Login do usuário

Aramis

O melhor com Nana O pior com Claudia

Uma das cinco cantoras mais expressivas da música brasileira, Nana Caymmi é, ironicamente, uma das mais desconhecidas junto ao grande público e que ao longo de doze anos de atividades artísticas gravou apenas três elepes. Independente e um pouco rebelde, Nana tem se recusado aos esquemas de consumo e isso a faz uma artista que se orgulha de seu repertório - pequeno mais de altíssimo nível. Afora a sua participação no histórico "Caymmi Visita Tom" ( Elenco, ME -17, 1963), onde solava "Tristeza de Nós Dois" (Durval Ferreira / Bebeto / Maurício Einhorn) e "Inútil Paisagem" ( Jobim / Aloyiveira) e seu lp - solo ( "Nana", Elenco, ME - 25 ,1962) , só 13 anos depois Nana voltaria a gravar levada pelas mãos de Durval Ferreira então diretor artístico da Companhia Industrial de Discos, fazendo um lp ( CID, 8007, 1975), com produção esmeradissima de seu irmão Dori , participação de excelentes instrumentistas - Toninho (guitarra), Novelli (baixo) , Ivan Lins ( piano) e o mano Danilo, na flauta, além de até uma orquestra de cordas sob regência de Peter Daeuslberg. Este disco de Nana teve uma vendagem expressiva e lhe valeu, no ano passado ( embora tenha saído em 75) uma premiação da Associação Paulista de Críticos de Arte. Tudo isso animou a Harry Zuckermann, diretor da CID, a investir num segundo LP de Nana. Novamente com produção e arranjos de Dori Caymmi, participação de Donato e Dori no piano; Nelson Ângelo , Milton Nascimento, Danilo Caymmi e Dori nos violões; Fernando Leporace e Novelli no baixo elétrico; Luis Alves no baixo acústico ; Hélio Delmiro na guitarra; Robertinho , Rubinho e Gege na percussão , trata- se de um dos mais belos discos vocais , que apareceram nestes três primeiros meses. É o exemplo da gravação em que há uma soma da voz perfeita, equilibrada, adulta , com instrumentistas que, por amizade e identificação musical , dão ao vocalista muito mais do que uma simples contribuição profissional. Quem assistiu a apresentação de Milton Nascimento, na semana passada, no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, pode perceber a perfeita harmonia vocal - instrumental num trabalho que deve ser creditado em grande parte aos arranjos de Dori Caymmi. Aqui se repete essa mesma integração, principalmente por ser basicamente o grupo de Milton Nascimento que participa da gravação. Duas músicas são de Milton - "Boca a Boca" (parceria com Fernando Brandt) e "Sacramento" ( parceria com Nelson Angelo). Ivan Lins , hoje liberto da incomoda parceria de Ronaldo Monteiro de Souza. Mostra toda sua sensibilidade em "Mãos de Afeto", letra de Victor Martins , para nós uma das mais belas deste ano. Dory Caymmi, parceria com Paulo César Pinheiro, teve duas músicas gravadas pela mana Nana: "Desenredo" e "Tati, a garota" (esta do filme do Bruno Barreto , produção em 1973) . De outro mano o flautista Danilo, são "Codajas" , parceria com Ronaldo Bastos e uma homenagem a Antônio Carlos Jobim ( Codajas é o nome da rua onde reside Tom) e "Aperta Outro", parceria com sua esposa, Ana Terra. "Branca Dias", de Edu Lobo-Cacaso, da trilha sonora da remontagem de "O Santo Inquérito" de Dias Gomes ( Teatro Theresa Rachel, Rio), "Mãos de Afeto" (Ivan Lins/ Victor Martins) e "Dupla Traição" (Djavan) são outras músicas inéditas incluídas no lp . De regravação apenas três , mas feitas com tanta personalidade que tem o gosto de novidade: "A Dor a Mais" ( Francis Hime/ Vinícius de Moraes), "Pois É" ( Antônio Carlos Jobin / Chico Buarque de Holanda) e a tradicional "Sodade Meu Bem, Sodade" ( Zé do Norte). O lp "Renascer", de Nana Caymmi, está entre os mais importantes do ano - e mostra que não é preciso freqüentar as paradas de sucesso para uma cantora merecer toda a admiração de quem sabe apreciar a melhor MPB. Se Nana Caymmi, apesar da ilustre família a que