrela de "Todas As Mulheres do Mundo", chegando ao ponto de classifi-cá-la de prostituta. Este seu radicalismo custou-lhe muitos inimigos e o posicionou sempre num lugar muito difícil dentro da intelligentsia tupiniquim. Entretanto, Calluf não teme o isolamento, a solidão - e, tal como um guerrilheiro, permanece em suas posições - polêmicas, discutíveis mas sinceras.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
13/07/1984

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br