pertence, tem poucos discos em sua carreira, Claudia, uma belíssima mulher encantadora de bons momentos, embora mais jovem na vida artisticado que Nana Caymmi, tem quase uma dezena de elepes, espalhados pela RGE e Odeon, etiquetas de onde tem atuado neste período . Afastada fonograficamente há quase 4 anos, Claudia reaparece agora pela RCA Victor ( Claudia , Reza, Tambor e Raça", 103.0188, março /77). Um disco decepcionante mesmo aos mais fiéis fãs da cantora, como o jornalista Luís Augusto Xavier, disc - review do "Diário do Paraná" e peronalissimo amigo e admirador de Claudia. Cantora de belíssima voz e muita personalidade , Claudia ficou amarrada a um repertório limitado , a arranjos infelizes e apesar da colaboração de alguns bons instrumentistas , não chega haver momentos de destaque. As canções selecionadas - por quem ? pelo infeliz produtor Osmar Navarro ( um bolerista que já foi cantor) ou por ela própria , não sabemos - estão muito abaixo do nível musical de Claudia , que gravou até uma dispensável versão de "Peter Gunn", de Henry Mancine , tema da série de televisão , intitulada como "Vai Baby". É perder tempo e espaço estender o comentário sobre este lamentável lp de Claudia . O melhor é esperar sua próxima gravação , mas por favor, Claudinha livre - se do produtor Navarro. "O Cavalheiro e os Moinhos " (João Bosco / Aldir Blanc) não ganhou nada em sua voz e a melhor faixa é a composição de Claudinha : "Segunda - feira", em parceria com Vitool Simão. Interrompida por três meses , a série "Ídolos da MPB", da Continental , é reiniciada com um lp em homenagem a Carmélia Alves (Curvello, carioca do bairro do Bangu, 14 de fevereiro de 1923) , uma cantora que já teve uma fase aurea (década de 50) e hoje, embora continue em relativa forma, está meio esquecida. Esteve em Curitiba, nos últimos meses em temporada no Restaurante Mouraria e, posteriormente na inauguração do inferninho Carimbó . O detalhado e caprichado texto de João Luiz Ferreti, que acompanha o lp , como sempre acontece nestas reedições , situa Carmélia Alves em sua época, lembrando a evolução de sua carreira (e lá se vão 37 anos), ao lado de seu marido , o ex-cantor Jimmy Lester ( José Andrade Nascimento Ramos, paulista de Franca) agora apenas seu empresário. Há 4 anos , a RGE lançou um disco de Carmélia Alves, infeliz produção que não fez jus a sua criatividade musical , que podemos sentir na reedição de suas melhores gravações na Continental, quando era a "Rainha do Baião" (o rei era Luiz Gonzaga, com o qual fez um show segunda - feira, no Teatro João Caetano, Rio , reiniciando a série "Seis e Meia") e existiam ainda o príncipe ( Luiz Vieira) e princesinha do Baião ( Claudete Soares) . Antologicas as interpretações de Carmélia Alves a músicas como "Trepa no Coqueiro" (Ari Kerner,1950) , "Sabia na Gaiola" (Hervê Cordovil - Mário Vieira , 1951) , "Cabeça Inchada" ( Hervê Cordovil, 1951), "Esta Noite Sereno"( Herve Cordovil ,1951) , "Maria Joana" ( Luiz Bandeira , 1952) , "Adeus, Maria Fulô " (Humberto Teixeira - Sivuca) e "Baião da Garoa" ( Hervê Cordovil - Luiz Gonzaga, 1954, com a participação do Trio Melodia (7) , as melhores faixas desta reedição da Continental. NOTA (1) O Trio Melodia era formado por Paulo Tapajós (1913) , Nuno Roland (1936 - 1975) e Albertinho Fortuna (1920 - 1976). Com o nome de Trio Melodia reuniam - se exclusivamente para gravações ou apresentações nos programas da Rádio Nacional.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
27
20/03/1977
"Cada cabeça, uma sentença" - bom e velho ditado que explica tudo sobre o comentário acima a respeito do LP de Cláudia de 1977. Tudo é muito relativo. Entre Cláudia e Nana, fico com a Cláudia. Por quê? Questão de gosto musical. Para mim e para muitos, este foi o melhor disco de Cláudia, não desmerecendo Nana Caymmi.

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br